tag:blogger.com,1999:blog-69964405526798455762024-03-14T00:27:25.144-03:00Pensando e Seguindo"O segredo da Verdade é o seguinte: não existem fatos, só existem histórias."Rafson Ximeneshttp://www.blogger.com/profile/13698874956026700016noreply@blogger.comBlogger208125tag:blogger.com,1999:blog-6996440552679845576.post-54945831493079113862015-01-06T18:45:00.002-03:002015-01-06T18:45:18.642-03:00Antes era mais fácil.<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-Xhwqc_71RRY/VKxT5ms3VqI/AAAAAAAAAOk/h2ITx_NA0T0/s1600/didi.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://4.bp.blogspot.com/-Xhwqc_71RRY/VKxT5ms3VqI/AAAAAAAAAOk/h2ITx_NA0T0/s1600/didi.jpg" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Houve um tempo em que as mulheres consideradas de família não votavam e nem trabalhavam. Pelo menos, não recebiam para trabalhar. Ficavam lá, nos afazeres domésticos, obedecendo a todas as ordens dos maridos. Não se queixavam nunca. Até porque se tentassem, certamente levariam umas bofetadas. Ou facadas. Ou tiros. Pensando bem, esse tempo não houve. Ainda há! Tirando, óbvio, as proibições absolutas. Hoje, podem trabalhar, desde que ganhando menos, obedecendo o marido, sendo de família e cuidando dos afazeres domésticos. Em geral, os homens que impunham aquelas regras não imaginavam que estavam oprimindo as mulheres. Mas, é certo que estavam. Então, um dia, queimando sutiãs, elas criaram coragem, juntaram forças e começaram a reclamar. Hoje, ainda não mudou muita coisa, mas elas estão tentando, com muita força. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div>
<div style="text-align: justify;">
Ai... Antes, tudo parecia mais fácil...</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Houve um tempo em que os negros eram escravizados. Sua cor era sinônimo de feiura e xingamento. Diziam deles que não eram gente, mas sim uma espécie de macacos. Entravam pelos fundos e ficavam na cozinha. Seus cabelos eram chamados de ruins. Geralmente, os alvos alvejados pelos alvos não se queixavam. Até porque, quando tentavam, eram espancados, criminalizados e assassinados. Pensando bem, esse tempo negro (ou branco?) não houve. Ainda há, tirando a aceitação formal da escravidão. Em geral, aqueles que impunham as regras não imaginavam que estavam oprimindo os negros, mas estavam. Até que um dia, como se cantassem falando, as vítimas criaram coragem, juntaram forças e começaram a reclamar. Hoje, ainda não mudou muita coisa, mas eles estão tentando, com orgulho. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Ai... antes, tudo parecia mais fácil... ( e claro).</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Houve um tempo em que os homossexuais eram brutalmente perseguidos. Eram considerados pecadores, aberrações, vergonhas para a família, para o bairro, para a cidade e para toda a humanidade. Eram obrigados a se esconder dentro de si mesmos e reprimir os seus desejos. Geralmente, não se queixavam. Até porque para se queixar, tinham que assumir sua condição e, apenas por existir, eram também espancados, criminalizados e assassinados. Pensando bem, esse tempo não houve. Ainda há, embora agora falem em cura deles mesmos. Em geral, os héteros que impunham as regras não imaginavam que estavam oprimindo os homossexuais, mas estavam. Então, um dia, as vítimas criaram coragem, juntaram forças e começaram a reclamar. Hoje, ainda não mudou muita coisa, mas eles estão tentando, com alegria e saúde. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Ai... Antes, tudo parecia mais fácil... ( mas cuidado com o "ai". Se ele for acompanhado de um gesto com a munheca, você estará em perigo). </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Houve um tempo em que as mulheres, os negros e os homossexuais, além dos nordestinos, dos pobres e das mulheres eram ridicularizados. Todos eram sinônimos de xingamentos: mulherzinha, preto, viado, baiano, paraíba, favelado, miserável, etc. Mulherzinha preta ou nordestino viado, então... As piadas atacam os defeitos, logo, falar neles já era engraçado. Pensava-se que o pior defeito de cada negro era ser negro, de cada nordestino era ser nordestino, de cada homossexual era ser homossexual, de cada pobre era ser pobre e de cada mulher era ser o objeto de dominação do homem. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Geralmente, os comediados não se queixavam. Até porque teriam que se queixar a vida toda e seriam chamados de chatos por isso. Estavam com medo, mais preocupados em conquistar aceitação e, principalmente, em sobreviver, evitando espancamentos, cadeia, bofetadas, estupros e assassinatos. Pensando bem, esse tempo sem graça não houve. Desgraçadamente, ainda há. Em geral, os comediantes e escritores não queriam ofender os oprimidos, mas, ofendiam-nos, mesmo quando adoráveis trapalhões. Então, um dia, as vítimas criaram coragem, juntaram forças e começaram a reclamar. Hoje, ainda não mudou muita coisa, mas eles estão tentando, com inteligência. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Ai... Eu sei... Antes, tudo parecia mais fácil. Mas, com força, orgulho, alegria e inteligência, os tempos mudaram. Somos capazes de entender que nem sempre o mais fácil é certo. Melhor ainda, somos aptos a superar e criar algo mais complexo que o mal banalizado. É verdade que não dá para exigir mudanças drásticas, nem condenar severamente, quem está no ocaso da vida e cresceu em outros tempos. Em tudo há contexto histórico, tudo bem. Sabemos que vocês fizeram coisas lindas também e não vamos deixar de admirá-las. Porém, quem está no auge da forma bem que poderia fazer a gentileza de evoluir. Deixem de preguiça... Afinal, nem crianças se orgulham de sair distribuindo respostas incorretas. Tem mais gente aqui. Viva!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
</div>
<iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="344" src="https://www.youtube.com/embed/QeevrFVsbGw" width="459"></iframe>Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/08737019399481701916noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6996440552679845576.post-41958263814558015302014-08-25T06:01:00.002-03:002014-08-25T06:06:42.386-03:00O uso de Presidenta e o uso da Intransigência<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-BxMFsRENbm8/U_pnYXMhYJI/AAAAAAAAAME/rLN7Bhtd9Zg/s1600/Grammatica_da_Lingoa_Portuguesa.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://4.bp.blogspot.com/-BxMFsRENbm8/U_pnYXMhYJI/AAAAAAAAAME/rLN7Bhtd9Zg/s1600/Grammatica_da_Lingoa_Portuguesa.jpg" height="320" width="230" /></a></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
Há cerca
de quatro anos, o Brasil se vê, vez ou outra, discutindo uma questão que parece gramatical. Existe variação de gênero para a palavra
“presidente”? Isto se deve, como todos sabem, à ascensão de
uma mulher ao topo do poder executivo. A autoridade declarou como
gostaria de ser chamada e passou a adotar a forma desejada nos
documentos oficiais. Houve estranhamento imediato e alguns veículos
de comunicação, como o jornal Folha de São Paulo e a revista Veja, declararam
solenemente que se recusavam a respeitar a vontade dela.</div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
A
resistência apareceu sob o argumento de preservação da língua.
Para a linguística, trata-se de evidente bobagem. Todas as línguas
mudam o tempo inteiro, inclusive a nossa, o que não significa perda
de valor. O exemplo mais conhecido é o da transformação de “vossa
mercê”, em você. Mas, eles são inúmeros. Sugiro a leitura, no
original, da Carta de Pero Vaz de Caminha, ou de textos da década de
1950. Não falamos como nossos avós, que não falam como Caminha,
que não falava como os avós dele, que não falavam o latim vulgar,
usado por analfabetos, de onde surgiram o português, o italiano, o
francês e o espanhol. Que pureza é esta que se defende?</div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
Ainda que
a expressão “presidenta” fosse uma novidade, não haveria motivo
para tantas reclamações. Mas, o pior é que não é. Fala-se de
dicionários do século XIX que já a utilizavam. Dois dos livros de
gramática mais respeitados atualmente apontam a correção do termo,
de maneira bastante interessante. Ambos, falando das normas apontam
para o que está além delas. Luiz Antônio Sacconi<a class="sdfootnoteanc" href="https://www.blogger.com/blogger.g?blogID=6996440552679845576#sdfootnote1sym" name="sdfootnote1anc"><sup>1</sup></a>,
tratando das principais dúvidas sobre gênero, escreve o seguinte.</div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<i>“ À
esposa de um presidente se dá o nome de primeira-dama. E ao marido
de uma <b>presidenta</b> ou de uma
primeira-ministra, que nome dar?</i></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<i><br /></i></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<i>A
língua não previu a situação em que um homem esteja na situação
de marido de <b>presidenta</b>,
primeira-ministra, governadora ou prefeita; daí porque não existe o
termo masculino correspondente”.</i></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
Evanildo
Bechara<a class="sdfootnoteanc" href="https://www.blogger.com/blogger.g?blogID=6996440552679845576#sdfootnote2sym" name="sdfootnote2anc"><sup>2</sup></a>,
por sua vez, antes de
apontar a palavra presidente como exemplo de termo variável, discorre sobre o gênero das
profissões femininas.</div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<i>“ A
presença, cada vez mais justamente acentuada, da mulher nas
atividades profissionais que até bem pouco eram exclusivas ou quase
exclusivas do homem tem exigido que as línguas - não só o
português- adaptem o seu sistema gramatical a estas novas
realidades”</i></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
Os
dois livros citados, ambos com mais de 30 edições, indicam a razão
fundamental do uso de “presidenta”. Trata-se de postura política
para evidenciar o fato de que as mulheres estão vencendo séculos de
opressão e assumindo postos antes inacessíveis. A opção pelo
termo não é um mero capricho e muito menos autoritarismo. É uma
tomada de posição. Não produz efeito apenas em relação à atual
mandatária, mas a todas as mulheres. O termo presidente é tão notadamente relacionado ao masculino que não há heterônimo masculino para primeira-dama. Por isto, presidenta faz sentido e "presidento" não.</div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
Assim,
tendo em vista que a linguística não se opõe às modificações da
língua, gramáticos respeitadíssimos não se opõem ao uso do termo
e ele possui valor para a afirmação da emancipação feminina, se
recusar a utilizar “presidenta” é, também, uma posição
política. Não se trata, portanto, de gramática. Esta postura requer a tomada de algumas decisões, que envolvem
ignorância em relação à linguística e à gramática, desrespeito à pessoa e
insensibilidade às mulheres.
