
Seis novos escritores, eu, Nicory, Bethania, Andréa, Alexandre e Firmiane embarcamos para Campo Grande-MS, onde aconteceria Congresso Nacional dos Defensores Públicos, com dois objetivos: discutir a Defensoria e distribuir a nossa obra, Redesenhando a Execução Penal. (compras pela Internet aqui) Não puderam seguir jornada Alan, de férias e Léo, que cuidava da mais bela torcedora mirim do Bahia.
Grande parte do grupo viajou no dia 15 de novembro e enfrentou a primeira dificuldade: o avião, que saía às 08:10, estaria atrasado e perderia a conexão. A chegada, prevista para as 12:00 ,só se efetivaria às 18:00. Surgiam dois problemas: o primeiro era almoçar e o segundo era conseguir um argumento, para evitar que um Defensor Cidadão pirracento, que saíria mais tarde e chegaria mais cedo, nos alvejasse com incontáveis chistes maldosos.
Pensamos em um modo de matar dois coelhos, com uma cajadada: um bom almoço de graça. Para efetivar a saída imaginada, precisavamos de duas coisas:
1) Conseguir o almoço de graça;
2) O almoço tinha que ser bom.
O primeiro passo foi alcançado, graças à participação dos colegas, especialistas em Direito Civil, junto à companhia aérea. O segundo, porém, estava complicado. O restaurante indicado pela companhia era bem vagabundo e caro! A comida era ruim e pouca. Tudo parecia perdido, quando surgiu uma nova estratégia. Plano B: "vamos mentir". Assim, combinou-se a versão. A comida a quilo de segunda virou rodízio de comida japonesa, com Chopp liberado. Funcionou com perfeição. Ninguém precisava saber que, na verdade, comemos amendoins.
No dia 17 começariam as palestras e as vendas de livros. Conseguimos 2 horários, o primeiro no mesmo dia, das 17:30 às 19:00hs. Após um reconhecimento da área, vimos que havia um pequeno stand, com 2 mesas, para ser dividido entre os livros de Defensores . Existiam , por outro lado, stands permanentes, mas somente para editoras específicas, fotos e venda de bijuterias.
Assistimos as palestras e fomos à luta. No começo, o movimento estava fraco, mas não desanimamos. Ao contrário, bastou uma pequena provocação à mesa do lado, dizendo que a minha vendia mais e o bicho pegou. A competição foi acirrada e as táticas de atração do público cada vez mais ousadas. Vencer era questão de honra. De um lado, eu, Nicory e Andrea. Do outro, Firmiane, Bethania e Alexandre. Obviamente, a minha mesa vendeu mais, pois eu sou Bahia e não jogo pra perder. Na verdade, todos nós somos Bahia, de modo que todos nascemos para vencer, exceto Bethania, nascida no Rio, que é Fluminense (mas na Bahia, deve ser Bahia, já que é muito inteligente, sensata e não quer ser vice do brasileirão).
No dia seguinte havia outro desafio. A nossa hora e meia coincidiria com a reunião temática da Comissão de Execução Penal, a milhas dali. Não desanimamos. Formulamos a estratégia: dois agentes, eu e Bethania, iriamos divulgar o livro na reunião e depois voltar correndo para o stand. A execução falhou. Bethania esperava que eu ligasse antes de ir e eu não esperava nada. Meu telefone não funcionava. Assim eu fui e ela esperou, esperou, esperou... e fiquei sozinho.
Na volta, conhecemos Geraldo Prado, grande jurista carioca, que levou o livro autografado. Ele tinha prometido nos presentear com uma obra dele, o que não fez. Sacanagem, Geraldinho! De qualquer modo, eu comprei o seu "Em torno da Jurisdição". Afinal de contas, o calote foi pequeno, mas a simpatia do cara era grande e a qualidade do livro extratosférica!
Depois, eu, Alexandre e Bethania escapulimos, para ver algumas palestras. Um comentário me orgulhou muito: "Rafson, Geraldo Prado já leu seu artigo, pois repetiu muita coisa que você defende". Apesar de o palestrante ter recebido o livro apenas alguns minutos antes, preferi acreditar em uma leitura dinâmica, porque... porque sim, pô!
De tarde, novo desafio. Não teriamos mais stands de venda. Após longos debates, chegamos a uma conclusão razoável. Havia um espaço destinado a fotos, porém, nenhum fotógrafo. Nas circusntâncias, era um latifúndio improdutivo. A injustiça social era evidente e nossa consciência democrática nos impeliu à solução: ocupar, produzir e resistir! Invadimos pacificamente o espaço e fincamos nossa bandeira!
As forças repressoras não chegaram. Foi no assentamento que o melhor escritor brasileiro, na área de Processo Penal, Aury Lopes Jr, obteve o seu exemplar. Lá ,ainda contamos com 2 apoios importantes: Gil, o Defensor Cidadão, e a carioca Renata. Os dois abusaram do carisma e convenceram dezenas de pessoas a adquirir o livro. Quando restavam apenas quatro exemplares, fomos para as palestras.
