Houve um tempo em que as mulheres consideradas de família não votavam e nem trabalhavam. Pelo menos, não recebiam para trabalhar. Ficavam lá, nos afazeres domésticos, obedecendo a todas as ordens dos maridos. Não se queixavam nunca. Até porque se tentassem, certamente levariam umas bofetadas. Ou facadas. Ou tiros. Pensando bem, esse tempo não houve. Ainda há! Tirando, óbvio, as proibições absolutas. Hoje, podem trabalhar, desde que ganhando menos, obedecendo o marido, sendo de família e cuidando dos afazeres domésticos. Em geral, os homens que impunham aquelas regras não imaginavam que estavam oprimindo as mulheres. Mas, é certo que estavam. Então, um dia, queimando sutiãs, elas criaram coragem, juntaram forças e começaram a reclamar. Hoje, ainda não mudou muita coisa, mas elas estão tentando, com muita força.
Ai... Antes, tudo parecia mais fácil...
Houve um tempo em que os negros eram escravizados. Sua cor era sinônimo de feiura e xingamento. Diziam deles que não eram gente, mas sim uma espécie de macacos. Entravam pelos fundos e ficavam na cozinha. Seus cabelos eram chamados de ruins. Geralmente, os alvos alvejados pelos alvos não se queixavam. Até porque, quando tentavam, eram espancados, criminalizados e assassinados. Pensando bem, esse tempo negro (ou branco?) não houve. Ainda há, tirando a aceitação formal da escravidão. Em geral, aqueles que impunham as regras não imaginavam que estavam oprimindo os negros, mas estavam. Até que um dia, como se cantassem falando, as vítimas criaram coragem, juntaram forças e começaram a reclamar. Hoje, ainda não mudou muita coisa, mas eles estão tentando, com orgulho.
Ai... antes, tudo parecia mais fácil... ( e claro).
Houve um tempo em que os homossexuais eram brutalmente perseguidos. Eram considerados pecadores, aberrações, vergonhas para a família, para o bairro, para a cidade e para toda a humanidade. Eram obrigados a se esconder dentro de si mesmos e reprimir os seus desejos. Geralmente, não se queixavam. Até porque para se queixar, tinham que assumir sua condição e, apenas por existir, eram também espancados, criminalizados e assassinados. Pensando bem, esse tempo não houve. Ainda há, embora agora falem em cura deles mesmos. Em geral, os héteros que impunham as regras não imaginavam que estavam oprimindo os homossexuais, mas estavam. Então, um dia, as vítimas criaram coragem, juntaram forças e começaram a reclamar. Hoje, ainda não mudou muita coisa, mas eles estão tentando, com alegria e saúde.
Ai... Antes, tudo parecia mais fácil... ( mas cuidado com o "ai". Se ele for acompanhado de um gesto com a munheca, você estará em perigo).
Houve um tempo em que as mulheres, os negros e os homossexuais, além dos nordestinos, dos pobres e das mulheres eram ridicularizados. Todos eram sinônimos de xingamentos: mulherzinha, preto, viado, baiano, paraíba, favelado, miserável, etc. Mulherzinha preta ou nordestino viado, então... As piadas atacam os defeitos, logo, falar neles já era engraçado. Pensava-se que o pior defeito de cada negro era ser negro, de cada nordestino era ser nordestino, de cada homossexual era ser homossexual, de cada pobre era ser pobre e de cada mulher era ser o objeto de dominação do homem.
Geralmente, os comediados não se queixavam. Até porque teriam que se queixar a vida toda e seriam chamados de chatos por isso. Estavam com medo, mais preocupados em conquistar aceitação e, principalmente, em sobreviver, evitando espancamentos, cadeia, bofetadas, estupros e assassinatos. Pensando bem, esse tempo sem graça não houve. Desgraçadamente, ainda há. Em geral, os comediantes e escritores não queriam ofender os oprimidos, mas, ofendiam-nos, mesmo quando adoráveis trapalhões. Então, um dia, as vítimas criaram coragem, juntaram forças e começaram a reclamar. Hoje, ainda não mudou muita coisa, mas eles estão tentando, com inteligência.
Ai... Eu sei... Antes, tudo parecia mais fácil. Mas, com força, orgulho, alegria e inteligência, os tempos mudaram. Somos capazes de entender que nem sempre o mais fácil é certo. Melhor ainda, somos aptos a superar e criar algo mais complexo que o mal banalizado. É verdade que não dá para exigir mudanças drásticas, nem condenar severamente, quem está no ocaso da vida e cresceu em outros tempos. Em tudo há contexto histórico, tudo bem. Sabemos que vocês fizeram coisas lindas também e não vamos deixar de admirá-las. Porém, quem está no auge da forma bem que poderia fazer a gentileza de evoluir. Deixem de preguiça... Afinal, nem crianças se orgulham de sair distribuindo respostas incorretas. Tem mais gente aqui. Viva!