</div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
A
ignorância em relação à linguística se encontra na obsessão pela imutabilidade. Sobre a gramática, está no desconhecimento sobre os debates e, logo, sobre as possibilidades de escolha. O desrespeito à
pessoa ocorre quando alguém pede para ser chamado por um entre dois
termos possíveis, que não possui nenhum teor ofensivo, mas opta-se,
deliberadamente, por contrariá-la. A insensibilidade às mulheres
acontece quando se fecha os olhos para a sua difícil
luta por afirmação e decide-se atacá-la. A raiva contra o uso de "presidenta" transparece a colocação da birra
contra uma pessoa, ou contra um partido, acima de tudo isto. É fácil ver onde está o uso da intransigência. </div>
<div id="sdfootnote2">
</div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div id="sdfootnote1">
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<a class="sdfootnotesym" href="https://www.blogger.com/blogger.g?blogID=6996440552679845576#sdfootnote1anc" name="sdfootnote1sym">1</a>
SACCONI, Luiz Antônio. <b>Nossa gramática completa: teoria
e prática</b>. 31 ed. São Paulo:
Nova Geração, 2011.</div>
</div>
<br />
<div id="sdfootnote2">
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<a class="sdfootnotesym" href="https://www.blogger.com/blogger.g?blogID=6996440552679845576#sdfootnote2anc" name="sdfootnote2sym">2</a>
BECHARA, Evanildo. Moderna Gramática Portuguesa. 37. ed. Rio de
Janeiro: Nova Fronteira,2009.<br />
<br /></div>
</div>
<iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="344" src="//www.youtube.com/embed/04y507DisuE" width="459"></iframe>Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/08737019399481701916noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-6996440552679845576.post-89371239383397609002014-07-24T17:00:00.000-03:002014-07-24T17:00:02.999-03:00Gritos e Harmonia.<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-rFwwDF08je0/U9FjhpnReKI/AAAAAAAAALo/9v-DClrb3u4/s1600/silenciamento.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://3.bp.blogspot.com/-rFwwDF08je0/U9FjhpnReKI/AAAAAAAAALo/9v-DClrb3u4/s1600/silenciamento.jpg" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O Brasil sempre teve índios. Em um certo tempo, passou a ter brancos. Depois, foram trazidos os pretos. Como o sangue é quente e a carne é fraca, aconteceram misturas, afinal, sempre houve homens e mulheres. Mas, também existiram sempre pessoas que gostavam do mesmo sexo, que gostavam do sexo oposto e que gostavam de qualquer sexo. Desde o início, havia pessoas com mais ou menos riquezas, mais ou menos poder. Logicamente, depois da chegada dos brancos isto aumentou. Todos sempre conviveram e ninguém discorda. Algo, porém, tem mudado.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Especialmente, desde o século passado, a cada dia, mais negros e índios reclamam de racismo. Mais mulheres reclamam de machismo. Mais homossexuais reclamam de homofobia. Mais pobres reclamam da desigualdade social. Além disto, alguns brancos apoiam as outras cores, alguns homens apoiam o outro gênero, alguns heterossexuais apoiam as outras orientações e alguns ricos apoiam a outra classe. Tem gente incomodada. Afirmam que quem está reclama está dividindo o país, jogando brasileiros contra brasileiros. É uma conclusão possível, desde que se acredite que antes das queixas, todos não apenas conviviam, mas, conviviam em harmonia.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
A relação entre as coisas, a consciência delas e as palavras é complexa. É possível carregar por anos uma enfermidade sem saber da sua existência. Apenas depois de ter consciência dela, seremos capazes de nomeá-la e, principalmente, enfrentá-la. A nossa ignorância em relação à bactéria não ajudava a resolver o problema e nem evitava a morte que viria, mas evitava a angústia de encarar os fatos.Talvez, estejamos passando por isto. Quem nunca teve sensibilidade para enxergar o racismo, o machismo, a homofobia e as desigualdades está assustado por lhe apontarem a existência do mal, ou pior, por lhe apontarem como parte do mal.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
A Copa do Mundo realizada no país, pode ilustrar essas condições. Os interessados em aproveitar o evento para namorar gringas sonhavam com as holandesas e não com as marfinenses ou as paraguaias. Apenas homens, aliás, podiam contar aos pais que desejavam conquistar o máximo de estrangeiras. Se mulheres dissessem o mesmo, haveria crise familiar. As ofensas cantadas nos estádios quase sempre envolviam o bumbum do alvo. Chamar alguém de heterossexual é xingamento? Quanto às classes, nem precisa dizer quem podia comprar ingressos.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Brancos sempre foram os belos. Pretos e índios sempre foram os presos, os agredidos e os mortos. Homens conquistam, mulheres são pegas, ou agredidas e mortas. Heterossexuais se orgulham, homossexuais se escondem para não serem agredidos ou mortos. Ricos vão para a Copa ver jogos, pobres vão para a Copa trabalhar, ou são presos, agredidos e mortos. Tudo está tão entranhado na nossa cultura, sendo transmitido de pai para filho há tantas gerações, que consegue parecer invisível. Esta capacidade só as torna as diferenças ainda mais cruéis. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Reconhecer os próprios preconceitos e as consequências deles é o primeiro passo para enfrentá-los. Mas, não basta. É preciso combatê-los. Lutar contra o racismo, o machismo, a homofobia, a exploração não dividem nada. Nunca existiu harmonia nenhuma. O que houve foram séculos de silêncio e silenciamento. Caso fingir que as chagas não existem resolvesse algo, não haveria mais qualquer uma delas. Silêncio e silenciamento nunca contribuíram para evitar qualquer discriminação, mas apenas para encobrir o sangue que corria. Calar incentiva a conservação das diferenças. Gritar é o único modo de acabar com elas.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="344" src="//www.youtube.com/embed/kpuiD2S7jQY" width="459"></iframe>Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/08737019399481701916noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6996440552679845576.post-53758326877657221392014-07-06T16:38:00.002-03:002014-07-09T11:14:12.798-03:00A Visão do Urubu sobre a Copa do Boi.<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-jaPnpYtI9P8/U7mhZxlv-PI/AAAAAAAAALE/g7_AWcyDyhI/s1600/charge-laerte-copa.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://4.bp.blogspot.com/-jaPnpYtI9P8/U7mhZxlv-PI/AAAAAAAAALE/g7_AWcyDyhI/s1600/charge-laerte-copa.jpg" height="163" width="320" /></a></div>
<br />
<div style="text-align: justify;">
É um absurdo o Brasil sediar a Copa! Não temos a mínima condição de realizar esse evento. O Brasil não tem educação, nem saúde. Vamos passar vergonha! Aposto que não construirão os estádios. Os aeroportos vão ser um caos, os turistas serão assaltados, estuprados, assassinados e estuprados de novo, durante os engarrafamentos. Será um fiasco. O que vão pensar de nós quando perceberem como os brasileiros são ignorantes, incivilizados! Que país é esse? Que país é esse? A gente somos inútil!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Bando de vagabundos, parem de fechar as ruas! Tem que prender todo mundo. Por isto, sou a favor da pena de morte. Direitos humanos é para humanos direitos. Acabem com essa cracolândia! Ditadura gayzista! Racismo contra os brancos! Esses comunistas são responsáveis por esta anarquia! Mas, o Jabor mudou de ideia... Sem partidos! Sem partidos! O gigante acordou! Não são só vinte centavos! Vem pra rua! Vem pra rua! Fora corruptos! Tá de vermelho, tá de vermelho! Sai que agora é a gente! Fifa comunista! Não pode ter copa! É uma vergonha. Bando de ignorantes! Hipócritas! Fora médicos cubanos! Escravos! Escravos!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Oba! A Fifa começou a vender ingressos para a Copa! O preço está bom. Só vai ter gente bonita! Consegui todos os jogos! Setor Vip! Ei, Dilma, vá tomar no c...! Ei, Dilma, vai tomar no c...! Esses terroristas estão acabando com o Brasil! Já estou com vergonha! O caos deve ter começado. Pelo menos será o fim dela. Finalmente, o mundo inteiro, que foi enganado por tanto tempo por aquele analfabeto de quatro dedos, prestando-lhe inúmeras homenagens, saberá a verdade sobre a porcaria de país que esses bolivarianos deixaram. Uuuuuuu, hino do Chile! Uuuuuuuu!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Tá, a Copa pode até estar boazinha. Os aeroportos funcionaram, a mobilidade urbana e a segurança também estavam ok, mas os governantes não têm qualquer mérito. Para começar, tudo bem que sediamos o evento, mas até a África do Sul fez isto antes. Perdemos para os africanos! Os africanos! Houve uma grande coincidência astrológica na conjuntura internacional que favoreceu o Brasil. As luas de saturno fizeram ângulo de 65 graus com plutão, de modo que tudo conspirava a favor do sucesso dos jogos. Essa quadrilha vive conspirando com Cuba, mas, com um governo sério de verdade, o evento seria muito, mas muito melhor! Sem comparação!<br />
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Vocês só enganam os miseráveis sem educação. Para mim, podemos chamar este período vermelho de "A Copa Perdida". Aliás, não me venham com essa história de serem os pais da Copa. Todas as pessoas bem informadas sabem que ela já existia na era do Príncipe. O Operário, como sempre, ludibriou o povo, roubou o projeto do outro, mudou o nome e ficou com todos os méritos. Acordem, pesquisem e, principalmente, vejam! Vejam! A Copa, nos bons tempos, chamava-se Mundial de Clubes da Fifa. Em 2000, com primor de organização, foi vencida pelo Corinthians de Gilmar Fubá, após o empate sem gols contra o Vasco de Odvan. No Maracanã!<br />
<br />
O que acontece em campo não tem nada com política! Até parece que se faz gol por decreto... Hipócritas! Querem se aproveitar do que os atletas fazem! Vai começar. Bernard no lugar de Neymar. Um a zero pra eles, Dois! Três! Ei, Dilma, vá tomar no c...! Ei, Dilma, vá tomar no c...! Bora Alemanha! Seis! É Hexa!Esta derrota é o reflexo de um país sem educação e sem saúde! Brasil de m... ! Nem comprar a Copa sabe... Ainda bem que tem eleições em outubro! Cadê aquele monte de montagem sobre ela que eu guardei? Vou voltar a falar de Copa no facebook, hoje! Eba! Quase um mês calado... Que esse jogo sirva para o povo, finalmente, aprender a votar. Fora comunismo no Brasil! A culpa é toda deles! Não falei que esses vermelhos não prestam? Olha que vexame! Hahahahaha! Tudo exatamente como eu previ.<br />
<br />
Moral da História: "O urubu tá com raiva do boi e eu já sei que ele tem razão. É que o urubu tá querendo comer, mas o boi não quer morrer, não tem alimentação".</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="270" src="//www.youtube.com/embed/PUVy_cUktSc" width="480"></iframe>Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/08737019399481701916noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6996440552679845576.post-83667658987859247632014-06-27T19:02:00.002-03:002014-06-27T19:02:32.720-03:00Coelhos, Hienas e Lobos. As mordidas do caso Suárez.<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-BL8T6duyyJI/U63nJrdfTqI/AAAAAAAAAK0/RV-h3YGqGcM/s1600/hiena.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://2.bp.blogspot.com/-BL8T6duyyJI/U63nJrdfTqI/AAAAAAAAAK0/RV-h3YGqGcM/s1600/hiena.jpg" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O conhecimento não se resume aos livros, ou às instituições formais de ensino. Ao contrário, cada aspecto da vida apresenta infinitos motes para reflexões. Manifestações artísticas, por exemplo, são extremamente frutíferas para a criminologia. Possibilitam aos seus autores grande dose de liberdade de expressão e uma posição de poder que garante certa imunidade. Enquanto um preso, ou ex-preso, comum precisa interpretar um papel de arrependido, ao falar publicamente da sua versão sobre um crime, um músico pode, abertamente, explicar porque, na sua ótica, um delito seria justificável. No futebol, acontece algo semelhante e o uruguaio Luiz Suárez é um personagem especialmente rico.</div>
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<br /></div>
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Luizito, como é chamado por sua torcida, enfrentava a forte equipe da Itália, quando, de repente, levou o rosto ao ombro de um oponente e, para espanto geral, o mordeu. Logo a seguir, jogou-se no chão e levou as mãos aos dentes, simulando uma pancada ma boca. O juiz não viu nada e ele ficou em campo até o fim do jogo. Mas, todas as câmeras de televisão viram. O anti-herói foi julgado e, muito rapidamente, condenado à suspensão por 09 partidas e o afastamento por 04 meses de qualquer atividade relacionada ao futebol, inclusive no seu clube. Ele não pode sequer entrar em estádios de futebol. Perdeu a credencial da FIFA e está proibido de continuar com os companheiros de equipe.</div>
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O processo e a pena dividiram opiniões. Evidentemente, não faltam aqueles que consideraram tudo correto. Algumas pessoas, entretanto, protestam contra o modo de julgar, em que a possibilidade de defesa foi muito escassa, a sessão de deliberação secreta, não se sabe se havia a separação entre acusador e julgador, nem quais os fundamentos para chegar à decisão. Certamente, como a prova da "acusação" eram vídeos, poderia ser útil à defesa analisar as imagens na frente dos julgadores. Seria o momento de discutir se as imagens comprovam realmente o ato, ou a sua intensidade. Aparentemente, a decisão estava tomada, não importando o que fosse feito para ajudar o jogador, especialmente, por não ser a primeira vez que um adversário é apresentado à arcada dentária do artilheiro celeste, punido duas vezes pela mesma razão (no campeonato holandês e no campeonato inglês). </div>
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Há ainda quem reclame da pena excessiva. 09 jogos é o maior afastamento da história das Copas, enquanto a mordida certamente não chega nem perto de ser a mais danosa agressão cometida. Lembremos que, em 1994, o brasileiro Leonardo provocou fraturas no rosto de Tab Ramos, dos Estados Unidos, com uma cotovelada, mas foi suspenso por apenas 04 jogos. O italiano deve ter se tratado com merthiolate e band-aids. O americano precisou ser operado. Alguns jornalistas, antes da decisão, achavam que Suarez merecia um jogo de suspensão. A maioria, contudo, entendeu ser razoável que ele ficasse fora da Copa. </div>
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O que mais chama atenção, entretanto, é o "banimento" por 04 meses de qualquer estádio, com a proibição de continuar acompanhando à sua equipe. Até mesmo a vítima considerou exagerado. É inegável a semelhança, logo notada por juristas, com a teoria do Direito Penal do Inimigo. Como Suarez era reincidente na infração, a FIFA entende que ele teria renegado as regras da "sociedade futebolística" e, por consequência, deveria perder o status de "cidadão". Assim, além de ter sido julgado por métodos contestáveis, ele foi excluído da comunidade. Virou uma espécie de "pária", até o final da pena.</div>
