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sábado, 30 de outubro de 2010

Minuto de Silêncio




-Dr., eu vim agradecer pelo senhor ter conseguido a minha domiciliar.

- Não precisa agradecer, senhora,só fiz o meu trabalho e quem aceitou o pedido foi o juiz.

-Eu sei, doutor, mas, mesmo assim, eu sou grata. Se um dia for comer uma lambreta, nos Barris, pergunte por mim, que eu tô com uma vendinha, lá. tem Coca-cola, queimado...

-Pode deixar.

-Olhe, doutor, eu sempre encontro outras meninas da cadeia para orar e sempre colocamos o seu nome, na reza.

- Que bom! Então, eu é que agradeço.

-Ontem mesmo, fizemos um minuto de silêncio, pelo senhor.

-Minuto de silêncio????

- É. Foi tão lindo...

- Mas, minuto de silêncio é pra homenagear quem morreu!

-Tem certeza?

- Até onde eu sei, sim.

-Ave Maria! Desculpe, doutor, pelo amor de Deus!

- Não tem problema, pode ficar tranquila.

- É , mas pensando bem, foi até melhor. O senhor já fica com crédito. Se morrer amanhã, já tá garantido.

- Amanhã? Tão rápido, assim?

-Não é isto doutor, por favor...

- Calma. Não se preocupe, estou brincando.

- Ai doutor, desculpe, mas pense bem, é melhor ser vivo e já ter recebido homenagem pela morte que morrer sem saber se alguém vai querer te homenagear.

-É, a senhora tem razão. Só posso ficar feliz.

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Ele sempre esteve certo.

"CNJ libera 3.000 presos. Juiz que soltou 59 foi punido

Reportagens publicadas nesta sexta-feira (29/10) pela Folha tratam da superlotação de presos nas carceragens de distritos policiais na cidade de São Paulo (*) e do mutirão carcerário realizado pelo Conselho Nacional de Justiça em Minas Gerais.

Em entrevista (*), o juiz Livingsthon José Machado, de Minas Gerais, confirma uma situação paradoxal: o TJ-MG participou do mutirão que libertou 3.000 presos no Estado; cinco anos atrás, Machado foi afastado do cargo pelo próprio tribunal, quando soltou 59 presos que cumpriam pena ilegalmente em delegacias superlotadas de Contagem.

"Não há nenhuma diferença quanto aos fundamentos jurídicos nos dois episódios: ilegalidade das prisões ou abuso no uso dessas medidas", afirma o magistrado.

O juiz Danilo Campos, da 5ª Vara Cível de Montes Claros (MG), examinou o processo administrativo que puniu o juiz Levingsthon Machado e diz que encontrou "aberrações".

"Acabou prevalecendo o esdrúxulo fundamento de que o colega teria faltado ao dever de reverência aos desembargadores", diz Campos.

Segundo ele, "os presos estão sendo soltos por intervenção do CNJ e o juiz que os queria soltar continua punido".

Procurado, o CNJ informou que não vai se manifestar sobre o caso, que ainda depende de recurso no Supremo Tribunal Federal. O TJ-MG confirmou que há um processo administrativo contra o juiz Machado, pendente de julgamento, e que não pode se manifestar a respeito."

Retirado do Blog do Fred

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Será que vai?

Do Blog de Salo de Carvalho:

"Descriminalização na Califórnia - Proposta 19

2 de novembro é a data de uma eleição que pode de fato mudar algo sobre políticas de drogas. Diferente do segundo turno no Brasil, onde dois candidatos proibicionistas se enfrentam, o plebiscito que decidirá sobre a aprovação ou não da Proposta 19 na Califórnia pode ter impactos nas políticas de drogas do mundo inteiro. A Proposta 19 (clique aqui) legaliza produção, venda e consumo de maconha para maiores de 21 anos no estado, o que geraria 1,4 bilhão de dólares em impostos.
Segundo pesquisa divulgada no último dia 26 de setembro, 49% das pessoas pretende votar sim, enquanto 42% opta pelo não. No começo de julho o SIM perdia por quatro pontos percentuais.
8 entre 10 entrevistados já tinham ouvido falar da proposta e se mostram interessados no resultado do plebiscito. 60% dos democratas disseram aprovar a 19, contra apenas 27% de republicanos.
Há uma intrigante diferença de gênero também: enquanto no caso dos homens o SIM vence (54% contra 38%), no caso das mulheres há uma vitória do NÃO por dois pontos percentuais (46% contra 44%). Os jovens são os principais apoiadores: na faixa das pessoas com menos de 40 anos o placar é 59% favoráveis ao SIM contra 33% do NÃO; já no caso dos maiores de 65 anos, a oposição a proposta vence (53% a 36%).

