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domingo, 7 de novembro de 2010

A 11 é minha.



Tinha 16 anos e jogava Handball. Gil, o treinador, me chamou para uma partida do time até 21 anos. Magricelo e humilde, cheguei para o jogo e escolhi, aleatoriamente, meu uniforme. Perguntei aos mais velhos se alguém usava o número que havia apanhado e ninguém disse nada. Me vesti e já começava o aquecimento, quando chegou Léo Tisott, um dos craques do time e um dos meus idolos no esporte. Olhou para mim e disse, educadamente:

- A 11 é minha.

Apelei para os seus bons sentimentos:

- Pô, Tisott! Até o calção tem o número! Eu já vesti tudo, você não pode usar outra camisa?

O técnico não deixou ele responder:

- Rafson, troque o uniforme. Respeite a hierarquia!

Cabisbaixo e humilhado peguei outro número.

No dia seguinte, havia um jogo do campeonato estudantil, mas desta vez era para o povo da minha idade. Eu era o artilheiro do time no campeonato, principalmente porque os dois melhores jogadores daquela faixa etária, Angelo e Ceará, tinham saído da escola. No vestiário, vi um companheiro mais novo, todo pimpão e serelepe, vestido com a 11. Camisa, calção, tudo. Resolvi fazer piada:

- A 11 é minha!
- Mas, Rafson, eu já estou todo vestido.
- É brinc...
- Dê a camisa pra ele! Respeite a hierarquia!

O treinador interrompeu a brincadeira, antes que eu completasse a frase e saiu. Sem reação, terminei usando o número 11 e nunca tive coragem de contar que nem fazia questão dele. A partir de então, adotei a camisa, até em respeito ao pobre que teve que trocar todo o uniforme.

Fui convocado para a seleção baiana e usei o 11. No futebol, assumi a imortal 11 do Missão Percevejo (saiba mais aqui), apesar de jogar como autêntico número 9 ( fenômeno semelhante aconteceu com outro boleiro tão bom quanto eu: aquele baixinho de língua presa, o Romário). Depois, quando defendi o Carrossel da Liberdade, na faculdade de direito, também jogava com a 11. No vôlei, conquistei a 11, na mítica seleção da Copa Zeca (saiba mais aqui, aqui e aqui).

Recebi um duro golpe na minha carreira esportiva, quando o Carrossel da Liberdade acabou e fui convidado a defender a equipe dos Escolhidos de Che. A proposta, feita pelo cartola Sérgio, deu-se nos seguintes termos:

- Rafito, você já é formando e a barriga está crescendo. É um autêntico jogador em fim de carreira. Está na hora de defender times pequenos. Que tal disputar o próximo torneio pelos Escolhidos de Che?

Como era verdade e os caras são gente boa, aceitei. Achei que nem precisaria brigar pela 11. O número preferido de quase todos naquele time vermelho era o 13. Hoje, talvez, o 50 também seja bastante concorrido. Mas, nem foi me dada opção de escolha. Sérgio me entregou a 6, já que eu "jogava pela esquerda". Percebi que realmente estava em declínio. Não consegui sequer manter o número da sorte. E a hierarquia, Sérgio?

Mas, porém, entretanto, todavia e, principalmente, contudo, o mundo da voltas. Quando eu menos esperava, o 11 voltou à minha vida. Desta vez, nem foi preciso uma competição esportiva. O fato é que, na próxima quinta-feira, dia 11, do mês 11, de 2010, o ano que antecede 2011 lançarei, com mais 07 amigos, o livro "Redesenhando a Execução Penal- a superação da lógica dos benefícios", durante o seminário de mesmo nome (Zagallo forçava mais a barra com o 13 e ninguém reclamava!). A obra tem 10 artigos, mas se contarmos com o excepcional prefácio de Alexandre Morais da Rosa, são 11.

As inscrições para o seminário estão sendo feitas na Faculdade Baiana de Direito, em Salvador, e custam R$20,00. O livro custa R$30,00. Quem comprar o livro na hora da inscrição pagará apenas R$40,00. Não perca! Além de conhecer várias teorias sobre a execução das penas e visões diferentes das apresentadas nos programas de TV populistas, você ainda verá em ação o craque da camisa número 11.

Ou o cara de pau da camisa número 11, se preferir.


mais sobre o seminário e sobre o livro aqui , aqui e aqui.


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