Enquanto Aury falava, eu comentei com Bethania: "Ele já leu o seu artigo, pois está repetindo muita coisa que você defende". A princípio, imaginei que ela repetiria a minha reação: optar por acreditar, apesar de ele ter adquirido o livro minutos antes, porque... porque sim. Acho até que ela fez isto, pois sorriu contente, mas depois de alguns minutos, emendou: "Rafson, a gente tá se achando"!
Durante a palestra vendemos mais 3 livros. Sim, as pessoas nos cutucavam e perguntavam: "ainda tem?". Uma das pessoas que fez isto foi o grande escritor Rodrigo Duque Estrada. Depois, entrei em um stand da Lumen, para adquirir um ótimo livro de Denis Sampaio (que também levou o nosso), A verdade no Processo penal, e passei por outra situação esdruxula. Uma mulher viu o último exemplar na minha mão e entabulou o diálogo:
- Redesenhando a Execução Penal... Que legal! De quem é?
- Meu.
- Hahaha!Não! Eu quero saber de quem é.
- É meu e de mais 7 Defensores.
- Olhe, eu sei que é seu. Quero saber quem é o autor.
Apontei para o meu nome na capa e disse: "Este, pelo menos, sou eu".
Refelexos do não uso de paletó e gravata. Parece que é a roupa que escreve. Ela ainda perguntou se podia comprar no cartão, pois não tinha dinheiro. Quase respondi perguntando: "Ô, moça! A gente teve que fazer uma ocupação pacífica, para conseguir stand e você acha que vamos ter máquina de cartão?" Nem falei, nem ela comprou.
A última venda ocorreu sem que eu visse. Comentamos com Renata que só restava um. Ela disse pra deixar com ela, sumiu e voltou minutos depois com o dinheiro. Resultado: Os 80 exemplares levados foram vendidos, só com a cara (de pau) e a coragem. No final, cada um recebeu 100 reais e minhas costas doíam de andar com a mochila cheia de livros. Os custos foram mais que o dobro. Financeiramente, fomos um fracasso, mas, ideologicamente, um sucesso absoluto.Temos um sonho: ajudar a mudar a barbárie que é a nossa execução penal. Acho que demos um passo.
ps: se deseja comprar o livro, não se desespere, está disponível pela internet, no link que pus lá em cima e, para facilitar pro freguês, repito aqui.
Grande parte do grupo viajou no dia 15 de novembro e enfrentou a primeira dificuldade: o avião, que saía às 08:10, estaria atrasado e perderia a conexão. A chegada, prevista para as 12:00 ,só se efetivaria às 18:00. Surgiam dois problemas: o primeiro era almoçar e o segundo era conseguir um argumento, para evitar que um Defensor Cidadão pirracento, que saíria mais tarde e chegaria mais cedo, nos alvejasse com incontáveis chistes maldosos.
Pensamos em um modo de matar dois coelhos, com uma cajadada: um bom almoço de graça. Para efetivar a saída imaginada, precisavamos de duas coisas:
1) Conseguir o almoço de graça;
2) O almoço tinha que ser bom.
O primeiro passo foi alcançado, graças à participação dos colegas, especialistas em Direito Civil, junto à companhia aérea. O segundo, porém, estava complicado. O restaurante indicado pela companhia era bem vagabundo e caro! A comida era ruim e pouca. Tudo parecia perdido, quando surgiu uma nova estratégia. Plano B: "vamos mentir". Assim, combinou-se a versão. A comida a quilo de segunda virou rodízio de comida japonesa, com Chopp liberado. Funcionou com perfeição. Ninguém precisava saber que, na verdade, comemos amendoins.
No dia 17 começariam as palestras e as vendas de livros. Conseguimos 2 horários, o primeiro no mesmo dia, das 17:30 às 19:00hs. Após um reconhecimento da área, vimos que havia um pequeno stand, com 2 mesas, para ser dividido entre os livros de Defensores . Existiam , por outro lado, stands permanentes, mas somente para editoras específicas, fotos e venda de bijuterias.
Assistimos as palestras e fomos à luta. No começo, o movimento estava fraco, mas não desanimamos. Ao contrário, bastou uma pequena provocação à mesa do lado, dizendo que a minha vendia mais e o bicho pegou. A competição foi acirrada e as táticas de atração do público cada vez mais ousadas. Vencer era questão de honra. De um lado, eu, Nicory e Andrea. Do outro, Firmiane, Bethania e Alexandre. Obviamente, a minha mesa vendeu mais, pois eu sou Bahia e não jogo pra perder. Na verdade, todos nós somos Bahia, de modo que todos nascemos para vencer, exceto Bethania, nascida no Rio, que é Fluminense (mas na Bahia, deve ser Bahia, já que é muito inteligente, sensata e não quer ser vice do brasileirão).