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Há, no entanto, um aspecto sobre esta parcela da punição que pode ter sido mais decisiva que a influência de Jakobs: a vontade de humilhar, de "dar o exemplo". Um dos julgadores declarou que era preciso que a sanção fosse rigorosa, senão, o futebol morreria. Como se vê, há uma grande dose de histeria na sentença. À pena rigorosa é atribuído o condão de salvar o mundo de calamidades e tragédias iminentes. Novamente, o futebol nos traz de volta à forma como a justiça é encarada também fora dele, com a habitual crença em monstros e deuses imaginários. O esporte reproduziu o pânico e a mania de grandeza com que a questão das penas é abordada diariamente.</div>
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O fato é que nunca houve uma onda de dentadas, que ameaçasse o esporte. Fora o uruguaio, é possível que tenha havido somente um mordedor recente: o atacante Emerson Sheik do Corinthians, na final da libertadores. O brasileiro não foi punido e não houve nenhuma campanha por punição. Ao contrário, ele foi elogiado pela esperteza. Mesmo com a sanção severa, é difícil imaginar que as trapaças no esporte deixem de ser elogiadas ou toleradas, quando dão certo. É assim que funciona aqui fora, quando os sonegadores de impostos, pedem a prisão de quem furta. Os consumidores e vendedores de álcool clamam pelo aumento de pena para tráfico de drogas. Aliás, o risco que a venda de maconha oferece à saúde pública pode ser comparado ao risco que uma mordida oferece ao futebol. No primeiro caso, todavia, não há vítimas, pois a compra é voluntária.</div>
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Na guerra contra os terríveis inimigos de fantasia, exigimos tratamento cruel e impiedoso. O preso não pode ver televisão, não pode receber comida dos parentes, não pode ter um mínimo de conforto. Tudo é considerado regalia. Tem que vestir farda, baixar a cabeça, varrer o chão e sofrer. Nesse contexto, Suárez não poderia ficar apenas fora da Copa. Para satisfazer a sanha por uma espécie torta e medieval de justiça, exige-se a humilhação. Era necessário a retirada da credencial, o impedimento de almoçar e saída, chorando, da concentração. É assim que os que se acham bons e puros distribuem sua pureza e sua bondade. Um coelho pode até morder, mas se for apanhado, logo conhecerá a fome das hienas e até mesmo dos lobos. </div>
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<iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="270" src="//www.youtube.com/embed/otLGfunUuBI" width="480"></iframe>
<iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="344" src="//www.youtube.com/embed/0HYkGhKrksg" width="459"></iframe>Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/08737019399481701916noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6996440552679845576.post-58602988008407564652014-04-28T20:42:00.001-03:002014-04-28T20:42:50.531-03:00Muito Além de Fotos com Bananas<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-GIXIkJqq_g8/U17bc5Q_PhI/AAAAAAAAAKE/25w7XYlBfSA/s1600/bananapodre.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://3.bp.blogspot.com/-GIXIkJqq_g8/U17bc5Q_PhI/AAAAAAAAAKE/25w7XYlBfSA/s1600/bananapodre.jpg" /></a></div>
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Uma das mais intrigantes formulações de Freud foi o conceito de feridas narcísicas. Lembrando o antigo mito de um homem apaixonado pela própria imagem, o pai da psicanálise conta que a humanidade se comporta da mesma forma. Três eventos machucaram fatalmente esta auto idolatração: a percepção de que a terra (e consequentemente o homem) não era o centro do universo; a consciência de que muitas decisões que tomamos seriam inconscientes, de modo que não controlamos nem a nós mesmos; e, finalmente, a elaboração da teoria da evolução, provando que não somos a imagem e semelhança de Deus, mas que viemos de seres menos evoluídos, especialmente do macaco.</div>
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Por muitos séculos, os africanos foram escravizados em todo o mundo. Em busca de legitimação moral desta prática repugnante e lucrativa, pediu-se auxílio à Igreja. Os clérigos tranquilizaram os vendedores, compradores e exploradores de escravos, asseverando que os negros não teriam alma. Não tinham alma, logo não eram gente. Dizia-se que pessoas de pele preta andavam como os brancos, tinham dois braços, duas pernas e até certa inteligência, mas não eram homens. Eram animais, talvez os mais espertos da natureza, exatamente como os chimpanzés. Conceitos espirituais e biológicos se cruzaram, para concluir que os negros, na teoria da evolução, estavam em um patamar inferior. É dentro desta história que se deve analisar cada piada associando negros a macacos.</div>
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Na Espanha, durante um jogo de futebol, o baiano Daniel Alves se preparava para cobrar um escanteio, quando arremessaram uma banana perto dele. Segundo o jogador, ele sempre ouve pessoas imitando sons símios, onde joga há onze anos. Em um ato inesperado, abaixou-se, apanhou a fruta, jogou sua casca fora e a colocou toda na boca. Ainda mastigava quando chutou a bola. Rapidamente, a imagem correu o mundo e todos elogiaram a coragem e criatividade do atleta. De fato, sua ironia foi uma ótima resposta para cada racista que pratica atos semelhantes. Com o gesto dizia que poderia comer bananas, tranquilamente, sem que isto o colocasse em condição de inferioridade. Afinal de contas, justificou, bananas previnem câimbras.</div>
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Pouco depois, teve início uma campanha que virou febre. Pessoas postavam na internet fotos com bananas e cartazes dizendo que "somos todos macacos", em apoio a Daniel. Começou com Neymar, companheiro de equipe e alvo frequente das mesmas ofensas, mas que disse não se considerar negro (fato que não depõe contra ele, mas sim contra a suposta democracia racial que alardeiam por aqui). Depois, vieram artistas de televisão, como Luciano Huck, Angélica e chegou até ao colunista de direita Reinaldo Azevedo. Em comum, entre as pessoas que se destacavam nessa corrente estava o fato de jamais terem se manifestado veementemente contra as violências cotidianas contra os negros. Alguns deles, ao contrário, sempre tentaram relativizá-las e retirar-lhes o conteúdo racial.</div>
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A frase escolhida acaba distorcendo o gesto do jogador, por ignorar todo o passado e toda a carga semântica da comparação de pessoas que eram consideradas seres quase humanos evolutivamente inferiores e macacos. Luciano Huck nunca precisou explicar porque não usava o elevador de serviço. Ninguém diria que Angélica não tem cara de médica. Reinaldo Azevedo não será parado na maioria das blitzes que enfrentar. Para eles ser chamado de macaco significaria que são engraçados ou espertos. Para os negros significa que são inferiores. Bem mais inteligente foi o texto usado por Ivete Sangalo, "dê uma banana ao racismo", ou a frase do Ministério Público Federal, "somos todos humanos".</div>
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Caso alguém te chame de feio, você esperará que te defendam dizendo que você é bonito e não que todos também são horríveis. Quando chamam negros de macacos, deve-se responder que eles não são inferiores. Dizer que todos são macacos é recolocar o alvo do racismo no mesmo lugar do século XIX, porém, dizendo para ele deixar isto para lá. Não adianta dizer que todos temos a mesma origem biológica. É preciso reafirmar a condição humana de todos e não negá-la. Infelizmente, a repercussão da reação ao gesto racista parece apenas fingir que o racismo não existe. Talvez existam mais feridas que tentamos ocultar, além das explicitadas por Freud.</div>
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Seria bom ver os recentes adeptos ao combate contra a discriminação, lutando de verdade contra essa praga. Que tal combater a seletividade penal? Que tal deixar de fazer beicinho contra as cotas? Que tal parar de falar em cabelo "ruim"? Que tal não ironizar a eleição de Lupita como a mulher mais bonita do mundo? Que tal trocar a hastag da moda pela muito mais significativa #somostodosquilomboriodosmacacos? Fazer algo contra o problema passa por reconhecer que ele existe e combatê-lo em cada fresta que ocupa, mesmo quando não arremessa frutas. Se queremos ser Daniel Alves comendo a banana, não devemos deixar que ela o engula. Precisamos, sim, vomitá-la de volta, na cara dos ignorantes. Somos todos Daniel Alves, mas nenhum de nós, nem ele, é macaco.</div>
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<iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="344" src="//www.youtube.com/embed/XoKmp9Ooywk" width="459"></iframe>Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/08737019399481701916noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6996440552679845576.post-65689380251387275802014-03-18T19:49:00.003-03:002014-03-18T19:49:47.878-03:00Abri a Porta.<div style="text-align: justify;">
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<a href="http://3.bp.blogspot.com/-UeLNVrsgLyU/UyjK17OguyI/AAAAAAAAAJQ/S7u17dAotyg/s1600/liberdade.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://3.bp.blogspot.com/-UeLNVrsgLyU/UyjK17OguyI/AAAAAAAAAJQ/S7u17dAotyg/s1600/liberdade.jpg" /></a></div>
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Há sete anos, sou defensor público. Quando falava na carreira que gostaria de seguir, costumava sentir estranhamento e até menosprezo. O Estado pagava relativamente pouco e a profissão era considerada a mais trabalhosa e mais desprestigiada do meio jurídico. Alguns não escondiam outra causa de repulsa: trabalhava com os pobres. "O povo fede", foi uma frase que ouvi. Mais de uma vez.</div>
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Passei no concurso, mas não recebi o prêmio imediatamente. Ao lado de outros que fizeram a mesma opção e para quem a Defensoria não era um "concurso meio", precisei virar freguês da assembleia legislativa, das secretarias estaduais, dos programas de rádio e televisão. Sem pressão, não conseguiríamos ser nomeados. Certa feita, furamos até a segurança do governador, para entregá-lo um manifesto. Nunca vi os aprovados em outros concursos jurídicos passando pelo mesmo sofrimento. Tive inveja. Queria que vissem que eu era tão bom quanto eles.</div>
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Tomei posse e logo ouvi que, para ser tratado como eles, eu teria que ser igual a eles. Vista-se igual. Compre um carro igual, ainda que precise financiar em mil parcelas. Vá para os mesmos lugares. Exija ter tudo o que eles têm. Durante um certo tempo, fiz isto. Usava minha carteira funcional, para ser respeitado. Entrei no cinema, sem pagar, dizendo que se eles tinham gratuidade, eu também possuía o mesmo direito. Estava quase chegando ao ponto de ir ao estádio na tribuna de honra, porque descobri que assim eles faziam. Até que acordei.</div>
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Olhei para mim mesmo e senti nojo. Não foi para me tornar alguém assim que enfrentei tantos obstáculos. Eu estava fazendo a luta errada. Era só mais um porco na revolução dos bichos. Não quero sentar no alto. Quero que eles desçam e fiquem no mesmo plano que todos. Não quero ser doutor. Quero que eles sejam você, assim como eu. Não quero prioridade na fila. Quero filas menores. Não quero ir para a Tribuna de Honra. Quero sentar junto com o povo e sentir que faço parte dele. </div>
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Não faço questão do seu cafezinho. Não preciso entrar pela sua porta. Tenho pena de quem tem tanto medo e insegurança que precisa criar portas cada vez mais exclusivas para se sentir melhor. Não tenho qualquer admiração por esse respeito arrancado à força, com autoritarismo. Não vale nada ser considerado bom, apenas porque se tem poder, ou se está perto do poder. A admiração que eu anseio conquistar é a decorrente de ajudar as pessoas a abrirem as portas que vêem sempre fechadas. O respeito que preciso é que respeitem quem eu defendo. </div>
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Texto em homenagem a todos os que compreendem o que é Defensoria Pública e, especialmente, aos Defensores Públicos que trabalham no Fórum de Caucaia-CE.<br />
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<iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="270" src="//www.youtube.com/embed/uPeLjU1v_S0" width="480"></iframe>Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/08737019399481701916noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-6996440552679845576.post-31803067496391169372014-03-09T09:15:00.000-03:002014-03-09T09:15:14.589-03:00Dia da Mulher: A Crítica do Elogio.<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-h1rmOa_j0FU/UxxRST0ZIXI/AAAAAAAAAIs/hMqec98G4w0/s1600/womans+liberation.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://4.bp.blogspot.com/-h1rmOa_j0FU/UxxRST0ZIXI/AAAAAAAAAIs/hMqec98G4w0/s1600/womans+liberation.jpg" /></a></div>
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É difícil ver elogios às mulheres que não toquem de alguma forma no aspecto estético. Não é suficiente que elas sejam inteligentes ou que defendam causas importantes. Nenhuma homenagem parece completa se não vem acompanhada de odes à beleza, ou referências à vaidade física. As críticas também caminham na mesma direção: feiura, falta de maquiagem, roupa mal escolhida ou repetida. Tudo isto se não houver a referência explícita à frustração sexual, através da famosa expressão objetificadora: "mal amada".</div>
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O tradicional apresentador do Jornal Nacional anunciara que, no dia 08 de março, aquela bancada estaria mais bonita, pois seria apresentada apenas por mulheres. No dia anterior, um colunista da mesma rede de comunicações publicou a informação de que a Presidenta da República havia repetido a mesma blusa. Uma editora brasileira anunciou uma promoção especial, "para o sexo feminino finalmente gostar" de um livro que compila leis: ele viria com capa de oncinha. Uma imagem que circulou nas redes sociais enumerava problemas enfrentados por elas e concluía triunfal que elas "ainda arrumam tempo para ficarem lindas".</div>
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Homenagens e críticas dessa espécie revelam desconhecimento ou descrença em relação à emancipação feminina, que vem sendo a cada dia conquistada. Não conseguir finalizar uma série de elogios sem chegar na beleza é não compreender que a mulher é mais que um corpo. Para a mulher gostar de verdade de um livro, ele precisa ter conteúdo e não capa. Elas não são necessariamente fúteis, assim como os homens também não são. As jornalistas apresentaram o jornal nacional porque são boas jornalistas, ou porque a emissora teve que ceder à pressão e dar espaço a elas, mas não porque são mais bonitas que Bonner.</div>
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Justifica-se a existência de um dia da mulher pela violência que elas sofrem, pelo tratamento salarial desigual e pelas leis patriarcais. A data reafirma a sua imprescindibilidade pelas próprias manifestações atabalhoadas que gera. Em movimento circular, ao pedido da quebra dos estereótipos, responde-se com a adesão em massa de pessoas que, achando fazer um favor, reproduzem os mesmos estereótipos combatidos. Chamar alguém de "linda" no momento errado pode soar como cobrança de comportamento. Não difere muito de se espantar com a roupa repetida.</div>
