A campanha para o 2º turno mal começou, mas, para as mulheres, parece que acabou. O palhaço Tiririca foi muito criticado porque não trazia propostas e escarnecia do congresso. Mas, o que está acontecendo? Continuam sem exisitir propostas e estão escarnecendo, agora, de vocês.
Os candidatos fazem cálculos e decidem, pragmaticamente, quem podem desagradar e quem não podem. Ou, mais ainda, quem é tão desmobilizado que pode ter suas bandeiras atacadas sem reagir. Mais ou menos assim: "se eu disser que gosto de pagode, posso perder os votos dos roqueiros... vale a pena? vou ganhar mais pagodeiros ou perder mais roqueiros?". Desse modo, ninguém tem coragem de assumir que é a favor da legalização das drogas, pois acha que perderá mais votos que ganhará. Em relação ao casamento gay, há posição dúbia, porque há dúvidas quanto aos efeitos políticos. Os homossexuais já estão equilibrando a queda de braço.
Agora, vejam como vem sendo tratada uma histórica bandeira feminista: a descriminalização do aborto. Foi feito o cálculo e se concluiu que há um desequílibrio total O grupo fraco, desmobilizado é o de vocês, mulheres. Ninguém quer defender o que só interessa a vocês, as únicas que suportam a gravidez indesejada, as que tão frequentemente criam os filhos sozinhas, as únicas, em fim, que podem abortar e que morrem por ter feito isto clandestinamente. Pelo contrário, todos evitam se vincular ao tema ou, no caso de Serra, tentam vinculá-lo à adversária.
É interessante porque PT, PSDB e PV sempre se posicionaram pela descriminalização do aborto. Dilma já falou nisto expressamente e o PT incluiu o tema no PNDH. Serra, quando ministro da Saúde, regulamentou o aborto em casos de violência e disseminou a pílula do dia seguinte. Aliás, o PSDB já apresentou proposta de lei, para a descriminalização. O PV tem isto no seu programa partidário, desde 2005.
Os três partidos diziam isto, porque sabiam, e sabem, que é uma questão de saúde pública. Eles sabiam, e sabem, que a criminalização não impede a prática, só que essa é feita através de métodos precários. Tratar o aborto como crime gera mais morte e não mais vida. Agora, todo mundo fica com o rídiculo e mentiroso discurso de que tem fé em Deus e defende a vida. Isto não tem nada com religião. Quem, por razões de fé, ou de consciência, entender que não deve abortar, manterá o direito de agir segundo os seus dogmas ou princípios.
A campanha de Serra é hipócrita e covarde porque "acusa" Dilma de defender o que ele mesmo e o seu partido defendem. A campanha de Dilma é hipócrita e covarde porque, ao invés de reafirmar sua posição e expor a mesquinharia do rival, tenta negar o óbvio. Em outras palavras, alia-se a Serra no abandono ao discurso feminista. O segundo turno representa um retrocesso, porque faz regredir a termos do século XIII, o debate sobre uma questão complexa e importante.
Quem defende a descriminalização não defende que as mulheres abortem. Apenas admite um fato: elas abortam, mesmo contra a lei. As que têm dinheiro vão para clínicas clandestinas. As que não têm, usam cabos de vassoura ou outros meios primitivos. Já que é assim, vamos permitir que tenham o mínimo de segurança. O único motivo real é a defesa da saúde das mulheres e não um bizarro e irracional desejo de matar criancinhas. Não se prega um estímulo à interrupção da gravidez, mas um desestímulo ao uso de métodos caseiros e perigosos para isto. É por isto que o PT de Dilma, o PSDB de Serra e o PV de Marina sempre fizeram esta defesa.
Mas, se o debate tem sido distorcido, a culpa é de vocês, mulheres, que assistem a tudo caladas. Os "matemáticos" dos partidos estavam certos. Como não se faz ouvir qualquer resposta, abrir mão de vocês não custa nada. Pela primeira vez, pode ser eleita uma mulher para a presidência, mas, e daí? Ela não assume as bandeiras feministas. O adversário não. é melhor neste aspecto Ele, além de também não assumir, ainda teve a iniciativa de trazer a discussão baixa que está aí.
Mulheres, acordem e deem algum sinal de vida. Façam os candidatos saberem que tem gente que cobra a coerência com a posição anterior. Ou, no mínimo, peçam que seja feita um diálogo sério sobre o tema. Pelo menos, participem da conversa e mostrem que saíram da cozinha. Vocês são mulheres do século XXI ou mulheres de Atenas? Como, sendo metade do eleitorado, podem permitir que sejam consideradas insignificantes? Até aqui , está claro que alguém perdeu no segundo turno. E foram vocês.
Os candidatos fazem cálculos e decidem, pragmaticamente, quem podem desagradar e quem não podem. Ou, mais ainda, quem é tão desmobilizado que pode ter suas bandeiras atacadas sem reagir. Mais ou menos assim: "se eu disser que gosto de pagode, posso perder os votos dos roqueiros... vale a pena? vou ganhar mais pagodeiros ou perder mais roqueiros?". Desse modo, ninguém tem coragem de assumir que é a favor da legalização das drogas, pois acha que perderá mais votos que ganhará. Em relação ao casamento gay, há posição dúbia, porque há dúvidas quanto aos efeitos políticos. Os homossexuais já estão equilibrando a queda de braço.
