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sexta-feira, 18 de março de 2011

Mudar o Canal


Em 2009, a Defensoria Pública da Bahia realizou uma Conferência Livre sobre segurança pública, com o objetivo de colher e levar propostas da sociedade civil, para a CONSEG. Após algumas palestras ( inclusive uma minha) e debates em grupos menores, divididos por tema, chegamos à plenária final, de onde seriam extraídos os princípios e diretrizes do encontro. Coube a mim a perigosa honra de presidir a mesa

Em um dado momento, começou uma discussão sobre os programas sensacionalistas de televisão, que contribuiriam para o exagero da sensação de insegurança, para a estigmatização de raças e de classes sociais, além de violarem direitos das pessoas filmadas.

As pessoas queriam saber o que a Defensoria Pública poderia fazer sobre o assunto. Um rapaz pediu que os programas fossem censurados por nós.Eu expliquei que não podiamos, nem queriamos censurar nada, mas que as pessoas interessadas em ingressar com ações indenizatórias poderiam nos procurar. Uma mulher negra, timidamente, levantou a mão. Passei-lhe o microfone, sem imaginar o que viria.

- Doutor, eu queria lembrar que lá embaixo existe uma TV. Concordo que vocês não podem censurar o programa, mas poderiam, pelo menos, mudar de canal.

A Televisão, dentro da Defensoria, onde os assistidos aguardavam o atendimento, exibia justamente um dos piores daqueles programas. Os aplausos foram estrondosos. Pensei no que responder, mas não consegui articular nada. Imaginei como me esconder, como fugir, como sumir, mas nada. Depois de alguns segundos de exitação, em que, mentalmente, xinguei até a última geração de quem ligou aquela TV, consegui dizer que ela tinha razão e aplaudi também. Quem quer criticar, tem também que aceitar a crítica e aprender com ela. Mas, confesso que até hoje, quando lembro, sinto vergonha...

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