What Prop 19 does:
Legalizes marijuana possession of up to one ounce by adults over 21
Lets each county or municipality decide whether to allow cannabis sales and production and if so how much to tax these activities
Generates an estimated $1.4 billion in tax revenue
Saves taxpayers the costs of enforcing the current laws against cannabis and cannabis paraphernalia
Allows cannabis cultivation for personal use on private land of up to 25 square feet with certain restrictions

What Prop 19 does not do:
Does not legalize marijuana for those under 21
Does not allow driving under the influence of marijuana
Does not prohibit employers from drug testing
Does not impose new taxes or quantity restrictions on medical marijuana patients"

Link para o original aqui.



terça-feira, 26 de outubro de 2010

Os três lados.


No processo, o defensor defende, o promotor acusa e o juiz julga.

O defensor não pode ficar com raiva porque o promotor acusa.

O promotor não pode ficar com raiva porque o defensor defende.

O juiz não pode ficar com raiva se o defensor ou o promotor discordam da sua decisão e recorrem.

Se o juiz espera que o defensor colabore com ele, despreza o defensor.

Se o defensor acha que deve colaborar com o juiz, despreza o seu assistido.

Se o juiz espera que o promotor colabore com ele, despreza o promotor.

Nunca os juizes acreditam, de fato, que o defensor colabora com eles, mas é comum acreditarem que o promotor faz isto.

Se o juiz acredita que o promotor colabora com ele, despreza a si mesmo.

Se o juiz finge que acredita que o promotor colabora com ele, despreza a si mesmo, a justiça e a pessoa que está sendo julgada.

Cada um faz a sua função e são funções diferentes. Simples assim, sem mágoas, sem ressentimentos. E é só isto o meu baião, mais nada.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

"O STF já decidiu assim..."

Crítica divertida ao sentimento de poder, acima da Constituição, que marca os usuários das togas e paletós. Não cabe só aos juízes, mas também aos defensores, advogados e promotores que acham que "o STF já decidiu assim..." é o argumento definitivo, que limita suas petções e pareceres.



Vi no blog de Alexandre Morais da Rosa.

domingo, 17 de outubro de 2010

Declaração de Voto ( Por que votarei em Dilma).


Eu tenho várias utopias. Sonho com um mundo sem guerras, sem violência estatal, com pleno respeito aos direitos humanos, sem racismo, com respeito à diversidade sexual, com pleno emprego, sem pobreza, sem desigualdade social, com um direito penal mínimo, sem prisões, com o Bahia campeão do mundo e muitas outras coisas. Sei que talvez, a realização seja impossível. Quero, entretanto, chegar o mais próximo que der.

Estamos no segundo turno da eleição presidencial e é preciso definir em quem votar, já que não optei por nenhum dos vencedores do primeiro turno. Temos de um lado,a candidata do governo e de outro o da oposição, que foi governo nos 08 anos anteriores. Então, para começar a decidir, tenho que pensar no que me desagradou, na última administração e se foi diferente antes.

A primeira coisa que não gostei foram as alianças feitas pelo PT (com Sarney, por exemplo). Mas, pensando bem, foram as mesmas feitas pelo PSDB. Não é, portanto, um critério para votar contra o governo. Depois vieram os casos de corrupção. Mas, eles aconteceram também no governo de FHC (compra de votos para reeleição, privatizações, etc). Outra vez, não é um critério válido. Dizer que o PT foi pior porque pregava a ética e não foi, pra mim, não faz sentido. Desde quando o PSDB assumiu que não era ético? Não gostei também da política criminal, mas não foi semelhante àquela do PSDB. Estes fatos poderiam justificar um voto em Plínio, Zé Maria, etc., mas não em Serra ou Dilma (nem em Marina, porque participou do governo quase até o fim).

Resta, então, ver o que cada um fez, ou parece que fará, e a condução das campanhas. Os números são amplamente favoráveis ao governo de Lula e Dilma, em relação ao governo de FHC e Serra, embora os últimos também tenham seus méritos. É inegável que a pobreza diminuiu nos últimos 08 anos. É nítido também que o desemprego caiu, que se investiu mais em educação, que os militantes de direitos humanos tiveram mais acesso ao poder. O único ponto em que houve uma piora, foi em relação ao Bahia, que penou nesses 08 anos, mas que está se reerguendo.


