"Jantei triste. Não era a falta do relógio que me pungia, era a imagem do autor do furto, e as reminiscências de criança, e outra vez a comparação, e a conclusão... Desde a sopa, começou a abrir em mim a flor amarela e mórbida do capítulo XXV, e então jantei depressa, para correr à casa de Virgília. Virgília era o presente; eu queria refugiar-me nele, para escapar às opressões do passado, porque o encontro do Quincas Borba, tornara-me aos olhos o passado, não qual fora deveras, mas um passado roto, abjeto, mendigo e gatuno.
Saí de casa, mas era cedo; iria achá-los à mesa. Outra vez pensei no Quincas Borba, e tive então um desejo de tornar ao Passeio Público, a ver se o achava; a idéia de o regenerar surgiu-me como uma forte necessidade. Fui; mas já não o achei. Indaguei do guarda; disse-me que efetivamente esse sujeito ia por ali às vezes.
— A que horas?
— Não tem hora certa.
Não era impossível encontrá-lo noutra ocasião; prometi a mim mesmo lá voltar. A necessidade de o regenerar, de o trazer ao trabalho e ao respeito de sua pessoa enchia-me o coração; eu começava a sentir um bem-estar, uma elevação, uma admiração de mim próprio... Nisto caía a noite; fui ter com Virgília".
Machado de Assis. Memórias Póstumas de Brás Cubas, capítulo LXI. Disponível em http://pt.wikisource.org/wiki/Mem%C3%B3rias_P%C3%B3stumas_de_Br%C3%A1s_Cubas/LXI
Rafson, é provável que você já saiba, até porque existe um artigo do Nicory sobre o autor (http://www.conpedi.org.br/manaus/arquivos/anais/salvador/daniel_nicory_do_prado.pdf), mas, até para os leitores do blog, compartilho a informação de que lá na biblioteca da FDUFBA existem dois livros do Aloísio de Carvalho Filho (ex-professor da Faculdade) que abordam essa relação entre a obra de Machado e o Direito Penal!
ResponderExcluirAbraço!