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Toda mulher pode vestir a roupa de oncinha que quiser, se quiser. Pode utilizar a blusa que desejar, quando desejar e quantas vezes desejar. Pode usar ou não usar maquiagem, ser mãe ou cuidar da casa, se tiver vontade. Mas, não é esta a essência do feminino. Mulheres devem ser respeitadas e louvadas pelo que pensam, dizem e fazem. É o que basta. Não é necessário fazer referência a padrões estéticos (bastante contestáveis e opressores, aliás). O 08 de março relembra a história de mulheres que, lutando por equiparação salarial com os homens, morreram carbonizadas. Se alguma delas usava batom ou salto alto, certamente não há nenhuma relevância.<br />
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<iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="270" src="//www.youtube.com/embed/n4RecjyPeBc" width="480"></iframe>Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/08737019399481701916noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6996440552679845576.post-18304979992486441882014-02-21T18:22:00.000-03:002014-02-21T18:22:11.858-03:00O Pessoal dos Direitos Humanos<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-zIz3MK81byE/UwfDHib4SBI/AAAAAAAAAHs/Doe3_azcuHI/s1600/direitos_humanos.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://3.bp.blogspot.com/-zIz3MK81byE/UwfDHib4SBI/AAAAAAAAAHs/Doe3_azcuHI/s1600/direitos_humanos.jpg" height="157" width="320" /></a></div>
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Um menino de 15 anos foi espancado, deixado nu e amarrado a um poste pelo pescoço, com uma corrente de bicicleta. A apresentadora de um telejornal nacional comentou o caso. Começou atacando a vítima, "um marginalzinho", "com a ficha mais suja que pau de galinheiro", que "preferiu" fugir a registrar ocorrência. Disse que era compreensível a atitude do grupo de agressores, apelidado por ela de "os vingadores", pois agiam em legítima defesa coletiva dos cidadãos de bem, assustados com a violência. Por fim, lançou uma campanha para "os defensores dos direitos humanos" que "se apiedaram do marginalzinho": "faça um favor ao Brasil, adote um bandido". </div>
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Poucos dias depois do fato e da repercussão, o mesmo garoto teria sido preso pela polícia, acusado de roubo. Algumas pessoas que aplaudiram o discurso anterior, logo apareceram para cobrar: "cadê o pessoal dos direitos humanos, agora? Vão dizer que ele é vítima?". São perguntas de quem, assim como a jornalista, não consegue ver fenômenos complexos do modo que eles são, complexos. A nova polêmica envolvendo o menino não contraria os argumentos do "pessoal dos direitos humanos". Ao contrário, os reforça. </div>
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Talvez para quem nunca teve contato com o sistema penal, seja difícil compreender que o simples fato de ser chamado de "marginalzinho" já tem força suficiente para ensejar medo e desejo de fuga. Imagine ser espancado e amarrado, sem roupas, a um poste. O menino foi estigmatizado e todos acreditaram na sua ficha suja, sem sequer perguntar o que ele roubou de quem. Apelidar os agressores de "Vingadores" é sintomático. Utiliza-se o nome de um grupo de super heróis dos quadrinhos. O menino, por sua vez, era um daqueles vilões cujo sofrimento é sempre merecido. Como quem é tratado assim vai confiar na polícia?</div>
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No mundo simplista, o bem precisa derrotar o mal. O bem, por ser o bem, tem licença para prender, torturar e matar todos os que ele entender necessário. Faz isto por um motivo nobre: melhorar o mundo. É preciso dar lições aos inimigos, para que eles se corrijam pelo exemplo. As leis são muito brandas com os maus, por isto eles continuam a agir impiedosamente. Assim, é preciso fazer justiça de verdade. A justiça de verdade é rápida e dura. Hulk não julga, Hulk esmaga. Voltamos à era dos suplícios.</div>
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Porém, o malvado desta história voltou a fazer malvadezas. Foi preso, acusado de roubo. Como pensar é custoso, é mais fácil ter certeza de que estava mesmo roubando e roubava algo muito importante (talvez um relógio) de alguém também não identificado. O problema maior é que isto acontece logo depois de receber a lição didática no poste. Seria necessária, então, outra aula de bondade, igual ou mais severa. Eu deixo para cada um exercitar o próprio sadismo e pensar quais espécies de castigos mais drásticos seriam adequadas a um menino de quinze anos, acusado de roubar não sei o quê de não sei quem.</div>
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Outra possibilidade, bem mais trabalhosa, é verdade, seria pensar se punir, sem julgar, um suposto crime de furto, ou roubo de bobagem com tortura melhora alguma coisa na sociedade. Para começar, basta pensar no que é mais grave, o crime de furto, ou o crime de tortura. Tem um método fácil, bem ao alcance dos simplistas: se pudesse optar, você preferia ter o celular roubado ou ser espancado e amarrado sem roupas a um poste? Suspeito que há algo contraditório em limpar o mundo do crime cometendo crimes piores.</div>
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Complicando um pouco, dá pra imaginar as razões que levariam uma pessoa a viver na rua, roubando correntes. Para evitar respostas constrangedoras, vamos descartar logo o lucro fácil. Lucro fácil leva pessoas a enriquecerem e não a viverem na miséria. É muito mais fácil o lucro de uma pessoa de classe média que estuda a vida inteira, passa no vestibular e faz uma faculdade, que o do menino que corre da policia (e do Capitão América, do Homem de Ferro...). Faça as contas, olhe ao redor e veja quem conseguiu prosperar economicamente de cada modo. </div>
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Se não é a falta de punição nem a mera ganância que motivam esse tipo de opção de vida, deve haver alguma outra explicação. Nem todas as pessoas pobres e discriminadas escolhem roubar correntes de turistas ou vender drogas ( drogas do demônio, tipo maconha e crack e não a santa cerveja, claro), mas praticamente todas as pessoas que seguem esse caminho são pobres e discriminadas. Restam duas opções: ou, por coincidência, só os pobres são ruins ou não se trata de ruindade. Se esforçando um pouco, percebe-se que a única forma de acabar com a criminalidade econômica típica da miséria é combater a miséria. Combater os miseráveis, jogando na prisão ou amarrando em postes, só gera mais miséria e, consequentemente, agrava o problema.</div>
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O "pessoal dos direitos humanos" tem piedade de pessoas agredidas pelo Estado, ou pelos vingadores, porque consegue enxergar que elas são humanas e não monstros. Quando o menino espancado é preso, a vítima é o mais fraco, o que está sofrendo a violência. No momento em que um roubo é praticado, a vítima é quem tem o patrimônio afetado. Se um policial ou um grupo de justiceiros espanca alguém, a vítima é o agredido. Cada vez que o estado prende um homem em condições sub-humanas, a vítima é o preso. Na hipótese de um negro sofrer racismo, a vítima é o negro. Sendo um homossexual é assassinado, a vítima é ele. </div>
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O "pessoal dos direitos humanos" não é acostumado a enxergar as coisas de forma superficial e simplista. Desse modo, eles sabem que "adotar um bandido" é uma proposta ridícula e quem repete a expressão se ridiculariza. Problemas complexos demandam enfrentamentos complexos. Lanço outra campanha: faça um favor ao Brasil, analise as coisas de forma profunda e não siga o caminho fácil de bater no fragilizado. Os defensores de direitos humanos continuam onde sempre estiveram, do lado do oprimido. E sim, vão continuar dizendo que ele é vítima, porque, de fato, ele é. <br />
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<iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="270" src="//www.youtube.com/embed/nAZ4WFvG5S4" width="480"></iframe>
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<br />Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/08737019399481701916noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-6996440552679845576.post-62081629740932390192014-02-08T20:18:00.000-03:002014-02-08T20:18:01.603-03:00As Águas passam, as Pedrinhas ficam.<div style="text-align: justify;">
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<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-0AnvNMqaGBg/Uva2O_txsRI/AAAAAAAAAHU/1JMWMWZzjaw/s1600/siri.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://3.bp.blogspot.com/-0AnvNMqaGBg/Uva2O_txsRI/AAAAAAAAAHU/1JMWMWZzjaw/s1600/siri.jpg" /></a></div>
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<br />
Em 2010, aconteceu em Brasília, o Seminário Nacional de Controle de Tuberculose no Sistema Prisional. Um juiz, falando em nome do CNJ, talvez pensando que falasse para pessoas que não conhecem as prisões, fez uma palestra piegas, cheia de pausas dramáticas e expressões faciais de piedade. Em resumo, narrou que, durante uma inspeção realizada pelo CNJ, os profissionais de saúde haviam dito aos juízes que não entrasse no pátio e nas celas, porque correriam sério risco de contrair doenças. Quando esperava as lágrimas emocionadas e os aplausos, entretanto, o orador foi surpreendido pela revolta da plateia. Os profissionais de saúde do cenário da história negaram que a recomendação tenha sido feita e disseram que foi uma decisão exclusiva dos magistrados. </div>
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<br /></div>
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Então, veio a questão mais importante: se os juízes achavam que não poderiam entrar ali por alguns minutos sem danificar as suas saúdes, como permitiram que pessoas continuassem trabalhando e, principalmente, vivendo, encarceradas, ali? O Sistema Prisional raramente, ou nunca, funciona nas condições exigidas por lei. Todos sabem que as pessoas continuam presas ilegalmente. Porém, aparentemente, as autoridades que poderiam mudar a situação sentem que para cumprir o seu papel basta reconhecer que é errado, lamentar que é errado e ir embora. O estado onde se passava a história era o Maranhão. O narrador não disse o nome do estabelecimento. Talvez fosse Pedrinhas. A omissão, todavia, é indiferente, porque Pedrinhas, ao contrário do que parece, é apenas mais uma prisão e não uma situação excepcional.</div>
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<br /></div>
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Os estabelecimentos penais ficam lá quietinhos, fervendo por dentro, mas ignorados do lado de fora. Até que surgem imagens chocantes, como as cabeças decapitadas, ou um massacre de centenas de pessoas e a questão carcerária desponta. Vêm as críticas contundentes dos políticos e simpatizantes dos partidos de oposição, que, aliás, nunca falaram ou fizeram nada à respeito, quando foram situação. Vêm as justificativas e relatos de melhorias fictícias por parte dos políticos e simpatizantes dos partidos da situação. Vêm as desculpas de que "isto não me foi comunicado antes", por parte não políticos que poderiam ter agido. E surge a proposta mágica universal: mutirão para identificar penas vencidas e coisas semelhantes.</div>
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<br /></div>
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O problema do descumprimento sistemático dos direitos dos presos é silenciado. Isto começa a acontecer, na verdade, desde que os direitos são rebaixados ao status de benefícios, ou seja, favores, atos de generosidade do Estado. Chega ao ponto de um relatório elaborado pelo CNJ chamar de benefício até mesmo a extinção da pena por cumprimento integral, em um desses mutirões. Como tudo são só benevolências autorizadas pelos juízes, não é tão grave manter dez pessoas em uma cela para quatro. Fica tolerável a manutenção de pessoa em regime semi-aberto em estabelecimento fechado e por aí vai. "Desculpa aí, senhor preso, mas hoje não dá para quebrar o seu galho".</div>
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<br /></div>
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Passam alguns dias, o assunto vai mudando e descamba para as "regalias" dos presos. Descobre-se, em um passe de mágica, que prisões tem líderes. Com uma surpresa ainda maior, chega-se à inesperada conclusão de que as lideranças fazem negociações com administrações prisionais. Mas, chega-se a revelações ainda mais estarrecedoras: "Presos têm televisões!" "Presos tem fogões!" "Presos usam drogas!" E o discurso muda para o ódio aos presos. Eles deixam de ser as pessoas que vivem em condições insalubres, com risco de serem decapitados ou massacrados. Voltam a ser os marginais, os cruéis, os monstros e, afinal, os únicos culpados por aquele mal estar.</div>
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<br /></div>
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Aí, a gente não lembra mais que praticamente todas as prisões têm mais presos que vagas. Aí, a gente continua decretando a prisão do menino que roubou três livros. Aí, a gente continua decretando prisão provisória por risco à ordem pública, sem nem explicar o que é isto. Aí, a gente aprova aumento de pena para isto e novo tipo penal para aquilo. Aí, a gente pede redução da maioridade penal. Aí, a gente amarra o garoto no poste. Aí, a gente reclama dos direitos humanos. Aí, o mutirão acaba e o estabelecimento continua com mais gente do que é capaz de suportar. Aí, a gente simplesmente esquece e tudo volta ao normal. As águas passam, as pedrinhas ficam. Afinal, na guerra do rochedo com o mar, sempre sobra para o siri. Ainda mais se o siri for daqueles mais escuros.<br />
</div>
<iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="270" src="//www.youtube.com/embed/JsbrkFLJzkU" width="480"></iframe>
<br />Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/08737019399481701916noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6996440552679845576.post-79159964894442278522013-11-17T10:54:00.001-03:002013-11-17T14:35:49.816-03:00Rubens no Casório<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-ExdrO_e4zqk/UojDTIsyh9I/AAAAAAAAAFY/GNDoJYVPSBU/s1600/no+passaran.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://2.bp.blogspot.com/-ExdrO_e4zqk/UojDTIsyh9I/AAAAAAAAAFY/GNDoJYVPSBU/s1600/no+passaran.jpg" /></a></div>
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<br />
Todos os dias, Rodrigo acompanha os ponteiros do relógio. Espera a hora de arrumar as coisas e sair do trabalho. O que importa é ir embora, após mais um longo dia em que, mesmo sem ter feito nada de útil, leva a sensação de ser produtivo. Sem paradas em bares e sem conversas, o destino é o lar. A família é a base da sociedade.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Em casa, antes de qualquer boa noite, segue apressado em direção à cozinha. Logo, volta, irritado, reclamando da esposa. O café está frio, a sopa está fria e o pão está frio. Apenas a televisão continua quente. Senta no sofá, pega o controle remoto e sintoniza no jornal. O apresentador anuncia as notícias de ontem e prevê um amanhã tenebroso, igual ao que imaginou ontem.</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>Popopopó...</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>A Galinha Pintadinha e o Galo Carijó...</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
