Em meio a um congresso de Direito, um médico aparece para palestrar. Aparentemente, ele achou que falava para estudantes e profissionais de medicina, acostumados a ver sangue, fraturas expostas, tripas, intestinos, em fim, o nosso corpo por dentro. Juristas não são treinados para isto.
Nas faculdades e na prática do direito, tenta-se ver o mundo com base na ficção da ordem absoluta. Tudo está no se belíssimo local. Quem desafia esta ordem é considerado um tumor malígno a ser extirpado ou, no mínimo, um órgão defeituoso a ser corrigido, com base em alguns antibióticos, cheios de efeitos colaterais.
As ações que se pretendem curativas, porém, são feitas sem olhar e sem chegar perto do suposto paciente. São cirurgias feitas, apenas no papel, sem ver o corpo por dentro, sem sentir o odor, sem se aproximar de ossos quebrados. É algo mágico, infantil. Acredita-se que basta falar ou escrever as palavras mágicas e tudo mudou. Abracadabra, sinsalabim, o STF disse, então, é assim!
O médico explicava o procedimento para mudança de sexo e mostrava fotos sem censura: A pele da bolsa escrotal vira vagina, após vários cortes. Um pedaço de um braço vira pênis. A produção de alguns hormônios é inibida. Outros precisam ser fornecidos. Acrescentam-se peitos a uns, retiram-se peitos de outros. A plateia não consegue segurar as expressões de nojo. Arghhhh... Uuuuhhhh... Eca....
Mesmo com náuseas, todos veem o quanto a ciência avançou, para fazer as pessoas viverem bem com os seus corpos e as suas sexualidades. É extremamente doloroso o procedimento, mas é possível. São operações que parecem cenas ficções científicas. O acúmulo de sabe-se lá quantas horas de estudos e pesquisas permitiu este progresso maravilhoso, para fazer pessoas felizes.
Então, o médico diz que há ainda alguns problemas. Evidentemente, uma intervenção tão complexa no corpo humano não deixaria de ter obstáculos. Imaginávamos que tipos de doenças terríveis surgiriam, que decomposições apareceriam. Até que ele passou o slide. No topo da lista dos problemas das pessoas que se submeteram a esta maratona de modificações, após anos de intenso sofrimento e angústia, aparece o seguinte:
IDENTIFICAÇÃO CIVIL.
Subitamente, veio a incontrolável vontade de vomitar.
E a vergonha.
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