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sábado, 20 de novembro de 2010

Diário de um novo escritor (ou diário de um sacoleiro)


Seis novos escritores, eu, Nicory, Bethania, Andréa, Alexandre e Firmiane embarcamos para Campo Grande-MS, onde aconteceria Congresso Nacional dos Defensores Públicos, com dois objetivos: discutir a Defensoria e distribuir a nossa obra, Redesenhando a Execução Penal. (compras pela Internet aqui) Não puderam seguir jornada Alan, de férias e Léo, que cuidava da mais bela torcedora mirim do Bahia.

Grande parte do grupo viajou no dia 15 de novembro e enfrentou a primeira dificuldade: o avião, que saía às 08:10, estaria atrasado e perderia a conexão. A chegada, prevista para as 12:00 ,só se efetivaria às 18:00. Surgiam dois problemas: o primeiro era almoçar e o segundo era conseguir um argumento, para evitar que um Defensor Cidadão pirracento, que saíria mais tarde e chegaria mais cedo, nos alvejasse com incontáveis chistes maldosos.

Pensamos em um modo de matar dois coelhos, com uma cajadada: um bom almoço de graça. Para efetivar a saída imaginada, precisavamos de duas coisas:
1) Conseguir o almoço de graça;
2) O almoço tinha que ser bom.

O primeiro passo foi alcançado, graças à participação dos colegas, especialistas em Direito Civil, junto à companhia aérea. O segundo, porém, estava complicado. O restaurante indicado pela companhia era bem vagabundo e caro! A comida era ruim e pouca. Tudo parecia perdido, quando surgiu uma nova estratégia. Plano B: "vamos mentir". Assim, combinou-se a versão. A comida a quilo de segunda virou rodízio de comida japonesa, com Chopp liberado. Funcionou com perfeição. Ninguém precisava saber que, na verdade, comemos amendoins.

No dia 17 começariam as palestras e as vendas de livros. Conseguimos 2 horários, o primeiro no mesmo dia, das 17:30 às 19:00hs. Após um reconhecimento da área, vimos que havia um pequeno stand, com 2 mesas, para ser dividido entre os livros de Defensores . Existiam , por outro lado, stands permanentes, mas somente para editoras específicas, fotos e venda de bijuterias.

Assistimos as palestras e fomos à luta. No começo, o movimento estava fraco, mas não desanimamos. Ao contrário, bastou uma pequena provocação à mesa do lado, dizendo que a minha vendia mais e o bicho pegou. A competição foi acirrada e as táticas de atração do público cada vez mais ousadas. Vencer era questão de honra. De um lado, eu, Nicory e Andrea. Do outro, Firmiane, Bethania e Alexandre. Obviamente, a minha mesa vendeu mais, pois eu sou Bahia e não jogo pra perder. Na verdade, todos nós somos Bahia, de modo que todos nascemos para vencer, exceto Bethania, nascida no Rio, que é Fluminense (mas na Bahia, deve ser Bahia, já que é muito inteligente, sensata e não quer ser vice do brasileirão).

No dia seguinte havia outro desafio. A nossa hora e meia coincidiria com a reunião temática da Comissão de Execução Penal, a milhas dali. Não desanimamos. Formulamos a estratégia: dois agentes, eu e Bethania, iriamos divulgar o livro na reunião e depois voltar correndo para o stand. A execução falhou. Bethania esperava que eu ligasse antes de ir e eu não esperava nada. Meu telefone não funcionava. Assim eu fui e ela esperou, esperou, esperou... e fiquei sozinho.

Na volta, conhecemos Geraldo Prado, grande jurista carioca, que levou o livro autografado. Ele tinha prometido nos presentear com uma obra dele, o que não fez. Sacanagem, Geraldinho! De qualquer modo, eu comprei o seu "Em torno da Jurisdição". Afinal de contas, o calote foi pequeno, mas a simpatia do cara era grande e a qualidade do livro extratosférica!