A mulher se aproxima e tenta narrar o seu dia. Psst! Estou vendo o noticiário, interrompe Rodrigo. Felizmente, vai começar a novela. Disso ela gosta muito e senta com o companheiro. Para angústia dos dois, antes, vem o intervalo. Ninguém gosta das propagandas, mas já que elas existem, o casal assiste com atenção. Pela milésima vez no dia, passa a propaganda da loja de roupas.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>A galinha usa saia</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>e o galo, paletó...</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Rodrigo avalia se o seu vestuário continua respeitável. A esposa acha que seus sapatos estão velhos. Finalmente, tem início o último capítulo. É chegado o grande dia em que se confirmará aquilo que todos leram no caderno de novelas. O mocinho salvará e casará com a mocinha. O vilão morrerá ou será preso. Todos os personagens simpáticos acharão um par, ficarão ricos e serão felizes. Silêncio! Começou!</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>Borboletinha tá na cozinha</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>fazendo chocolate para a madrinha...</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Que bobagem, diz o marido. A mulher chora, emocionada. Mas, não há tempo para lamentações e sensibilidades. Eles têm um compromisso. Festa de casamento do filho do colega de trabalho, que eles sequer conhecem, com a noiva de quem não lembram o nome. Mas, o presente foi comprado, através da lista do casamento passado.<br />
<br />
Zelosa e respeitosamente, acompanham a cerimônia. No íntimo, ambos esperam a cerimônia e não veem a hora de degustar e falar mal dos mesmos salgadinhos, das mesmas bebidas, das mesmas músicas e das mesmas decorações de todos os casamentos, formaturas e festas de quinze anos do ano. Talvez, dos últimos quinze anos.</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>Mariana conta um</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>Mariana conta um, é um, é um, é</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>Ana viva a Mariana...</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Os amigos repetem o jornal, comentam a novela, emulam os comentaristas de futebol e reproduzem as mesmas piadas que viram, ao mesmo tempo, em apartamentos iguais, nos mais diversos edifícios. O equilíbrio é quebrado com a chegada de Rubens no casório. O mundo de Rodrigo é constante, no agir e no pensar. O de Rubens é mais complexo. As verdades em que todos acreditam, para ele, parecem falsas. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Rubens faz perguntas sobre o sistema econômico. Aponta números, faz comparações. Rodrigo e os amigos respondem, em coro:</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>Poti, poti</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>Perna de pau...</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Rubens vê contradições nas religiões. Cita passagens bíblicas, lembra atos dos sacerdotes. Fala sobre bruxas, fogueiras e até Jesus. A turma se ofende e contesta, irritada.</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>Mariana conta dois</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>Mariana conta dois, é dois, é dois, é</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>Ana viva a Mariana...</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Rubens fala sobre racismo, prisões, cotas e critica os humoristas orgulhosamente politicamente incorretos. Lembra da escravidão, de Hitler, de Malcom X, cita Mano Brown. O coro reage.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>O doutor era o peru (glu glu)</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>A enfermeira era o Urubu...</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
E a conversa segue. Rubens analisa feminismo, política de drogas, médicos estrangeiros, manifestações de rua, cinema, música.... O grupo responde com olhos, vidros, narizes e pica paus (paus, paus). Para alívio de muitos, até que em fim, estranho vai embora. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Não gosto dele, é um intriguento, diz Rodrigo. Sempre vem com esse discurso bonito e faz parecer que o errado é o certo, ou que nós, os certos, somos tão errados quanto os errados. A mulher não responde. Está, estranhamente, reflexiva. Parece um pouco aturdida.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
No dia seguinte, o casal assiste o primeiro capítulo da nova novela, que lembra muito o último da velha. O silêncio dos anos anteriores parecia destinado a durar até a eternidade. Mas, ela ainda ouve a conversa de Rubens. De repente, Rosa, desafiadora, olha para o marido e dispara: Por que é justamente a borboletinha que está na cozinha? Por que o Urubu pode ser enfermeira, mas não médico? Por que Mariana conta, conta e não faz nada?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Rodrigo sabia que isto podia acontecer. Por isto, odiava e temia Rubens. Rubens sabia que isto podia acontecer. Por isto, desprezava e enfrentava Rodrigo. Ele tinha consciência de que não estava sozinho e que muitas Rosas despertam a cada minuto. Tranquilo, lembra dos preconceitos e do conformismo de Rodrigo e seus seguidores. Pensa, então, com sigo mesmo:<br />
<br />
Não, vocês não passarão. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<br />
<br />
<iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="344" src="//www.youtube.com/embed/WEHN2-EhxAs" width="459"></iframe>
<iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="344" src="//www.youtube.com/embed/3pGwzJuiVv4" width="459"></iframe>Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/08737019399481701916noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6996440552679845576.post-3004223552969865602013-10-28T19:39:00.000-03:002013-10-28T19:39:21.591-03:00Graça e Piedade<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-9yPJ1KSMbAk/Um7mPqPv7qI/AAAAAAAAAFE/Q1S-7RIqoME/s1600/VERMELHO-1.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="http://2.bp.blogspot.com/-9yPJ1KSMbAk/Um7mPqPv7qI/AAAAAAAAAFE/Q1S-7RIqoME/s320/VERMELHO-1.jpg" width="121" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Ondina, 1989.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Sinal fechado. O menino, animado, falava das suas boas notas e tentava convencer a mãe a premiá-lo com um gibi. Mônica, Cebolinha, Cascão, tanto faz. Presente sempre é bom! A mulher fingia protestar, mas não disfarçava o sorriso. Adorava ver o filho indo bem na escola e, mais ainda, querendo ler. Verde, abriu. Vamos ver se a banca de seu Costa está aberta, hoje pode haver uma surpresa...</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Graça, 2010. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Os amigos conversavam no apartamento. Na verdade, discutiam, mas com amizade. Qualquer um poderia cometer um crime? Não, dizia o médico. Eu jamais praticaria nenhuma infração. Não desejo machucar ninguém. Em nenhuma eventualidade, tentaria matar outra pessoa. Para fazer isto, as pessoas precisam ter muita maldade. Ele era sincero, se achava bom. Alguém pediu para mudar de assunto e falou mal de outra pessoa.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Ondina, 2013.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Amanhecer chuvoso. Após discussão no trânsito, uma médica, branca, persegue um motociclista, branco, e sua companheira, branca, que socaram o seu carro. Há um choque. O carro roda e para em um poste. A moto se estatela no chão, as pessoas ela levavam morrem. Eram irmãos. A motorista vai para o hospital e é acusada de homicídio. Assunto de todos os jornais.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Piedade, 2013.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
A família inteira grita. A médica quis matar os motociclistas. A médica não quis matar os motociclistas. A mãe arrematou: se ela correu atrás deles, é claro que queria matá-los. No mínimo, assumiu o risco. Após, segundos de constrangimento, o filho indagou: mas, mãe, você não lembra daquele dia?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Graça, 2013.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Todos comentam estupefatos, a tragédia do dia anterior. O médico, que estava de plantão, apenas agora, conhecia os detalhes. Ouvia em silêncio, com os olhos cada vez mais abertos. Após alguns minutos, sem lembrar que era segredo, soltou as primeiras palavras: meu Deus, igualzinho ao que aconteceu naquele dia...</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Ondina, 1989.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Ao passar no cruzamento, com o filho falando sobre histórias em quadrinhos, ela sentiu a pancada violenta. Um bêbado não obedeceu a sinalização. Para piorar, não parou. A mãe soltou um palavrão, na frente da criança, e disparou à toda velocidade, buzinando e ultrapassando perigosamente cada veículo da frente. Felizmente, o fugitivo encostou, em frente a uma delegacia. O menino não esqueceu. Ela não lembrava.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Ondina, 2010.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O médico, cansado, volta do hospital. Assustou-se com um barulho de vidro quebrado. Era um pé, no seu retrovisor. Uma moto seguia em frente. Imediatamente, ele usa, pela primeira vez, toda a potência do motor do carro. Corre atrás do agressor pela cidade, fazendo manobras arriscadas. Por sorte, não chovia. O motoqueiro esgueirou-se, após passar um ônibus e escapou. Esqueceu o assunto. Até chegar a hora de lembrar.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Piedade, 2013.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Todos voltaram-se para a mulher: Mãe, você tentou matar aquele homem? Ao persegui-lo, pensou que assumia o risco de matar alguém? Ou foi apenas imprudente?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Graça, 2013.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Todos voltaram-se para o médico: Você tentou matar aquele homem? Ao persegui-lo, pensou que assumia o risco de matar alguém? Ou foi apenas imprudente?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Brasil, 2013 em diante.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Muitos brancos e pretos mataram muitos pretos, mas não saiu no jornal. Poucas médicas brancas foram acusadas de matar motociclistas brancos. Muitos pretos foram acusados de matar muitos pretos ou brancos e viraram manchete, especialmente no segundo caso. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O julgamento daquela médica branca serviu de base para o daqueles pretos. Eventualmente, sem que tivessem culpa, pagaram pelo dolo atribuído a ela. Com o agravante de que ninguém achava que as suas vidas estavam sendo destruídas. Onde se procura vinganças, para ela, resta uma desgraça. Para eles, nenhuma piedade.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<br />
<iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="344" src="//www.youtube.com/embed/8Q5hfEGCrp0" width="459"></iframe>Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/08737019399481701916noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-6996440552679845576.post-70875110859353398902013-07-16T22:55:00.002-03:002013-07-16T22:55:29.278-03:00Manifesto: Defensoria Pública do Paraná, uma questão de justiça.<div style="background-color: white; border: 0px; color: #191b1c; font-family: Arial, 'Trebuchet MS', Helvetica, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 21px; margin-bottom: 18px; padding: 0px; text-align: justify; vertical-align: baseline;">
“Sou mais do que nunca influenciado pela convicção de que a igualdade social é a única base da felicidade humana…” (Nelson Mandela)</div>
<div style="background-color: white; border: 0px; color: #191b1c; font-family: Arial, 'Trebuchet MS', Helvetica, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 21px; margin-bottom: 18px; padding: 0px; text-align: justify; vertical-align: baseline;">
Em um País DESIGUAL como o Brasil, onde os necessitados ainda são a maioria, não se pode falar em acesso à justiça sem que haja uma instituição FORTE que defenda os interesses de todos aqueles que, por algum motivo (nem sempre a pobreza), não podem contratar um advogado que possibilite o ajuizamento de ações e a resolução de problemas por meio do Poder Judiciário.</div>
<div style="background-color: white; border: 0px; color: #191b1c; font-family: Arial, 'Trebuchet MS', Helvetica, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 21px; margin-bottom: 18px; padding: 0px; text-align: justify; vertical-align: baseline;">
Essa instituição é a DEFENSORIA PÚBLICA! É a Defensoria que, segundo a CONSTITUIÇÃO, luta pelos interesses dos chamados hipossuficientes, desenvolvendo uma infinidade de serviços (ajuizamento de ações, orientação judicial, educação em direitos, conciliação, etc.), dentro e fora do Judiciário, por meio de profissionais competentes e selecionados por concursos públicos. É a prestação de um SERVIÇO PÚBLICO, ou seja, um dever do Estado ao qual todo cidadão tem direito a ter acesso, de maneira gratuita, adequada e com qualidade.</div>
<div style="background-color: white; border: 0px; color: #191b1c; font-family: Arial, 'Trebuchet MS', Helvetica, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 21px; margin-bottom: 18px; padding: 0px; text-align: justify; vertical-align: baseline;">
Contudo, infelizmente, no Estado do Paraná, a Defensoria Pública, embora exista desde sua implementação já tardia, por meio da LC 136 em 2011, CONTA ATUALMENTE COM APENAS 10 DEFENSORES PÚBLICOS PARA TODO O ESTADO, todos concentrados apenas na capital. Segundo dados da Associação Nacional dos Defensores Públicos, o Estado do Paraná necessita de um total de 884 DEFENSORES PÚBLICOS.</div>
<div style="background-color: white; border: 0px; color: #191b1c; font-family: Arial, 'Trebuchet MS', Helvetica, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 21px; margin-bottom: 18px; padding: 0px; text-align: justify; vertical-align: baseline;">
Em 2011 e 2012, foram abertos concursos públicos pelo Estado para contratação de 528 servidores e 197 novos Defensores Públicos, sendo aprovados apenas 95 DEFENSORES, e, mais de 2000 servidores. Os candidatos aprovados aguardam a nomeação pelo Governo do Estado para poderem começar a trabalhar a serviço do povo paranaense. No entanto, NÃO POSSUEM QUALQUER PERSPECTIVA DE QUANDO VÃO INICIAR O SEU TRABALHO (o que pode ocorrer só em 2015!) e, assim, poder ajudar a população do Paraná, que tanto precisa desse serviço público.</div>
<div style="background-color: white; border: 0px; color: #191b1c; font-family: Arial, 'Trebuchet MS', Helvetica, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 21px; margin-bottom: 18px; padding: 0px; text-align: justify; vertical-align: baseline;">
Desse modo, apesar de existir no papel, a Defensoria Pública do Paraná possui atuação prática quase nula, uma vez que sem os Defensores Públicos não há como atender as demandas da população carcerária, dos assentamentos de terras, questões de direito de família, tutela coletiva do direito à moradia digna, dentre tantas outras.</div>
<div style="background-color: white; border: 0px; color: #191b1c; font-family: Arial, 'Trebuchet MS', Helvetica, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 21px; margin-bottom: 18px; padding: 0px; text-align: justify; vertical-align: baseline;">
O Paraná é um dos únicos Estados do país que não possui uma Defensoria Pública estruturada e atuante (ao seu lado apenas o Estado de Goiás). Tanto QUE O PRÓPRIO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL JÁ DETERMINOU QUE O ESTADO DO PARANÁ ESTRUTURE A SUA DEFENSORIA PÚBLICA para que ela possa atuar de forma correta.</div>
