Translate

sábado, 12 de fevereiro de 2011

É você

  1)


Certa feita, eu defendia um Policial Militar, junto a sua corregedoria, em Itabuna e tive o seguinte diálogo com ele:
- Soldado, você está sendo acusado de ter batido em uns caras e xingado umas mulheres, que foram presas. O que aconteceu, de fato?
- Olhe, Doutor, isto é mentira! Bater, eu bati mesmo, mas xingar nunca! Eu não sou disto, tenho educação!

2)

3) 

Texto extraído do Blog Moqueca de Fatos

Jornalistas costumam ser amigos da sorte. Policiais, não.

Publicado por Alexandre Lyrio e arquivado em Fatos 
Dois dias atrás, a polícia perdeu uma boa oportunidade de ser ovacionada pela população. Não sei, mas acho que os caras vivem brigados com a sorte. Quinta-feira de verão, Porto da Barra lotado, mais ou menos 16h30. Três jovens, dois deles menores, estão em um barco, próximo à praia, com maconha, crack e um revólver.

Um efetivo de uns 15 policiais, entre civis e militares, é designado para a captura do meliantes. Tudo se encaminha para uma operação fácil, tranqüila e bem sucedida. Mas, não. Utilizar a sorte a seu favor não é com a polícia. A totalidade dos banhistas e testemunhas ouvidas pelo CORREIO afirmou que os policiais chegaram atirando da areia. Apontaram para dentro d´água e dispararam pelo menos duas vezes.
Não houve feridos. Se borrando de medo, os acusados se entregaram na hora. Mas a ação não deixou de ser desastrosa por isso. Um ambulante perguntou em voz alta o que a maioria das pessoas se questionou naquele momento. “E se os bandidos reagissem atirando em direção à areia. E se um dos tiros dos policiais atingissem um banhista ou até uma das crianças que tomavam banho de mar?”.

Bom, os tiros não foram a única besteira que a polícia fez em pleno Porto. O que se seguiu, contaram dezenas de banhistas, foi uma sessão de tortura e violência explícita. O traficante e os menores infratores foram chutados, tiveram as cabeças pisadas e foram obrigados a “comer areia”.
Se fazem isso em plena luz do dia, no meio da multidão e na frente de turistas que visitam um dos mais belos balneários do mundo, de que artifícios usam no Bairro da Paz, em Cajazeiras ou na Gamboa?

Quando cheguei, o que vi – e isso ninguém me relatou, vi com os meus próprios olhos – foram os jovens serem estapeados e enforcados por um agente civil de camisa lilás clara, aparentemente um dos que comandava a operação. O mesmo que, quando questionado por uma turista gaúcha sobre os métodos utilizados ali, respondeu gritando: “Então volte para seu estado, sua desgraça”.
Levados os presos, vários militares ainda perderam muito tempo revistando banhistas. Pareciam escolher aleatoriamente. Não sou do MNU, mas todos que sofreram baculejo eram jovens pretos. Coincidência?

Repito: os policiais perderam uma boa oportunidade de saírem aplaudidos do Porto da Barra. Quem sou eu para ensinar padre nosso ao vigário, mas numa ação dentro d´água,  utilizando outro barco, os bandidos seriam facilmente rendidos.
Sem tiros e sem violência, não tenho dúvidas de que seriam ovacionados por baianos, turistas, prostitutas, maconheiros, rastafaris, magrinhos de sunga colorida e tudo quanto é tipo de gente que costuma frequentar aquele pedaço de areia.

Inclusive eu, o repórter Juan Torres, o fotógrafo Robson Mendes e o motorista Ronaldo “Magaiver”. Estávamos no Porto para produzir outra matéria, sobre turistas. O destino quis que chegássemos bem na hora. Registramos quase toda a operação. Resultado: capa exclusiva do jornal de sexta. A prova de que nós, diferente deles, sabemos aproveitar a sorte.

______________________________________________________________

4)  


Qual a relação entre o diálogo, o vídeo e o texto?
O problema não é individual, mas cultural. As mesmas pessoas que criticam os casos isolados que a imprensa flagra ou que acontecem em pontos turísticos, aplaudem as invasões em favelas e idolatram os Capitães Nascimentos.
Os policias não agiram assim porque são malvados. Talvez, sejam, mal treinados. Com certeza, são mal remunerados. Porém, mais que isto, refletem uma cultura de violência e de desprezo ao outro. Eles acham, como a maioria da sociedade, que "bandido bom é bandido morto", "bandido merece apanhar" e "Direitos humanos são para os humanos direitos". Eles acreditam, como a maioria da sociedade que o Direito penal é a solução para o que quer que seja. Eles acreditam, como a maioria da sociedade, que ninguém vai preso neste país.
E quando eu falo em maioria da sociedade, incluo você que defende aumentos de penas, você que defende a redução da maioridade penal e você que defende a guerra ao tráfico. Obviamente, também incluo você que trabalha com o Direito Penal e acha que está "limpando a sociedade". Acredite, os policiais agressores não são tão diferentes de você.

2 comentários:

  1. Muito bom, Rafito. Mas vou te contar... fico muito triste a cada vez q me dou conta como há gente talentosa nessa terra (como vc e Alexandre Lyrio, q conheci pessoalmente por vc, e brilhou nesse texto q narra um episódio tão anômalo), e como cada uma delas vive exposta a essa realidade - em q mtas pessoas parecem cada vez odiar mais ao próximo, procurando, a cada oportunidade como a que tiveram os policiais, humilhar e massacrar o outro.
    Fazer três seres humanos "comerem areia" diante de uma multidão é de um sadismo que choca. E o pior, como deixou claro Alexandre... é só a ponta de um Iceberg de grandeza incalculável.

    Se cuida aê, cara... grande abraço.

    ResponderExcluir

Olá! Vá em frente e comente! Somente não serão aceitas mensagens ofensivas. É um espaço de diálogo e não de agressões.