Depois, eu, Alexandre e Bethania escapulimos, para ver algumas palestras. Um comentário me orgulhou muito: "Rafson, Geraldo Prado já leu seu artigo, pois repetiu muita coisa que você defende". Apesar de o palestrante ter recebido o livro apenas alguns minutos antes, preferi acreditar em uma leitura dinâmica, porque... porque sim, pô!

De tarde, novo desafio. Não teriamos mais stands de venda. Após longos debates, chegamos a uma conclusão razoável. Havia um espaço destinado a fotos, porém, nenhum fotógrafo. Nas circusntâncias, era um latifúndio improdutivo. A injustiça social era evidente e nossa consciência democrática nos impeliu à solução: ocupar, produzir e resistir! Invadimos pacificamente o espaço e fincamos nossa bandeira!

As forças repressoras não chegaram. Foi no assentamento que o melhor escritor brasileiro, na área de Processo Penal, Aury Lopes Jr, obteve o seu exemplar. Lá ,ainda contamos com 2 apoios importantes: Gil, o Defensor Cidadão, e a carioca Renata. Os dois abusaram do carisma e convenceram dezenas de pessoas a adquirir o livro. Quando restavam apenas quatro exemplares, fomos para as palestras.

Enquanto Aury falava, eu comentei com Bethania: "Ele já leu o seu artigo, pois está repetindo muita coisa que você defende". A princípio, imaginei que ela repetiria a minha reação: optar por acreditar, apesar de ele ter adquirido o livro minutos antes, porque... porque sim. Acho até que ela fez isto, pois sorriu contente, mas depois de alguns minutos, emendou: "Rafson, a gente tá se achando"!

Durante a palestra vendemos mais 3 livros. Sim, as pessoas nos cutucavam e perguntavam: "ainda tem?". Uma das pessoas que fez isto foi o grande escritor Rodrigo Duque Estrada. Depois, entrei em um stand da Lumen, para adquirir um ótimo livro de Denis Sampaio (que também levou o nosso), A verdade no Processo penal, e passei por outra situação esdruxula. Uma mulher viu o último exemplar na minha mão e entabulou o diálogo:

- Redesenhando a Execução Penal... Que legal! De quem é?
- Meu.
- Hahaha!Não! Eu quero saber de quem é.
- É meu e de mais 7 Defensores.
- Olhe, eu sei que é seu. Quero saber quem é o autor.

Apontei para o meu nome na capa e disse: "Este, pelo menos, sou eu".

Refelexos do não uso de paletó e gravata. Parece que é a roupa que escreve. Ela ainda perguntou se podia comprar no cartão, pois não tinha dinheiro. Quase respondi perguntando: "Ô, moça! A gente teve que fazer uma ocupação pacífica, para conseguir stand e você acha que vamos ter máquina de cartão?" Nem falei, nem ela comprou.

A última venda ocorreu sem que eu visse. Comentamos com Renata que só restava um. Ela disse pra deixar com ela, sumiu e voltou minutos depois com o dinheiro. Resultado: Os 80 exemplares levados foram vendidos, só com a cara (de pau) e a coragem. No final, cada um recebeu 100 reais e minhas costas doíam de andar com a mochila cheia de livros. Os custos foram mais que o dobro. Financeiramente, fomos um fracasso, mas, ideologicamente, um sucesso absoluto.Temos um sonho: ajudar a mudar a barbárie que é a nossa execução penal. Acho que demos um passo.

ps: se deseja comprar o livro, não se desespere, está disponível pela internet, no link que pus lá em cima e, para facilitar pro freguês, repito aqui.

Um comentário:

  1. Dr Rafson,

    O resultado financeiro nao foi " de todo",
    pois afinal pelo menos 50 candidatos a
    ingresso na Defensoria BA, dia 5, compraram.

    è isto ai, a defensoria ainda vai construir
    a ideia de "ainda vale a pena lutar pelo ser".

    E o texto acima, hilario, e , bem escrito.

    Gostaria de integrar esta turma de grandes
    juristas. Mesmo. seguidor Pablo

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