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segunda-feira, 1 de abril de 2013

Meia Rebeldia



Um dos maiores problemas para o acesso à cultura são os preços exorbitantes. Chico Buarque fez show em Salvador e os ingressos custavam de R$260,00 a R$320,00. Uma sessão de cinema aos sábados, em um Cinema Multiplex, que possui oito salas, não sai por menos que R$22,00. Um monólogo teatral chamado "7 Contos", estrelado por Luiz Miranda, cujos ingressos valiam originalmente sete reais, hoje poderia mudar o nome para "Sete vezes sete contos e mais um pra arredondar". 

O público consumidor, com razão, reclama que está tudo muito caro. Com os valores cobrados, seria muito dispendioso este tipo de lazer. Assim, fica impossível frequentar teatros, cinemas e shows musicais. Só o que resta é beber, para esquecer dos problemas e rir, mesmo sem motivo. A menos que haja um meio pagar menos, algo como a metade, e, pensando bem... até que há! Chama-se meia-entrada! O único problema é que seria preciso ser estudante ou idoso, para ter direito a ela.

O cidadão de classe média que não preenche os requisitos olha mais uma vez a propaganda do evento e reflete sobre o dinheiro que ele rende aos produtores, artistas e anunciantes. Acha que tem algo muito injusto nisto. Como aceitar uns com tanto e outros com tão pouco? Que sociedade é esta em que uns têm Ferraris e ele não pode ver um filminho com a namorada? Que lei é esta que protege os milionários, ostentadores de riquezas e não lhe permite ouvir Chico? É hora de se rebelar. Vou pagar meia, de qualquer jeito! Nasce, então, uma carteira de estudante falsa.

Não há nada de errado em violar uma norma, já que a desigualdade é flagrante. Sem contar que não existe outra alternativa. É a ganância de uma elite, apoiada ou ignorada pelos péssimos governos, a responsável por esta situação. É inexigível de qualquer pessoa normal que deixe de se divertir, para proteger a riqueza de quem já é rico. Além do mais, há coisas muito mais importantes para a polícia perder tempo perseguindo falsidade de carteirinha.

As instâncias de controle devem estar atentas, isto sim, com aquelas pessoas que olham de soslaio para os frequentadores de meios culturais, com suas carteirinhas falsas. Aqueles mesmos que começam a julgar muito injusto só ganharem um salário mínimo, enquanto o cara da fila do teatro recebe 10,20,30 vezes mais. Os mesmos que perguntam que tipo de sociedade é esta em que uns usam celulares, vestem roupas de marca, compram carros do ano e assistem Ivete Sangalo, enquanto eles não podem pensar em pagar meia entrada no cinema. Nem na quarta-feira! 

Polícia foi feita para os vagabundos que um dia indagaram a legitimidade desta lei, sempre protegendo os riquinhos de classe média, ostentando suas posses, mas que não lhes permite obter aquele tênis do comercial. É para os malandros que decidiram  que é hora de se rebelar e comprar o que queriam, de qualquer jeito. Um grupo de pessoas, cada vez aumentado, pondo em risco toda a sociedade, que culpa a ganância e os maus governos pela solução que encontraram. Afinal de contas, ali nasceu o traficante, ou o ladrão.

Ps: Para fins desse texto, a sua carteirinha de estudante obtida porque você faz curso de inglês, francês ou academia é tão falsa quanto nota de três reais.