No dia seguinte havia outro desafio. A nossa hora e meia coincidiria com a reunião temática da Comissão de Execução Penal, a milhas dali. Não desanimamos. Formulamos a estratégia: dois agentes, eu e Bethania, iriamos divulgar o livro na reunião e depois voltar correndo para o stand. A execução falhou. Bethania esperava que eu ligasse antes de ir e eu não esperava nada. Meu telefone não funcionava. Assim eu fui e ela esperou, esperou, esperou... e fiquei sozinho.
Na volta, conhecemos Geraldo Prado, grande jurista carioca, que levou o livro autografado. Ele tinha prometido nos presentear com uma obra dele, o que não fez. Sacanagem, Geraldinho! De qualquer modo, eu comprei o seu "Em torno da Jurisdição". Afinal de contas, o calote foi pequeno, mas a simpatia do cara era grande e a qualidade do livro extratosférica!
Depois, eu, Alexandre e Bethania escapulimos, para ver algumas palestras. Um comentário me orgulhou muito: "Rafson, Geraldo Prado já leu seu artigo, pois repetiu muita coisa que você defende". Apesar de o palestrante ter recebido o livro apenas alguns minutos antes, preferi acreditar em uma leitura dinâmica, porque... porque sim, pô!
De tarde, novo desafio. Não teriamos mais stands de venda. Após longos debates, chegamos a uma conclusão razoável. Havia um espaço destinado a fotos, porém, nenhum fotógrafo. Nas circusntâncias, era um latifúndio improdutivo. A injustiça social era evidente e nossa consciência democrática nos impeliu à solução: ocupar, produzir e resistir! Invadimos pacificamente o espaço e fincamos nossa bandeira!
As forças repressoras não chegaram. Foi no assentamento que o melhor escritor brasileiro, na área de Processo Penal, Aury Lopes Jr, obteve o seu exemplar. Lá ,ainda contamos com 2 apoios importantes: Gil, o Defensor Cidadão, e a carioca Renata. Os dois abusaram do carisma e convenceram dezenas de pessoas a adquirir o livro. Quando restavam apenas quatro exemplares, fomos para as palestras.
Enquanto Aury falava, eu comentei com Bethania: "Ele já leu o seu artigo, pois está repetindo muita coisa que você defende". A princípio, imaginei que ela repetiria a minha reação: optar por acreditar, apesar de ele ter adquirido o livro minutos antes, porque... porque sim. Acho até que ela fez isto, pois sorriu contente, mas depois de alguns minutos, emendou: "Rafson, a gente tá se achando"!
Durante a palestra vendemos mais 3 livros. Sim, as pessoas nos cutucavam e perguntavam: "ainda tem?". Uma das pessoas que fez isto foi o grande escritor Rodrigo Duque Estrada. Depois, entrei em um stand da Lumen, para adquirir um ótimo livro de Denis Sampaio (que também levou o nosso), A verdade no Processo penal, e passei por outra situação esdruxula. Uma mulher viu o último exemplar na minha mão e entabulou o diálogo:
- Redesenhando a Execução Penal... Que legal! De quem é?
- Meu.
- Hahaha!Não! Eu quero saber de quem é.
- É meu e de mais 7 Defensores.
- Olhe, eu sei que é seu. Quero saber quem é o autor.
Apontei para o meu nome na capa e disse: "Este, pelo menos, sou eu".
Refelexos do não uso de paletó e gravata. Parece que é a roupa que escreve. Ela ainda perguntou se podia comprar no cartão, pois não tinha dinheiro. Quase respondi perguntando: "Ô, moça! A gente teve que fazer uma ocupação pacífica, para conseguir stand e você acha que vamos ter máquina de cartão?" Nem falei, nem ela comprou.
A última venda ocorreu sem que eu visse. Comentamos com Renata que só restava um. Ela disse pra deixar com ela, sumiu e voltou minutos depois com o dinheiro. Resultado: Os 80 exemplares levados foram vendidos, só com a cara (de pau) e a coragem. No final, cada um recebeu 100 reais e minhas costas doíam de andar com a mochila cheia de livros. Os custos foram mais que o dobro. Financeiramente, fomos um fracasso, mas, ideologicamente, um sucesso absoluto.Temos um sonho: ajudar a mudar a barbárie que é a nossa execução penal. Acho que demos um passo.
ps: se deseja comprar o livro, não se desespere, está disponível pela internet, no link que pus lá em cima e, para facilitar pro freguês, repito aqui.
Dr Rafson,
ResponderExcluirO resultado financeiro nao foi " de todo",
pois afinal pelo menos 50 candidatos a
ingresso na Defensoria BA, dia 5, compraram.
è isto ai, a defensoria ainda vai construir
a ideia de "ainda vale a pena lutar pelo ser".
E o texto acima, hilario, e , bem escrito.
Gostaria de integrar esta turma de grandes
juristas. Mesmo. seguidor Pablo