Em relação à justiça, há um aspecto, extremamente sensível, que melhorou bastante, nos últimos 08 anos: a Defensoria Pública, instituição responsável pela assistência jurídica aos pobres. E posso testemunhar, que isto se deu, mesmo em âmbito estadual, devido à atuação positiva do Ministério da Justiça. Além de ter apoiado menos às Defensorias, Serra ainda tem entre um de seus maiores aliados, justamente o único político que se gaba de ser contra fortalecer a instituição que defende os pobres, não foi eleito e possivelmente ocuparia algum cargo no governo tucano.



Depois de acompanhar a atual campanha, porém, não posso mais ter qualquer dúvida sobre quem votar e nem mesmo cogitar o voto nulo. A campanha de Serra conseguiu fazer a discussão sobre direitos humanos regredir como nunca no Brasil. A imposição da pauta religiosa e a hipocrisia sobre a descriminalização do aborto são de dar nojo. É verdade que Dilma também tem sua parcela de culpa, por não ter coragem de enfrentar as questões. Mas, quem estabeleceu a pauta e insistiu nela foi Serra.

Hoje, como bem disse Elio Gaspari, Serra fez a gente voltar 46 anos, à marcha da família com Deus, de 1964. A sua campanha tem como base a "Tradição, Família e Propriedade". Não é o PSDB neoliberal que está enfrentando Dilma. Antes fosse!. Quem está enfrentando o PT é o antigo PFL, é a antiga Arena, é a antiga UDN. O discurso mais atrasado, oligarca e tradicionalista que parecia estar indo embora, com a hegemonia do PT e do PSDB, está voltando. Escolher Serra, seria escolher o atraso.

Por estas razões, tenho um posicionamento claro. O que me desagradou no governo Lula foi justamente a sua semelhança com o governo FHC. O PT, com Dilma, teve muitos pontos favoráveis, que Serra e o PSDB não tiveram. A campanha de Serra foi a mais mesquinha, retrógrada e inconsenquente que vi, desde a de Collor. Voto em Dilma, não por estar plenamente satisfeito com o atual governo, mas porque a outra opção é pior. Se não tivesse nenhuma razão para votar nela, pela comparação entre os dois governos, ainda assim faria isto porque não quero precisar de um neo-iluminismo, no Brasil. Votar em Dilma, agora, é mostrar que não aceitamos campanhas medievais e que o nível do debate tem que ser outro.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Lançamento. Redesenhando a Execução Penal.

(Antes de ler o post, o livro "Redesenhando a Execução Penal", está disponível aqui.)


Os livros de Direito são quase todos escritos por promotores e juizes. Uns acusam e outros julgam. Há também os escritos por advogados, que às vezes defendem, mas, em regra, só a quem paga. São muito poucos os livros dos Defensores Públicos, que sempre defendem e, quase sempre, quem não pode pagar nada. Isto acontece porque só agora o Estado começou a investir na Defensoria. Ela está crescendo. Na Bahia, já temos o orçamento maior que 10% do que tem o Ministério Público!

Vamos crescendo e produzindo, pensando e seguindo. Assim, surgiu um novo livro, em que se pretende discutir a Execução da Pena com um novo olhar: o de quem defende. Trata-se do "Redesenhando a Execução Penal: a Superação da Lógica dos Benefícios", editado pelo Juspodium/Faculdade Baiana de Direito, que será lançado em seminário com o mesmo nome (dados acima). Foi escrito por 8 Defensores baianos : eu, Daniel Nicory (coordenadores), Alan Roque, Alexandre Alves, Andréa Tourinho, Alexandres Alves, Bethania Ferreira, Firmiane Venâncio e Leonardo Toledo. O prefácio é de Alexandre Morais da Rosa.

Estou bastante orgulhoso do resultado, que coroa a história de luta de todos os autores, nos campos de Direitos Humanos e a Execução Penal. No meu caso, tudo começou no SAJU da UFBA e passou pelo aprendizado com a turma de Itabuna, cidade em que cheguei sem saber para onde ia a Execução da Pena. A idéia de lançar em um seminário, é permitir o diálogo, além da tradicional sessão de autográfos. Depois, lançaremos também no Congresso Nacional dos Defensores Públicos, em Campo Grande.

Convido a todos os amigos que participem. E peço que divulguem! Podem usar o boca a boca, o twitter, o seu blog, o email, o orkut, o facebook, o telefone, a carta, o que for.

abraços

Rafson

domingo, 10 de outubro de 2010

Perderam, Mulheres.


