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quarta-feira, 30 de março de 2011

Kafka e Santa Catarina

Revista Carta Capital - De direito sagrado a
oportunismo

Extraído de: Espaço Vital  -  28 de Março de 2011
Por Ricardo Carvalho
Detido em flagrante por furto em Joinville, em 2009, A. L. deparou-se comum cenário digno de uma passagem de O Processo, de Franz Kafka, no dia de sua audiência. Estavam presentes o juiz e o promotor, mas não havia advogado. Sem recursos para custear os honorários, teve de aceitar um advogado particular conveniado com a Ordem dos Advogados do Brasil de Santa Catarina (OAB-SC), modelo conhecido como defensoria dativa. O profissional faltou à audiência e, por isso, o juiz João Marcos Buch determinou que o réu respondesse o processo em liberdade. A audiência foi remarcada.

"O réu estava preso há dois meses e tinha o direito de ser julgado naquele dia", explica o juiz. Em Santa Catarina, o caso de A. L. não é exceção. "Além de serem comuns as ausências, já aconteceu de o advogado não arrolar testemunhas e apresentar uma defesa de caráter genérico, quando fica claro que ele nunca conversou com o réu antes. Eu preciso adiar a audiência, o processo se arrasta e o réu, preso, fica numa situação quase kafkiana." De acordo com Buch, cerca de 30% dos processos sob sua apreciação que dependem do modelo dativo apresentam algum tipo de problema de ausência ou insuficiência da defesa.

Especialistas do direito alegam que a defensoria dativa não presta a garantia de ampla e integral assistência judiciária. Santa Catarina é o único estado que ainda não tomou providências para instalar uma Defensoria Pública Estadual, órgão previsto como obrigatório pela Constituição

A principal resistência à Defensoria vem da OAB-SC. A ordem argumenta que a defesa dativa é pulverizada e garante assistência a todos os municípios, com cerca de 7 mil advogados particulares cadastrados no convênio. O presidente estadual da ordem, Paulo Borba, diz tratar-se do melhor modelo de defesa pública do País. "O atendimento é idêntico a ter um advogado privado." 

A diretora de pesquisa do Centro Brasileiro de Estudos e Pesquisas Judiciárias, Maria Tereza Sadek, discorda. "A Defensoria é uma instituição e possui muitas singularidades que a OAB não pode suprir. Há uma forte ação extrajudicial, por exemplo. O convênio apenas designa um corpo de advogados."

Segundo Maria Teresa, a resistência da OAB tem também um viés corporativo."Com o número de bacharéis formados, a defensoria dativa constitui uma garantia, quase uma reserva de mercado."O juiz Buch concorda."Acontece muitas vezes de o defensor dativo recém-egresso da universidade comunicar, após dois ou três anos, que está se desligando do convênio. Sem generalizar, isso acaba deixando aos mais carentes, muitas vezes, um profissional inexperiente".

A remuneração pelo convênio da OAB é feita com base em uma tabela de Unidade de Referência de Honorários (URH). Na maioria dos casos, os honorários variam de 10 (550 reais) a 20 URHs (1,1 mil reais) por processo. "O valor é muito inferior ao que o advogado ganha com clientes particulares. Insisto que não podemos generalizar, mas fica evidente que o advogado dativo, que também tem uma carteira de clientes, vai dar prioridade aos particulares", explica o magistrado Buch. 

Borba afirma que o estado repassa cerca de 1,2 milhão de reais por mês à ordem para o pagamento dos advogados. Do total, a OAB retém 10% a título de indenização por gastos administrativos. Atualmente deputado federal pelo PT, Pedro Uczai encaminhou um pedido de informação ao governo do estado em 2009, quando estava na Assembleia Legislativa. Perguntou qual é o valor repassado anualmente pelo estado à OAB-SC e a quem a ordem presta contas da quantia recebida, inclusive sobre os 10% retidos. "Não recebemos resposta. Nunca vi prestação de contas correta e aberta desse dinheiro público."

Atualmente, tramitam duas Ações Diretas de Inconstitucionalidade no Supremo Tribunal Federal contra a lei estadual que regulamentou a defensoria dativa. 

Não achei o link da matéria na Carta Capital. Vi no blog de Alexandre Morais da Rosa e  copiei do Jus Brasil

Um comentário:

  1. Também não concordo com o convênio da Defensoria Dativa, em razão de que no período dos governantes anteriores ao de Luiz Henrique da Silveira, só alguns advogados dativos é que receberam pagamento repassado à OAB/SC. pelo Governo, a maioria nada recebia porque não aceitava a proposta de devolver 20% do valor que recebiam da Defensoria Dativa.Mesmo durante o governo de Luiz Henrique, nem todos os meses os advogados da Defensoria Dativa, receberam seus honorários. Agora no Governo de Raimundo Colombo, foi pago só em final do mês de Março/2011, uma parcela no valor em torno de R$ 1.130,00, quando na verdade o tual Governador/SC, havia se comprometido a repassar para a OAB/SC, os valores referentes aos três primeiros meses/2011 e que continuaria o repasse dos honorários da Def. Dativa, mensalmente. Sabe-se que vários advogados, só trabalham pela Defensoria Dativa e esperam por esse salário que lhes é devido, como quem espera por um remédio necessário à sua sobrevivência.

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