Agora, vejam como vem sendo tratada uma histórica bandeira feminista: a descriminalização do aborto. Foi feito o cálculo e se concluiu que há um desequílibrio total O grupo fraco, desmobilizado é o de vocês, mulheres. Ninguém quer defender o que só interessa a vocês, as únicas que suportam a gravidez indesejada, as que tão frequentemente criam os filhos sozinhas, as únicas, em fim, que podem abortar e que morrem por ter feito isto clandestinamente. Pelo contrário, todos evitam se vincular ao tema ou, no caso de Serra, tentam vinculá-lo à adversária.
É interessante porque PT, PSDB e PV sempre se posicionaram pela descriminalização do aborto. Dilma já falou nisto expressamente e o PT incluiu o tema no PNDH. Serra, quando ministro da Saúde, regulamentou o aborto em casos de violência e disseminou a pílula do dia seguinte. Aliás, o PSDB já apresentou proposta de lei, para a descriminalização. O PV tem isto no seu programa partidário, desde 2005.
Os três partidos diziam isto, porque sabiam, e sabem, que é uma questão de saúde pública. Eles sabiam, e sabem, que a criminalização não impede a prática, só que essa é feita através de métodos precários. Tratar o aborto como crime gera mais morte e não mais vida. Agora, todo mundo fica com o rídiculo e mentiroso discurso de que tem fé em Deus e defende a vida. Isto não tem nada com religião. Quem, por razões de fé, ou de consciência, entender que não deve abortar, manterá o direito de agir segundo os seus dogmas ou princípios.
A campanha de Serra é hipócrita e covarde porque "acusa" Dilma de defender o que ele mesmo e o seu partido defendem. A campanha de Dilma é hipócrita e covarde porque, ao invés de reafirmar sua posição e expor a mesquinharia do rival, tenta negar o óbvio. Em outras palavras, alia-se a Serra no abandono ao discurso feminista. O segundo turno representa um retrocesso, porque faz regredir a termos do século XIII, o debate sobre uma questão complexa e importante.
Quem defende a descriminalização não defende que as mulheres abortem. Apenas admite um fato: elas abortam, mesmo contra a lei. As que têm dinheiro vão para clínicas clandestinas. As que não têm, usam cabos de vassoura ou outros meios primitivos. Já que é assim, vamos permitir que tenham o mínimo de segurança. O único motivo real é a defesa da saúde das mulheres e não um bizarro e irracional desejo de matar criancinhas. Não se prega um estímulo à interrupção da gravidez, mas um desestímulo ao uso de métodos caseiros e perigosos para isto. É por isto que o PT de Dilma, o PSDB de Serra e o PV de Marina sempre fizeram esta defesa.
Mas, se o debate tem sido distorcido, a culpa é de vocês, mulheres, que assistem a tudo caladas. Os "matemáticos" dos partidos estavam certos. Como não se faz ouvir qualquer resposta, abrir mão de vocês não custa nada. Pela primeira vez, pode ser eleita uma mulher para a presidência, mas, e daí? Ela não assume as bandeiras feministas. O adversário não. é melhor neste aspecto Ele, além de também não assumir, ainda teve a iniciativa de trazer a discussão baixa que está aí.
Mulheres, acordem e deem algum sinal de vida. Façam os candidatos saberem que tem gente que cobra a coerência com a posição anterior. Ou, no mínimo, peçam que seja feita um diálogo sério sobre o tema. Pelo menos, participem da conversa e mostrem que saíram da cozinha. Vocês são mulheres do século XXI ou mulheres de Atenas? Como, sendo metade do eleitorado, podem permitir que sejam consideradas insignificantes? Até aqui , está claro que alguém perdeu no segundo turno. E foram vocês.
update: No debate do dia 10 de outubro, na Band, Dilma teve uma postura mais digna. Disse que quando uma mulher vai praticar um aborto, prefere oferecer assistência médica à oferecer a polícia. Serra manteve a contradição com o seu histórico e o do seu partido.
Na verdade, o Serra fala sobre a posição dele: contra o aborto, a não ser nos casos previstos em lei.
ResponderExcluirPor mais que o partido tenha apresentado projeto, isso não quer dizer nada: o próprio PT já apresentou diversos projetos de lei que líderes diversos do partido não concordaram. Assim como PP, PMDB, entre outros tantos partidos. Aliás, é bom lembrar que diversas pessoas (inclusive a Heloísa Helena) saíram do PT justo por discordar com decisões da cúpula do partido em votações.
Uma coisa é o que o indivíduo defende, outra é o que o partido propõe.
A Dilma poderia muito bem continuar defendendo o que sempre defendeu, mas decidiu *mudar o que defendia* porque temeu perder votos. E mudou descaradamente.
Isso, ao meu ver, é muito pior: vai que ela se elege e resolve dizer que todos esses projetos e propostas não eram bem assim, e que ela na verdade estava defendendo o direito, porque o cidadão, porque as propostas blablabla... ? Não é por nada, mas para quem fala em fazer governo para "pessoas humanas", não dá para esperar muito.
A única candidata realmente sincera e alinhada com uma linha de pensamento coerente foi deixada de lado, em detrimento às opções de sempre. Talvez seja esse o nosso "mérito": como não estamos preparados para uma pessoa com ideais e ficha limpa, só nos restaram as opções menos piores.
Leonardo