A campanha para o 2º turno mal começou, mas, para as mulheres, parece que acabou. O palhaço Tiririca foi muito criticado porque não trazia propostas e escarnecia do congresso. Mas, o que está acontecendo? Continuam sem exisitir propostas e estão escarnecendo, agora, de vocês.

Os candidatos fazem cálculos e decidem, pragmaticamente, quem podem desagradar e quem não podem. Ou, mais ainda, quem é tão desmobilizado que pode ter suas bandeiras atacadas sem reagir. Mais ou menos assim: "se eu disser que gosto de pagode, posso perder os votos dos roqueiros... vale a pena? vou ganhar mais pagodeiros ou perder mais roqueiros?". Desse modo, ninguém tem coragem de assumir que é a favor da legalização das drogas, pois acha que perderá mais votos que ganhará. Em relação ao casamento gay, há posição dúbia, porque há dúvidas quanto aos efeitos políticos. Os homossexuais já estão equilibrando a queda de braço.

Agora, vejam como vem sendo tratada uma histórica bandeira feminista: a descriminalização do aborto. Foi feito o cálculo e se concluiu que há um desequílibrio total O grupo fraco, desmobilizado é o de vocês, mulheres. Ninguém quer defender o que só interessa a vocês, as únicas que suportam a gravidez indesejada, as que tão frequentemente criam os filhos sozinhas, as únicas, em fim, que podem abortar e que morrem por ter feito isto clandestinamente. Pelo contrário, todos evitam se vincular ao tema ou, no caso de Serra, tentam vinculá-lo à adversária.

É interessante porque PT, PSDB e PV sempre se posicionaram pela descriminalização do aborto. Dilma já falou nisto expressamente e o PT incluiu o tema no PNDH. Serra, quando ministro da Saúde, regulamentou o aborto em casos de violência e disseminou a pílula do dia seguinte. Aliás, o PSDB já apresentou proposta de lei, para a descriminalização. O PV tem isto no seu programa partidário, desde 2005.

Os três partidos diziam isto, porque sabiam, e sabem, que é uma questão de saúde pública. Eles sabiam, e sabem, que a criminalização não impede a prática, só que essa é feita através de métodos precários. Tratar o aborto como crime gera mais morte e não mais vida. Agora, todo mundo fica com o rídiculo e mentiroso discurso de que tem fé em Deus e defende a vida. Isto não tem nada com religião. Quem, por razões de fé, ou de consciência, entender que não deve abortar, manterá o direito de agir segundo os seus dogmas ou princípios.

A campanha de Serra é hipócrita e covarde porque "acusa" Dilma de defender o que ele mesmo e o seu partido defendem. A campanha de Dilma é hipócrita e covarde porque, ao invés de reafirmar sua posição e expor a mesquinharia do rival, tenta negar o óbvio. Em outras palavras, alia-se a Serra no abandono ao discurso feminista. O segundo turno representa um retrocesso, porque faz regredir a termos do século XIII, o debate sobre uma questão complexa e importante.

Quem defende a descriminalização não defende que as mulheres abortem. Apenas admite um fato: elas abortam, mesmo contra a lei. As que têm dinheiro vão para clínicas clandestinas. As que não têm, usam cabos de vassoura ou outros meios primitivos. Já que é assim, vamos permitir que tenham o mínimo de segurança. O único motivo real é a defesa da saúde das mulheres e não um bizarro e irracional desejo de matar criancinhas. Não se prega um estímulo à interrupção da gravidez, mas um desestímulo ao uso de métodos caseiros e perigosos para isto. É por isto que o PT de Dilma, o PSDB de Serra e o PV de Marina sempre fizeram esta defesa.

Mas, se o debate tem sido distorcido, a culpa é de vocês, mulheres, que assistem a tudo caladas. Os "matemáticos" dos partidos estavam certos. Como não se faz ouvir qualquer resposta, abrir mão de vocês não custa nada. Pela primeira vez, pode ser eleita uma mulher para a presidência, mas, e daí? Ela não assume as bandeiras feministas. O adversário não. é melhor neste aspecto Ele, além de também não assumir, ainda teve a iniciativa de trazer a discussão baixa que está aí.