<div style="background-color: white; border: 0px; color: #191b1c; font-family: Arial, 'Trebuchet MS', Helvetica, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 21px; margin-bottom: 18px; padding: 0px; text-align: justify; vertical-align: baseline;">
O PARANAENSE NÃO PODE MAIS AGUARDAR! Já há uma espera de 25 anos, pois a Defensoria Pública é fruto da Constituição de 1988. O POVO PARANAENSE TEM O DIREITO FUNDAMENTAL DE USUFRUIR ADEQUADAMENTE DA DEFENSORIA PÚBLICA, contando com profissionais capazes de defender os seus direitos à saúde, à educação, à moradia, de liberdade, do idoso, da criança, dentre outros, tanto na esfera judicial quanto fora da Justiça!</div>
<div style="background-color: white; border: 0px; color: #191b1c; font-family: Arial, 'Trebuchet MS', Helvetica, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 21px; margin-bottom: 18px; padding: 0px; text-align: justify; vertical-align: baseline;">
Por isso, CONVOCAMOS TODOS OS CIDADÃOS DO PARANÁ a assinar o abaixo assinado em prol da Defensoria e comparecerem no dia 14 de agosto, na Boca Maldita, a partir das 16 horas, para lutarem por essa nobre causa: estruturação da Defensoria Pública do Estado do Paraná, através da imediata e integral nomeação dos defensores e servidores aprovados em concurso público.</div>
<div style="background-color: white; border: 0px; color: #191b1c; font-family: Arial, 'Trebuchet MS', Helvetica, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 21px; margin-bottom: 18px; padding: 0px; text-align: justify; vertical-align: baseline;">
NÃO EXISTE DEFENSORIA PÚBLICA SEM DEFENSOR PÚBLICO E SEM SERVIDOR!</div>
<div style="background-color: white; border: 0px; color: #191b1c; font-family: Arial, 'Trebuchet MS', Helvetica, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 21px; margin-bottom: 18px; padding: 0px; text-align: justify; vertical-align: baseline;">
Obs: Texto retirado de <a href="http://www.issoejusticaecidadania.com.br/2013/07/15/manifesto-defensoria-publica-do-parana-uma-questao-de-justica/" style="background-color: transparent;">http://www.issoejusticaecidadania.com.br/2013/07/15/manifesto-defensoria-publica-do-parana-uma-questao-de-justica/</a></div>
Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/08737019399481701916noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-6996440552679845576.post-25690868883420760472013-05-04T17:33:00.000-03:002013-05-04T17:44:49.776-03:00Pela Ampliação da Maioridade Intelectual<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-0xRmsQGb2Yo/UYVts4dsNdI/AAAAAAAAADo/mrnZPsWdy8M/s1600/homer+simpson+o+grito.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://4.bp.blogspot.com/-0xRmsQGb2Yo/UYVts4dsNdI/AAAAAAAAADo/mrnZPsWdy8M/s1600/homer+simpson+o+grito.jpg" /></a></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br />
<div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<span style="color: black; font-family: Times, Times New Roman, serif;">Nas
últimas semanas, um tema domina os noticiários e se espalha pelas
redes sociais: a redução da maioridade penal. Pretendo me dirigir a
quem defende o clamor do momento, para sugerir uma forma mais
inteligente de fazê-lo. Digo isto porque os argumentos apresentados
costumam ser superficiais ou até inadequados à questão. Vou
indicar algumas premissas e pontos mínimos que não podem ser
ignorados.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Times, Times New Roman, serif;"><br />
</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<span style="color: black; font-family: Times, Times New Roman, serif;"> <b>Existe,
realmente, um problema?</b></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Times, Times New Roman, serif;"><br />
</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<span style="color: black;"><span style="font-family: Times, Times New Roman, serif;">O
primeiro ponto trazido pelos defensores da redução da maioridade é
o de que os adolescentes estão cometendo muitos delitos graves e são
os causadores da insegurança pública. Isto seria, de fato, um
problema. Porém, para saber se isto é verdade, seria necessário
responder algumas perguntas, como por exemplo: qual o percentual de
práticas de fatos definidos como crimes por adolescentes? Dentre
esses, qual o percentual de crimes graves?</span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Times, Times New Roman, serif;"><br />
</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<span style="color: black; font-family: Times, Times New Roman, serif;">Mas,
atenção! Os percentuais questionados não são deduzidos da
quantidade de notícias em jornais. Um veículo de imprensa escolhe o
que divulga, o que não divulga e como divulga. Aliás, os grandes
estudiosos de criminologia são unânimes em afirmar que,
normalmente, há uma ênfase extremamente exagerada nos delitos menos
comuns, como estupros e homicídios. Também existe destaque maior
quando o autor se enquadra em algumas características, como ser
menor de idade ou estar em regime semi-aberto. É necessário
consultar dados oficiais e pesquisas confiáveis.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Times, Times New Roman, serif;"><br />
</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<span style="color: black; font-family: Times, Times New Roman, serif;">Se
você conseguir ultrapassar esta etapa, não significa, de modo
algum, que a discussão acabou, mas somente que ela pode ser
iniciada.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Times, Times New Roman, serif;"><br />
</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<span style="color: black;"><span style="font-family: Times, Times New Roman, serif;"><b>Premissas.</b></span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Times, Times New Roman, serif;"><br />
</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<span style="color: black; font-family: Times, Times New Roman, serif;">Considerando
que você já tenha comprovado o problema e queira apontar o direito
penal como solução para ele, precisará recordar e enfrentar
algumas premissas inafastáveis do Estado democrático.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Times, Times New Roman, serif;"><br />
</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<span style="color: black; font-family: Times, Times New Roman, serif;">a)
Direito penal é a última alternativa. Penas são as sanções mais
graves em um ordenamento. São medidas drásticas. Sempre que existe
um problema, o direito penal só pode ser considerado opção se não
houver nenhuma outra solução possível.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Times, Times New Roman, serif;"><br />
</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<span style="color: black; font-family: Times, Times New Roman, serif;">b)
É preferível não punir penalmente quem mereceria, do que punir
quem não merece. Disto surgem duas consequências. Primeiro, é
preciso haver uma idade mínima, porque do contrário, haveria um
grande espaço de subjetividade na definição de quem poderia ou não
ser julgado como maior. Segundo, considerando que as pessoas se
desenvolvem de modo distinto, a idade mínima precisa ser aquela com
a qual a maioria das pessoas podem, seguramente, ser consideradas
responsáveis.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Times, Times New Roman, serif;"><br />
</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<span style="color: black; font-family: Times, Times New Roman, serif;">c)
O direito penal existe para evitar a prática da vingança. A sua
atuação precisa ser justificada por algum benefício que traga à
sociedade. Por isto, dizer, simplesmente, que "ele merece",
ou "se fosse sua mãe, o que você faria?"não é válido. </span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Times, Times New Roman, serif;"><br />
</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<span style="color: black; font-family: Times, Times New Roman, serif;">Se
você conseguir comprovar o problema ( o envolvimento significativo
de adolescentes em crimes graves) e superar as premissas ( não há
saída fora do direito penal, há uma idade inferior a 18 anos em
que, com segurança, podemos afirmar que uma pessoa já seja
plenamente capaz e você espera algo, além de vingança), vamos
analisar se o meio escolhido (reduzir a maioridade penal) é bom ou
não.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Times, Times New Roman, serif;"><br />
</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<span style="color: black;"><span style="font-family: Times, Times New Roman, serif;"><b>Uma
pena mais grave reduziria a quantidade de crimes?</b></span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Times, Times New Roman, serif;"><br />
</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<span style="color: black;"><span style="font-family: Times, Times New Roman, serif;">Normalmente,
as pessoas afirmam isto, porque acham que 03 anos de privação de
liberdade é muito pouco, para inibir que pessoas pratiquem delitos.
Assim, aumentar a duração resolveria os problemas. Para discutir
isto de verdade, é preciso consultar estudos sérios apontando a
relação entre penas mais graves e redução de delitos. Uma
pesquisa histórica sobre o tema foi realizada por <span style="background: #ffffff;"> Georg
Rusche e Otto Kirchheimer e se chama "Punição e Estrutura
Social". Vale também verificar se, entre os adultos, o
robusto incremento de rigor decorrente da lei dos crimes hediondos
fez diminuir os crimes hediondos.</span></span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Times, Times New Roman, serif;"><br />
</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<span style="color: black;"><span style="background: #ffffff; font-family: Times, Times New Roman, serif;">Outro
aspecto a ser considerado é que o tempo também é relativo. Para
quem viveu pouco tempo (os adolescentes) e para quem tem pouco tempo
a viver (os velhos), três anos têm valor diferente do que para quem
possui 30 ou 40 anos. Além disto, a sensação de duração de tempo
é distinta na prisão e em liberdade. Eisten (sim, aquele)
exemplifica este fenômeno com um rapaz passando um minuto ao lado de
uma moça agradável ou sentado em um fogão aceso. No primeiro caso,
sentirá que o tempo passou rápido, enquanto no segundo, achará uma
eternidade.</span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Times, Times New Roman, serif;"><br />
</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<span style="color: black;"><span style="background: #ffffff; font-family: Times, Times New Roman, serif;">Tudo
isto precisa ser enfrentado para responder a pergunta. Em suma, você
precisará descobrir se, de fato, os adolescentes fazem coisas
erradas apenas porque acham que "03 anos passam rapidinho, o
castigo é insignificante”. Não é suficiente repetir chavões
como "logo, ele estará livre", "ele sabe que a
punição é pequena".</span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Times, Times New Roman, serif;"><br />
</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<span style="color: black;"><b><span style="background: #ffffff; font-family: Times, Times New Roman, serif;">A
prisão é um boa escola?</span></b></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Times, Times New Roman, serif;"><br />
</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<span style="color: black; font-family: Times, Times New Roman, serif;">Outra
teoria frequente no senso comum é a de que a punição rigorosa
levaria ao "aprendizado", pelo castigado, de como se portar
futuramente. Neste caso, seria necessário perguntar se restringir o
grupo social de pessoas de 16 anos a adultos mais experientes
na prática de delitos, seria uma boa maneira de ensiná-las os
valores sociais considerados adequados.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Times, Times New Roman, serif;"><br />
</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<span style="color: black;"><span style="background: #ffffff; font-family: Times, Times New Roman, serif;">Necessário
também investigar se os adultos selecionados pelo sistema penal e,
principalmente, pela prisão, costumam ser devolvidos à sociedade
mais ou menos adaptados às suas regras. Após o cumprimento da pena,
o egresso costuma se sentir mais incluído ou mais excluído? Ele se
identifica e constrói a autoimagem de cidadão ou de marginal? O
índice de reincidência é grande ou pequeno? São indagações
muito relevantes e que precisam ser analisadas.</span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Times, Times New Roman, serif;"><br />
</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<span style="color: black;"><b><span style="background: #ffffff; font-family: Times, Times New Roman, serif;">Quem
paga a conta?</span></b></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Times, Times New Roman, serif;"><br />
</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<span style="color: black; font-family: Times, Times New Roman, serif;">Um
aspecto desta possível solução para o problema é estranhamente
omitido dos debates. Prender mais pessoas ou prender pessoas por mais
tempo, demanda a construção de mais locais para abrigá-los.
Infelizmente, ou felizmente, penitenciárias não são encontradas na
natureza. Elas precisam ser construídas, e mantidas.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Times, Times New Roman, serif;"><br />
</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<span style="color: black; font-family: Times, Times New Roman, serif;">Nossa
população carcerária é uma das maiores e das que mais crescem no
mundo. O sistema penal do Brasil já tem um déficit de vagas muito
grande. Onde esses novos presos seriam colocados? Seriam construídas
novas unidades? Quantas? Qual o custo? De onde sairá a verba?
Quantos hospitais deixarão de ser criados? Quantos professores e
médicos deixarão de ser contratados? Em resumo, qual a prioridade,
prisões ou escolas?</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Times, Times New Roman, serif;"><br />
</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<span style="color: black; font-family: Times, Times New Roman, serif;">As
possibilidades e consequências de o Estado sustentar, dentro das
exigências legais, novas vagas para encarcerar mais gente devem ser
esclarecidas. Do contrário, será apenas uma proposta irresponsável
de políticos populistas, acatada por inocentes (ou não) úteis.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Times, Times New Roman, serif;"><br />
</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<span style="color: black;"><b><span style="background: #ffffff; font-family: Times, Times New Roman, serif;">Conclusão</span></b></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Times, Times New Roman, serif;"><br />
</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<span style="color: black; font-family: Times, Times New Roman, serif;">Estas
são algumas perguntas a serem respondidas, para racionalizar o
debate. Não esgotam, porém, o tema. Muitas outras questões
poderiam ser formuladas. Um bom exemplo, é o fato de a Constituição
da República dizer que os direitos e garantias individuais não
podem sequer ser objeto de emenda constitucional (artigo 60 §4º) e
idade mínima penal se encontra entre elas (art. 228). Como
viabilizar projetos de lei flagrantemente inconstitucionais?</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Times, Times New Roman, serif;"><br />
</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<span style="color: black; font-family: Times, Times New Roman, serif;">Sem
passar por este processo de maturação das ideias, quem propõe
reduzir a maioridade penal apresentará um discurso vazio e rasteiro.