Mulheres, acordem e deem algum sinal de vida. Façam os candidatos saberem que tem gente que cobra a coerência com a posição anterior. Ou, no mínimo, peçam que seja feita um diálogo sério sobre o tema. Pelo menos, participem da conversa e mostrem que saíram da cozinha. Vocês são mulheres do século XXI ou mulheres de Atenas? Como, sendo metade do eleitorado, podem permitir que sejam consideradas insignificantes? Até aqui , está claro que alguém perdeu no segundo turno. E foram vocês.

update: No debate do dia 10 de outubro, na Band, Dilma teve uma postura mais digna. Disse que quando uma mulher vai praticar um aborto, prefere oferecer assistência médica à oferecer a polícia. Serra manteve a contradição com o seu histórico e o do seu partido.




sábado, 9 de outubro de 2010

Tropa de Elite 2 ( Roendo o Osso).


Há alguns anos, um diretor de cinema resolveu fazer um filme sobre a violência que acompanhava a guerra ao tráfico de drogas. Fez uma grande produção, convidou bons atores para todos os papeis, exceto para o principal. Nesse caso, o convite foi enderaçado a um ator simplesmente genial. O resultado foi fantástico. Histórico, eu diria.

Mas, alguma coisa deu errado. O público não saia do cinema questionando a tortura e as mortes. Pelo contrário, saia rindo e repetindo os bordões violentos. Até as músicas que abriam e fechavam o filme, falando da barbárie praticada pelo tráfico e pela polícia, viraram hits. Tocavam em todos os churrascos.

Eu imagino que a satisfação dos artistas não foi completa. Por um lado, ganharam dinheiro e reconhecimento popular e da crítica, o que é sempre bom. Por outro, criaram um estranho herói popular, que tinha o super poder da brutalidade. Mas, nem tudo estava perdido. Havia um jeito de aumentar a parcela de satisfação adquirida e ainda corrigir aquela dorzinha no peito: fazer outro filme, com a mesma qualidade.

Assim, ao que me parece, nasceu Tropa de Elite 2. Se o Capitão Nascimento virou ícone ,vamos usar o seu prestígio. Vamos fazê-lo entender a primeira história e ver se assim algum fã faz o mesmo. Tive a impressão que a construção visava dar um soco no estômago de quem colocou a trilha do filme como toque de celular. E para isto, há uma armadilha.

A história começa como terminou a primeira, cantando "Tropa de elite, osso duro de roer...", e o público se excita. Depois, Capitão Nascimento, fala sobre uma rebelião em uma prisão:"Por mim, deixava eles se matarem". O público ri. Parece que vai ser uma repetição. Mas aí vão surgindo novos personagens: o militante do direitos humanos, o apresentador populista do programa "Mira Geral", o secretário de segurança pública, o governador... e a coisa vai mudando.

Aos poucos, todo mundo deixa de achar engraçado. O próprio (agora) Coronel Nascimento começa a fazer questionamentos sobre se, de fato, está fazendo segurança pública. Ele começa a ver que há outros interesses, na guerra em que luta. Para não deixar dúvidas, diz expressamente as conclusões a que chega. É impressionante a diferença da reação da platéia, em relação ao primeiro filme. Desta vez a platéia sai conversando e não pulando, repetindo frases de efeito.

O inimigo é, e sempre foi, outro. Para ficar, mais claro, só faltou o Wagner Moura dizer "entendeu, agora?". Não sei até que ponto a cultura repressiva está impregnada, mas se alguém ainda sair desse filme, achando bonito "usar o saco", é motivo de preocupação. Vale a pena!

Em tempo, hoje John Lennon faria 70 anos. Acho que ele e o Padilha quiseram dizer mesma coisa.


quinta-feira, 7 de outubro de 2010

O Projeto de Dona Irene ( ou Vida de Sajuano)


Noite de quarta, em 2002. SAJU, porão da Faculdade de Direito UFBA.

-Rafito, você está muito ocupado?
- Não, nada urgente.
- Dê uma força pra Candice. Ela está sozinha, é caloura e chegou uma assistida. Tá muito insegura.

- E aí, Candice? Tem a ficha da triagem? Humm... Alvará para liberação de FGTS? Vamos lá. Você vai ver que o atendimento é muito tranquilo. Não tem mistério.

- Boa noite, Dona Irene? O que está havendo? Algum problema?
- Vários!
- Certo, mas qual te trouxe aqui?
- Estou indignada com a ingratidão desse país!
- Do Brasil?
-Quando o país precisou, eu ajudei com o meu projeto. Agora que preciso, a justiça me trata desse jeito! Total descaso!
- É... a justiça tem vários problemas... mas, o que houve exat...
- Comigo tinha que ser diferente! Eu não sou qualquer uma! Isto é coisa desse Fernando Henrique!
- O presidente?
- Claro! Pensa que me engana? Com essa eleição, pra matar os aposentados?
- O quê?
- Você não sabia? Essa eleição é um plano de Fernando henrique e Bill Clinton, para acabar com os aposentados.

( Candice levanta, sai e não volta.)

- Tem certeza?
- É óbvio que sim, afinal, ele sequer é presidente?
- Não?E quem é?
-Ora, essa! Eu, rapaz!
- Mas, vamos esquecer eles e falar sobre o seu problema de agora.
- Mas, o meu problema de agora é esta vergonha. Olhe, se eu fosse uma pessoa desequilibrada, pegava uma arma e matava todo mundo!

( Os olhos de Rafito procuram as mãos de Dona Irene e não deixam de acompanhá-las. Ele se esforça para não tremer e se pergunta quem poderá lhe defender.)

- Ainda bem que a senhora é equilibrada, Dona Irene. Mas, não tinha um problema de um FGTS? Vamos começar por ele?
- Que FGTS? Isto é uma bobagem! Eu estou preocupada é com o meu projeto! Roubaram o meu projeto!
- Mas, que projeto, Dona Irene?
- Você não conhece o meu projeto?
- Não...
- Você, em uma faculdade de direito, não conhece o meu projeto?

(Rafito faz um exame na memória. Será que tem mesmo um projeto? O olhar de desprezo e desapontamento da assistida pela sua ignorância chegam a machucar.)

- Olha, Dona Irene, eu sou só um estudante. Acho que ainda não vi essa matéria. Deve ser lá no final do curso. O que diz o seu projeto?
- Sei... Fala da Internet.
- Ah! É um site?
-Site? Site? Meu projeto é a própria Internet! Eu inventei a internet! E não querem me pagar nada!
- Você inventou? Não foram os americanos?
-Americanos? Ai,ai...
- Isto deve te deixar doente de raiva, né?
-Claro!
- E a senhora toma algum remédio, pra se acalmar?
- Eu tomo um que o médico passou. Mas, acabou na semana passada e eu ainda não comprei mais.
-Mas, vai comprar?
- Sim, amanhã.
-Então, vamos fazer o seguinte. A senhora vai pra casa descansar, eu estudo o seu projeto e semana que vem, quando tomar os seus remédios a senhora vem. Certo?
- Tudo bem. Mas, como você vai encontrar o meu projeto?
-Eu pesquiso, Dona Irene.
-Não, Fernando Henrique escondeu tudo, mas eu tenho uma cópia.

(Dona Irene, põe na mesa um calhamaço de leis. Em todas as folhas está assinado, de caneta vermelha: Maria Irene, Presidente do Brasil).

-Posso ficar?
-Claro que não! Você tira uma cópia!
-Mas, não tem xerox funcionando agora.
- Então, eu trago uma cópia semana que vem.
- Combinado.
-Olha, percebi que você é um rapaz estudioso, vou te recomendar para o meu filho. Ele é famoso.
-Obrigado, Dona Irene. Quem é ele?
-Ronaldinho.
-O Gaúcho ou o Fenômeno?
-Todos dois. Eram todos mendigos, quando eu peguei pra criar. O Rubinho também.
-Barrichelo?
-Sim, tudo mendigo.
-Fico feliz, Dona Irene. Sou fã dos seus filhos.
- Muito obrigada. Até a semana que vem.

( Rafito suspira, enquanto vê que Dona Irene vai embora. Na semana seguinte, a asistida voltou e não mencionou projetos, presidentes, internet, Ronaldinhos. Só FGTS. Por sorte, ela permaneceu sempre equilibrada. Até hoje, ele quer matar Candice, por deixar a mesa. Os estudantes aprenderam uma lição: sempre tem mistério.)

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

O voto de Seu Roque


Cheguei cedo, para votar, devidamente paramentado. Havainas, bermuda florida e camisa do Bahia. A vestimenta visava evitar uma convocação súbita para substituir algum mesário farrista. Arrisquei com a camisa do esquadrão, confiante no poder de veto das sandalhas. Depois lembrei que, segundo os atores da Globo, nas propagandas, Havainas todo mundo usa, em qualquer ocasião. Eu me sentia informal quando as usava, mas o mundo muda... Aliás, enquanto escrevo, um cara grita, na novela das 8: "Patricinha de Merda!" Merda? Já se usa isto na novela? O mundo está mudando mesmo! Agora já pode matar, roubar, mentir, trair, xingar... só não pode beijo gay.