Por isto, vai continuar a ser tratado com desprezo pelos
seus oponentes. Não é porque eles são arrogantes. É porque
quem discute com base em senso comum não pode ser levado a sério.
Está na hora de ampliar, no sentido de difundir, a maioridade
intelectual. </span></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
</div>
<br />
<span style="background-color: white; color: #444444; font-family: arial, sans-serif; font-size: x-small; line-height: 16px;"><br /></span>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<iframe allowfullscreen='allowfullscreen' webkitallowfullscreen='webkitallowfullscreen' mozallowfullscreen='mozallowfullscreen' width='320' height='266' src='https://www.youtube.com/embed/UCiENaCmq00?feature=player_embedded' frameborder='0'></iframe></div>
<br />
<br />Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/08737019399481701916noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6996440552679845576.post-10416215350334685092013-05-02T16:12:00.000-03:002013-05-02T16:12:00.153-03:00Histórias de Gibi<div style="text-align: justify;">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-iPf_VpkfyY8/UXgWJ5oj1_I/AAAAAAAAADU/s4yvp9Aikk4/s1600/falso+heroi.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img border="0" height="320" src="http://2.bp.blogspot.com/-iPf_VpkfyY8/UXgWJ5oj1_I/AAAAAAAAADU/s4yvp9Aikk4/s320/falso+heroi.jpg" width="280" /></a><br />
<br />
Duas bombas explodiram, no fim de uma maratona nos Estados Unidos, matando três pessoas. Muito depressa, a polícia apontou alguns suspeitos. Após um dos investigados ser morto e outro capturado, faltava alcançar um. Quando o garoto de 19 anos foi preso, a população saiu às ruas, para aplaudir e comemorar, pois a justiça havia se concretizado. Ninguém dentre os celebrantes tinha qualquer dúvida sobre a culpa do garoto. Não era preciso aguardar o fim das investigações, ou início do processo. A polícia disse que era ele, então era ele.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Mesmo longe, a certeza da legitimidade de todos os atos oficiais atingia níveis absurdos. O canal Globo News exibiu matéria em que um suspeito era preso e levado a uma viatura, completamente nu. A explicação para a ausência de roupas era que ele fora minuciosamente revistado. O jornalista afirmava repetidas vezes que aquele homem havia sido morto em um tiroteio. Um mínimo de ceticismo o levaria a desconfiar de algumas coisas. Por que após a revista não deixaram que ele se vestisse ou o cobriram com um lençol? Como alguém entra em um carro pelado e algemado e depois morre em um tiroteio? Mas, indagações não estavam no roteiro.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Um promotor paulista disse em palestra para estudantes que o advogado não defende o crime, mas sim o criminoso. Outro, no Rio Grande do Sul, elogiando a Defensoria Pública local, disse que se cometesse um delito, gostaria de ser ajudado por ela. Não passou pela cabeça do primeiro que o advogado não defende necessariamente "o criminoso", mas o réu, que muitas vezes é inocente. Não são sinônimos. O segundo esqueceu que pessoas são processadas e precisam da Defensoria, mesmo sem ter cometido qualquer delito. Estava implícito nas afirmativas deles, ironicamente os responsáveis por fiscalizar a atividade policial, que confiam plenamente, quando os inquéritos apontam os suspeitos.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Quando se menciona o acontecimento de um crime, a maioria das pessoas não demora para acreditar que o delito realmente ocorreu. Basta, então, apontar um culpado que a culpa está formada. É considerado extremamente necessário e reconfortante que alguém seja punido o mais rápido possível e com todo rigor. O senso comum, aliás, diz que a causa de todos os problemas do planeta é a impunidade. As leis são sempre ultrapassadas e excessivamente benevolentes, com os "bandidos". Esse discurso esteve presente em todos os períodos históricos, até mesmo nas ditaduras. Para salvar a sociedade, portanto, queremos eleger monstros, para odiar e depositar as frustrações.</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Pessoas são julgadas social e judicialmente, como se vivêssemos em histórias infantis. Existem os heróis e os vilões, muito bem delineados. Uns são bons e sempre dizem a verdade, outros são maus e sempre mentirosos. Quem questiona o mocinho é vilão também. A decisão está tomada no exato momento em que as autoridades americanas divulgam o rol dos suspeitos, ou o Governo da Bahia divulga o nome do rei do copas do seu vergonhoso "baralho do crime". Definidos os papéis de cada um por quem tem o poder de contar as histórias, qualquer conduta será interpretada a partir deles. Afinal, se alguém foi nomeado como rei de copas é porque deve ser perigoso.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
É nesse contexto hostil que as pessoas se defendem. Talvez, devêssemos duvidar um pouco mais de toda a história e não apenas de um ou outro personagem. Quando, para defender ou atacar uma tese, alguém se esconde atrás do escudo de "guerreiro contra a impunidade" é porque o discurso ficou vazio. Atingindo esse nível de maturidade, a sociedade vai discutir como evitar que adolescentes sejam autores ou vítimas de atos infracionais, em vez de antecipação da maioridade penal. Vai ser possível também debater meios de reduzir os danos causados pelo consumo de drogas, em vez de como punir mais os vendedores. Quem sabe até sobrará tempo para lutar contra a pobreza e não pela prisão dos pobres? Vamos, em fim, nos preocupar com a essência das questões. Mas, só se pararmos de acreditar em gibis.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<iframe allowfullscreen='allowfullscreen' webkitallowfullscreen='webkitallowfullscreen' mozallowfullscreen='mozallowfullscreen' width='320' height='266' src='https://www.youtube.com/embed/yAbtTGZ-cc4?feature=player_embedded' frameborder='0'></iframe></div>
<br />
<br />
<br />Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/08737019399481701916noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6996440552679845576.post-84063921551749952562013-04-01T17:52:00.000-03:002013-04-01T17:52:00.303-03:00Meia Rebeldia<div style="text-align: justify;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-NsPTQBKtp8g/UVHOveFEh8I/AAAAAAAAAC0/ZhVQF4K7ED8/s1600/qa6ca9.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="http://1.bp.blogspot.com/-NsPTQBKtp8g/UVHOveFEh8I/AAAAAAAAAC0/ZhVQF4K7ED8/s320/qa6ca9.jpg" width="250" /></a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<br />
Um dos maiores problemas para o acesso à cultura são os preços exorbitantes. Chico Buarque fez show em Salvador e os ingressos custavam de R$260,00 a R$320,00. Uma sessão de cinema aos sábados, em um Cinema Multiplex, que possui oito salas, não sai por menos que R$22,00. Um monólogo teatral chamado "7 Contos", estrelado por Luiz Miranda, cujos ingressos valiam originalmente sete reais, hoje poderia mudar o nome para "Sete vezes sete contos e mais um pra arredondar". </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O público consumidor, com razão, reclama que está tudo muito caro. Com os valores cobrados, seria muito dispendioso este tipo de lazer. Assim, fica impossível frequentar teatros, cinemas e shows musicais. Só o que resta é beber, para esquecer dos problemas e rir, mesmo sem motivo. A menos que haja um meio pagar menos, algo como a metade, e, pensando bem... até que há! Chama-se meia-entrada! O único problema é que seria preciso ser estudante ou idoso, para ter direito a ela.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O cidadão de classe média que não preenche os requisitos olha mais uma vez a propaganda do evento e reflete sobre o dinheiro que ele rende aos produtores, artistas e anunciantes. Acha que tem algo muito injusto nisto. Como aceitar uns com tanto e outros com tão pouco? Que sociedade é esta em que uns têm Ferraris e ele não pode ver um filminho com a namorada? Que lei é esta que protege os milionários, ostentadores de riquezas e não lhe permite ouvir Chico? É hora de se rebelar. Vou pagar meia, de qualquer jeito! Nasce, então, uma carteira de estudante falsa.</div>
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<br /></div>
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Não há nada de errado em violar uma norma, já que a desigualdade é flagrante. Sem contar que não existe outra alternativa. É a ganância de uma elite, apoiada ou ignorada pelos péssimos governos, a responsável por esta situação. É inexigível de qualquer pessoa normal que deixe de se divertir, para proteger a riqueza de quem já é rico. Além do mais, há coisas muito mais importantes para a polícia perder tempo perseguindo falsidade de carteirinha.</div>
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<br /></div>
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As instâncias de controle devem estar atentas, isto sim, com aquelas pessoas que olham de soslaio para os frequentadores de meios culturais, com suas carteirinhas falsas. Aqueles mesmos que começam a julgar muito injusto só ganharem um salário mínimo, enquanto o cara da fila do teatro recebe 10,20,30 vezes mais. Os mesmos que perguntam que tipo de sociedade é esta em que uns usam celulares, vestem roupas de marca, compram carros do ano e assistem Ivete Sangalo, enquanto eles não podem pensar em pagar meia entrada no cinema. Nem na quarta-feira! </div>
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<br /></div>
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Polícia foi feita para os vagabundos que um dia indagaram a legitimidade desta lei, sempre protegendo os riquinhos de classe média, ostentando suas posses, mas que não lhes permite obter aquele tênis do comercial. É para os malandros que decidiram que é hora de se rebelar e comprar o que queriam, de qualquer jeito. Um grupo de pessoas, cada vez aumentado, pondo em risco toda a sociedade, que culpa a ganância e os maus governos pela solução que encontraram. Afinal de contas, ali nasceu o traficante, ou o ladrão.<br />
<br />
Ps: Para fins desse texto, a sua carteirinha de estudante obtida porque você faz curso de inglês, francês ou academia é tão falsa quanto nota de três reais.<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<iframe allowfullscreen='allowfullscreen' webkitallowfullscreen='webkitallowfullscreen' mozallowfullscreen='mozallowfullscreen' width='320' height='266' src='https://www.youtube.com/embed/ktA86ZcYYRU?feature=player_embedded' frameborder='0'></iframe></div>
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Rafson Ximeneshttp://www.blogger.com/profile/13698874956026700016noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6996440552679845576.post-5682791517766071252013-03-29T22:23:00.000-03:002013-03-29T22:23:07.846-03:00Que tipo de Jornalismo?<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-b56SAJ7foDI/UVYVJ1IE-yI/AAAAAAAAADE/4ujQuB9bkUM/s1600/cqc+genoino.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://2.bp.blogspot.com/-b56SAJ7foDI/UVYVJ1IE-yI/AAAAAAAAADE/4ujQuB9bkUM/s1600/cqc+genoino.jpg" /></a></div>
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<br /></div>
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Em 25 de março, o programa CQC, da Rede Bandeirantes, exibiu quadro, anunciado como a primeira vez em que o Deputado José Genoíno falaria com a sua equipe. O parlamentar foi condenado pelo STF, no julgamento do "mensalão". Como até hoje o acórdão não foi publicado, assumiu o mandato para o qual foi eleito e conquistou vaga na Comissão de Constituição e Justiça. A situação é estranha e um campo rico para um bom jornalista elaborar profundos questionamentos sobre os nossos sistemas jurídico e político.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Por mais interessante que seja o tema, entretanto, ninguém é obrigado a dar entrevistas. Se até mesmo no processo penal, o réu tem direito ao silêncio, imagina quando chamado a dar declarações por um veículo de comunicação. Infelizmente, para a emissora, por alguma razão, o parlamentar não gosta do programa e se recusava a falar com ele. a negativa, todavia, foi contornada de maneira polêmica. O petista foi enganado e entrevistado por uma criança, sem saber que ela atuava para a Tv.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
É muito claro que o garoto foi usado como ferramenta, para violar o direito que todos têm, inclusive os réus ou condenados, mesmo em casos de repercussão. Não foi só anti-ético, foi ilícito, passível de indenização. Algumas pessoas podem argumentar que isto faz parte do papel do jornalismo: investigar e trazer as notícias relevantes. Seria aceitável e até recomendável o uso de subterfúgios, para desnudar fatos relevantes. É uma boa tese, mas para justificar a hipótese analisada, precisava passar por dois filtros: a) O CQC é um programa jornalístico? b) Havia algum interesse público?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Não sou especialista no assunto, mas a própria Rede Bandeirantes, pronunciou-se sobre e respondeu a primeira questão:<span style="font-family: Arial;"><span style="font-size: 14px;"> </span></span><span style="font-family: inherit;">"o CQC é um programa com o foco acentuado no humor, não pretende ofender o público e sim entretê-lo. Mas, como toda atração que trabalha com esse gênero, corre o risco de desagradar algumas pessoas" (<a href="http://portalimprensa.uol.com.br/noticias/brasil/57669/entrevista+do+cqc+com+o+deputado+jose+genoino+gera+polemica+na+internet">veja aqui </a></span>). Logo, trata-se de um humorístico. A função social do jornalismo, portanto, não o protege.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Entretanto, ainda que fosse uma atividade de imprensa, qual seria o interesse público ou a denúncia apresentada? Para descobrir, é recomendável analisar as perguntas feitas pelo comediante: </div>
<div style="text-align: justify;">
1) Você veio aqui se esconder, porque lá na prisão é pior, tem menos bandidos, é mais fácil? </div>
<div style="text-align: justify;">
2) Tá fazendo voto de silêncio? Vai ser bom na prisão, lá X9 se ferra. </div>
<div style="text-align: justify;">
3) O senhor não está chateado porque o Maluf não foi preso, condenado e o senhor tá aí? </div>
<div style="text-align: justify;">