Primeiro beijo gay da TV brasileira, no horário eleitoral gratuito.

Voltando ao assunto. Para a minha sorte, ou nenhum mesário tava bâbado, ou o pessoal não acreditou na conversa da propaganda. Não esperei nada, para entrar, não tinha fila nenhuma. Na sala, estavam, impacientes, os mesários, um japonês e uma mulher com a filhinha, além de um eleitor na cabine. Estranhei a ansiedade dos presentes, até que uma mulher da mesa disse. "Vai, seu Roque! Aperta qualquer número e confirma...

O Japa reclamou, como pode demorar tanto? É que ele é velhinho e ainda esqueceu a cola, respondeu a mesária. Não sei como ele vai conseguir, mal foi capaz de assinar o nome, completou a colega. Então veio o barulhinho , piririri. " Muito bem, seu Roque! Agora outro número"!

Jaspion falou comigo que esse era o terceiro toque que ele tinha ouvido, ainda deviam faltar uns 5. Não, só 3, eu disse. Não adiantou, inconformado, ele pediu à mesária que ajudasse seu Roque. Ela respondeu que, infelizmente não podia. Não sabe porque, mas não deixam que eles vão lá, nesses casos. Para ela e para o Japa, devia ser permitido que a mesária digitasse os números. Pensei em explicar que havia um grande risco de fraude se isto fosse permitido, além de se possibilitar uma vigilância sobre o voto, que é secreto. Preferi ficar quieto.

Comecei a pensar, no voto de seu Roque. O que ele estaria decidindo, lá na urna? Em quem um velhinho, que tem dificuldades para escrever estaria votando?

Você já deve estar pensando que ele estava fazendo merda (já pode na novela, pode no blog também), afinal, sempre dizem que o pobre não sabe votar. Uma parte dos que sabem fez até a lei do Ficha impa, para evitar que a maioria, que não sabe eleja alguém errado. Outra parte dos que sabem, diz que o pobre só pensa em si e vende seu voto por qualquer bobagem, tipo o bolsa família. Os ricos, imagino, nunca votam em quem aumenta os seus rendimentos.

A corrupção, aliás, só existe porque os ignorantes, como seu Roque, elegem os corruptos, ou os artistas. Os ricos, claro, não fazem isto. Foi assim, por sinal, que os ignorantes italianos, elegeram Berlusconi, os ignorantes americanos elegeram Bush e o exterminador do futuro (sim, o do filme. Você acha que eu vou ter o trabalho de escrever o nome dele? Schwar...eger), há alguns anos, os ignorantes alemaãs elegeram Hitler e há poucos os ignorantes austríacos elegeram um neonazista. Também eram só os pobres que votavam em alguns candidatos de três letras que "roubavam, mas faziam".

Soou o sexto apito. Piririririri. Todos na sala aplaudiram. " Muito bem, seu Roque!" Ele saiu com um grande sorriso sem dentes, segurando as mãos negras acima da cabeça branca, em sinal de triunfo. Tinha razão de estar feliz e orgulhoso. Mesmo sem obrigação, ele foi votar. Mesmo sem a cola, ele votou. Se fez isto, é porque acredita que pode escolher o melhor. Conheço muita gente, que não se acha ignorante, mas odeia ouvir falar em política e prefere ignorar tudo, como se isto resolvesse qualquer problema.

Seu Roque votou certo, pelo simples fato de que votou no que acreditava. Não interessa se ele escolheu um comunista, um social democrata, um ruralista, um nazista, um ecologista, um ator, um jogador, um humorista, um "ficha suja" ou um "ficha limpa". Democracia é respeitar a escolha dos outros (não só isto). Se você achou um absurdo, o Tiririca receber 1.300.000 votos, sinto muito. Acredite, seria muito pior se o seu voto valesse mais que o de qualquer um desta multidão que votou nele.

Parabéns, seu Roque!



sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Dica de Seminário


Destaque para o norte-americano (ou estadunidense, como diz no seu livro) Loic Wacquant, autor de "Punir os Pobres". Mais informações em http://www.ucsal.br/

(Seminário Internacional)
Crise global e desigualdades: dilemas e desafios
Mestrado em Políticas Sociais e Cidadania
Universidade Católica do Salvador
24 a 26 de novembro de 2010

Programação:

Conferência

Reformando o Estado e fragmentando a cidadania no Século XXI - Loïc Wacquant (University of Califórnia- Berkeley/EUA)


Mesas-Redondas

FRONTEIRAS DO SOCIAL: ENTRE O POLÍTICO E O ECONÔMICO
Bruno Lautier (Université de Paris I); Maria Carmelita Yazbek (PUC-SP); Liana Carleial (IPEA); Anete Ivo (UCSal)

REFLETINDO SOBRE AS TENDÊNCIAS DAS POLÍTICAS SOCIAIS CONTEMPORÂNEAS NA AMÉRICA LATINA
Anete Ivo (Coordenação:UCSal); Carmen Midaglia (Universidad de La Republica Uruguaia); Maria Ozanira Silva e Silva (Universidade Federal do Maranhão); Potyara Pereira (UNB); Sonia Alvarez (Universidad de Salta-AR)

Mesas Temáticas

ECONOMIA DAS DROGAS E VIOLÊNCIA
Rute Imanishi (Coordenação: IPEA); Leandro Piquet (USP); Daniel Cerqueira (IPEA); Luis Flávio Sapori (PUC-MG e Instituto Minas Pela Paz)

FORMAÇÃO PROFISSIONAL E GESTÃO DO TRABALHO NA SAÚDE
Coordenação Isabela Cardoso (UFBA/UCSal)
Maurilio Castro de Matos (UERJ) e Alcindo Ferla (UFRGS), Washington Luiz Abreu de Jesus (SESAB); Isabela Cardoso (UFBA/UCSal)

GÊNERO E GERAÇÕES NAS POLÍTICAS SOCIAIS
Cecília Sardenberg (UFBA) Alda Mota (UFBA - a confirmar); Márcia Tavares (UCSal); Josimara Delgado (UCSal)

TRABALHO E PROTEÇÃO SOCIAL: DESAFIOS CONTEMPORÂNEOS
Christian Azais (Université Paris-Dauphine), Rosa Marques (PUC-SP), Graça Druck (UFBA); Ângela Borges (UCSal)

AS METRÓPOLES E A GLOBALIZAÇÃO: IMPACTOS SOCIAIS
Eduardo Paes Machado (UFBA); Nelson Baltrusis (UCSal); Maria do Livramento Clementino (UFRN); Inaiá Carvalho (UCSal)

VIOLÊNCIA, POLÍTICA CRIMINAL E DIREITOS HUMANOS
Francisco Cástex (UBA/AR); Valdirene Daumfemback (CNPCP/MJ); Karyna Sposato (UFBA/UNIT); Megan Comfort (Unversity of Califórnia –S.F); Milton Jordão (CNPCP/MJ)

DEMOCRACIA, PARTICIPAÇÃO E CONTROLE SOCIAL NO CONTEXTO DA CRISE MUNDIAL
Coordenação: Denise Vitale (UFBA/UCSal)
Márcia Biondi (ex-Presidente do Conselho Nacional de Assistência Social), Maria do Carmo Albuquerque (UNIBAN); Denise Vitale (UFBA/UCSal)

SINDICALISMO E TERCEIRIZAÇÃO
Selma Cristina Silva (UFBA); Luiz Carlos Santos Lima (SINDILIMP); Edelamare Melo (MPT/BA)

PACTO FEDERATIVO, DESCENTRALIZAÇÃO E GESTÃO EDUCACIONAL
Carlos Topete Barrera (Instituto Politécnico Nacional, México); Ivan Novaes (UNEB); Maria Couto(UFBA); Kátia Siqueira de Freitas (UCSal)

QUESTÃO DE IDENTIDADES EM POLÍTICAS PÚBLICAS: ALCANCES E LIMITES
Fernando Urrea (Universidad de Cali); Delcele Queiroz (UNEB); Mary Castro (UCSal)

EDUCAÇÃO, SERVIÇO SOCIAL E CIDADANIA
Ney Teixeira (UERJ); Erasto Fortes Mendonça (UNB); Fátima Lepikson (UCSal, a confirmar)


Sessões de Comunicação Temáticas (SCT) -
diariamente das 13:50 às15:50 h

1. Estado e Desenvolvimento social: desafios teóricos e empíricos
2. Trabalho, precarização e heterogeneidade
3. Re-configurações da Política de Assistência Social e acesso à proteção básica e especial
4. Políticas e Gestão da Saúde
5. Democracia, participação e controle social
6. Estudos sobre juventude e subsídios para políticas na América Latina
7. Políticas e práticas na área de educação
8. Violência, política criminal e direitos humanos


Sessão de lançamento/apresentação de livros e revistas - dia 24/11/10, às 18:15 h