4) Genoíno, você vai passar aonde o revellion? Na Papuda? Já sabe qual prisão? </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Nada é investigado. Nenhum fato novo é apresentado. É bastante impróprio igualar isto a uma matéria em que, disfarçado, um jornalista comprova a existência de um esquema de propinas em cartórios, com a participação da polícia ( <a href="http://www.correio24horas.com.br/noticias/detalhes/detalhes-4/artigo/camera-flagra-servidores-recebendo-propina-para-agilizar-processo/">leia aqui</a>). Neste caso, a microcâmera é um meio para desvendar uma rede de crimes e, quem sabe, iniciar uma apuração pela justiça. Naquele, o uso da criança para ludibriar Genoíno era um fim em si mesmo. Tinha como única intenção escarnecer dele.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O que programa da Bandeirantes fez pode ser comparado a outro tipo de utilização da Televisão, que também se diz jornalismo e tenta ser engraçado, mas tem o mesmo propósito: constranger e humilhar. A emissora conhece bem o assunto, porque, na sua filial baiana, demitiu uma funcionária que fez o mesmo tipo de perguntas. Ela somente não tinha a mesma fama e nem atraía tantos patrocinadores. Falar a um condenado que "na prisão X9 se ferra" não é muito diferente de rir de uma pessoa presa, porque ela não sabe falar "próstata" ( <a href="http://www.cartacapital.com.br/sociedade/ministerio-publico-entra-com-acao-contra-reporter-da-band/">detalhes aqui</a> ). As duas práticas são iguais e inaceitáveis.</div>
Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/08737019399481701916noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6996440552679845576.post-76252930342212868122013-03-23T16:52:00.000-03:002013-03-26T13:32:51.214-03:00Conluios<div style="text-align: justify;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-sEDNbFLhs0U/UU4C0o05ysI/AAAAAAAAAT8/deWFvAiH7YQ/s1600/bin%C3%B3culo.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://1.bp.blogspot.com/-sEDNbFLhs0U/UU4C0o05ysI/AAAAAAAAAT8/deWFvAiH7YQ/s1600/bin%C3%B3culo.jpg" /></a></div>
<br />
Joaquim Barbosa, durante sessão do Conselho Nacional de Justiça, afirmou que não havia nada mais pernicioso que o conluio entre juízes e advogados. Em resposta, o desembargador Tourinho Neto disse que não via nada demais na amizade dos julgadores e os causídicos. Lembrou que ele mesmo, quando magistrado no interior, bebia na casa de um ou de outro. Como o diálogo aconteceu durante julgamento de suposto caso de corrupção, presume-se que"conluio" não foi usado no mesmo sentido pelos dois. O segundo falava de relações fraternais, enquanto o primeiro de relações escusas.</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Todos os juízes têm amigos advogados. Preocupante seria se não tivessem. Eu teria muito medo se soubesse que o meu problema seria julgado por alguém que, após 05 anos de faculdade de direito, não se dá bem com ninguém que virou advogado. Alguma coisa estaria errada em tamanha dificuldade de convívio. Logo, exigir o isolamento absoluto seria absurdo e impossível.</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Isto não significa, entretanto, que seja natural o juiz do interior sair "bebendo na casa de um ou de outro", especialmente porque, em regra, conheceu a cidade e os advogados referidos, apenas por exercer o cargo. Ou o julgador é tão cego e vaidoso quanto o jogador de futebol que, cortejado pelas mulheres mais belas, pensa que fica mais lindo a cada gol, ou percebe que o assédio aumenta em razão da busca por influência nas decisões. Sob esta ótica, Barbosa teria certa dose de razão.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O Ministro esquece, todavia, que existe, quase sempre, uma amizade muito mais intensa que esta, também iniciada exatamente em função dos cargos que as partes ocupam. Sugiro que se pesquise, nas comarcas do interior, como as citadas pelo desembargador, quem é o melhor amigo do juiz. Não será nenhuma surpresa se em mais da metade delas a resposta seja a mesma: o promotor.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Normalmente, quem sussurra no pé do ouvido do juiz, até porque senta do lado dele, é o membro do Ministério Público. Quem almoça, viaja junto, bebe, liga para o telefone pessoal, toma cafezinho no gabinete e até divide casa com o magistrado não costuma ser o advogado. É muito mais comum, portanto, a influência nos bastidores, sem a outra parte saber, ser exercida por procuradores da república, como Barbosa sempre foi, do que por advogados.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Talvez, ele esqueça esse detalhe porque, apaixonado pela sua carreira de origem, alimente o delírio de que no Ministério Público todos são honestos, bem intencionados e, acima de tudo, justos. Assim, jamais tentariam influenciar malevolamente uma decisão, porém, apenas fazer justiça. Em resumo, como um lado representa "o bem", não tem problema. Superada a ingenuidade e o maniqueísmo infantis, aprendemos a duvidar da bondade dos (que se acham) bons e a perceber que nem todos os males são feitos com más intenções. Além de notar que intenções escusas são encontradas entre advogados, entre juízes, entre defensores públicos, e, também, entre membros do Ministério Público.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Então, chegamos à segunda interpretação de conluio: não mais a mera influência de bastidores, mas a influência por corrupção. O Presidente do Supremo, talvez, identifique a compra de sentenças como o que há de mais pernicioso na justiça brasileira. Antes de mais nada, é preciso reconhecer que existem, sim, decisões suspeitas. Elas podem ser vislumbradas de maneira mais fácil do que se imagina. Pensemos, por exemplo, em decisões liminares, autorizando que construtoras procedam a derrubada de árvores, negada pelos órgãos ambientais, proferidas na véspera de um feriado. Antes mesmo que o Estado saiba e possa recorrer, a vegetação vai embora e se perde o objeto. Melhor apurar casos como esse que apontar o dedo indistintamente.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O erro de Barbosa é generalizar suspeitas, fazendo parecer que todos ou a maioria dos juízes e advogados são desonestos. Este caminho é fácil porque, em erro primário, repetimos que o grande problema de tudo é a "impunidade" e os "níveis alarmantes" de desvios. Segundo este pensamento simplista, a solução para tudo seria mais penas e penas mais severas. O herói seria aquele que parece mais duro e intransigente na luta contra os malvados. O maior legado que Joaquim Barbosa e Eliana Calmon poderiam deixar para a justiça brasileira seria o aprendizado, pelos juízes, de como é inadequado um julgador tendente à acusação.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Desta forma, seguimos nos limitando à caça de problemas conjunturais e esquecendo completamente a estrutura. O que há de mais pernicioso na justiça não são as amizades, nem os casos de corrupção. Muito piores são a estrutura ritualística, que faz do processo um labirinto. São as vestes que transformam os juristas em semi-deuses. É a linguagem pernóstica (que não tem nada a ver com técnica) que torna os conteúdos das decisões e das petições enigmáticas. É, principalmente, a distância entre a justiça e os pobres, que gera a incompreensão das suas famílias pobres, suas casas pobres, suas ocupações pobres, seus vocabulários pobres, suas educações pobres, suas aspirações pobres, suas perspectivas pobres para o futuro e as soluções pobres que precisam encontrar para suas tragédias. O que temos de pernicioso não é um sistema de justiça corrupto e sim um sistema de justiça elitista.<br />
</div>
<div style="text-align: justify;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<iframe allowfullscreen='allowfullscreen' webkitallowfullscreen='webkitallowfullscreen' mozallowfullscreen='mozallowfullscreen' width='320' height='266' src='https://www.youtube.com/embed/m1QOGybRmkQ?feature=player_embedded' frameborder='0'></iframe></div>
<br /></div>
<br />Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/08737019399481701916noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-6996440552679845576.post-30575046197562228812013-03-18T17:00:00.000-03:002013-03-18T17:00:01.839-03:00Não Insista!<div style="text-align: justify;">
A loja estava aberta. E prosperava. Naquele momento, um policial fardado deixava o recinto, levando a sua mercadoria. O dono se orgulhava de ter excelentes relações com diversas autoridades: citava o promotor mais antigo da cidade, citava o prefeito, ex-prefeitos, deputados federais e estaduais, muita gente importante.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O cliente esperava na fila e não podia deixar de ouvir a conversa. Agora, tratavam do aumento da bandidagem. Era uma consequência da degradação moral, da ausência de família, da falta de religiosidade e, principalmente, das pessoas, cada vez mais vagabundas. Não havia mais respeito. Tudo era agravado pela impunidade.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
As soluções eram claras: redução da maioridade, penas maiores e mais aflitivas, o fim das benesses que os acusados possuem. A lei era feita para que ninguém fosse punido. Era necessário, também, a internação compulsória dos drogados, grande chaga social. Se bem que o melhor era a prisão mesmo. Para traficante, pena de morte, pois era o pior vilão do século XXI.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O importante, diziam, era garantir a paz dos cidadãos de bem, cumpridores da lei, respeitadores da ordem. O proprietário se queixava por terem tirado dele o direito de se defender. Os honestos não podem usar armas, mas os marginais, sim. Fazia o possível para garantir a incolumidade do seu comércio. Para tanto, instalou câmeras, com a função de identificar os elementos que quisessem furtá-lo.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Explicava, com muita ênfase, que degenerados tinham o hábito de fazer pequenos desfalques. Surrupiavam pequenos objetos, enquanto ninguém via. Um único bem daquela espécie tem pequeno valor e parece insignificante, contudo, a soma dos desvios seria absurda e impediria o bom funcionamento da economia. Os vídeos, assim, evitavam esta tragédia, além de garantir o castigo dos safados.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Ao chegar à caixa, o cliente notou um cartaz colado à parede. Talvez, pudesse até ser visto por uma das câmeras. Certamente, foi notado também pelo policial que deixara o recinto, assim como pelos clientes célebres citados pelo proprietário. Era uma advertência, em letras garrafais, aos clientes da loja, para evitar aborrecimentos.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
NÃO EMITIMOS NOTAS FISCAIS.</div>
<div style="text-align: justify;">
NÃO INSISTA!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Curioso, o cliente, fez-se de desentendido e pediu a nota fiscal. Para testar. Foi-lhe apontado o aviso, sem a necessidade de mais nenhuma palavra. A regra era clara e fixada previamente.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Pôde, então, respirar tranquilo. Esta é a vantagem dos cidadãos de bem: sempre respeitam as normas.</div>
<br />
<br />
<iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="270" src="http://www.youtube.com/embed/KyOVJGM0KSI" width="480"></iframe>Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/08737019399481701916noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6996440552679845576.post-49667496984299676652013-03-11T17:00:00.000-03:002013-03-11T17:00:00.669-03:00O Calendário de 1938Revendo petições antigas, elaboradas em outros tempos, quando trabalhava em outro local, encontrei esta. Talvez, seja um resumo do problema da mecanização da justiça. Talvez, seja um problema da sobrecarga de quem trabalha com ela. Talvez, seja um problema de falta de sensibilidade. Seja como for, é algo a se refletir.<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-OE8CkNWHpC4/UTHpwBpSckI/AAAAAAAAACU/xJesl_JxnpI/s1600/calend%C3%A1rio.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://4.bp.blogspot.com/-OE8CkNWHpC4/UTHpwBpSckI/AAAAAAAAACU/xJesl_JxnpI/s1600/calend%C3%A1rio.jpg" /></a></div>
<br />
<br />
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<b><span style="font-size: 11.0pt; line-height: 150%;">EXMO(A) SR(A). DR(A). JUIZ DA...<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<u><span style="font-size: 11.0pt; line-height: 150%;"><b>******</b>, já qualificado nos autos do processo *****,</span></u><span style="font-size: 11.0pt; line-height: 150%;"> por intermédio do Defensor Público infrafirmado, vem, respeitosamente, manifestar-se em relação ao despacho de f.15, determinando a manifestação de interesse no feito, em 48 horas, sob pena de extinção.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<b><span style="font-size: 11.0pt; line-height: 150%;">1. Interesse no Feito.<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 11.0pt; line-height: 150%;">A parte autora jamais
procurou a Defensoria para informar que desistia, de modo que, presume-se que
permanece interessado no feito.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<b><span style="font-size: 11.0pt; line-height: 150%;">2. Paralização do processo por 05 anos, para provar que um ano
foi bissexto.<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 11.0pt; line-height: 150%;">O presente processo
começou a tramitar em ****. Em síntese, o autor alega que sua
certidão de nascimento informa que ele nasceu em 29 de fevereiro de 1938,
quando ele, na verdade, nasceu em 28 de fevereiro de 1938. <b>Diz ainda que em 1938 nem sequer
houve o dia 29 de fevereiro</b>.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 11.0pt; line-height: 150%;">10 meses depois, abriu-se vistas ao MP. <b>O <i>parquet</i> pediu para que aparte autora provasse que no ano de 1938
não existiu o dia 29 de fevereiro “trazendo, aos autos, o Calendário do ano de
1938”</b>(f.06).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 11.0pt; line-height: 150%;">Por incrível que pareça,
a Exma Juíza deferiu o pleito (f.07), em ***** (quando o processo
completara 01 ano).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 11.0pt; line-height: 150%;">Mais 11 meses depois, o processo foi ao MP, sem passar pela Defensoria. O MP
reiterou para que se cumprisse o despacho, provando que o ano de 1938 não foi
bissexto (f.08).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 11.0pt; line-height: 150%;">Em ****,
mais 04 meses depois (02 anos e 03 meses no total), ato ordinatório assinado
pelo escrivão determina que se intime a Defensoria Pública para fazer
a prova (f.09).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 11.0pt; line-height: 150%;">Em ****,
também de forma surpreendente, a Defensoria pediu a suspensão do processo, até a
parte trazer o tal calendário (f.10).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 11.0pt; line-height: 150%;">Em ***, o
processo foi suspenso (f.11).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 11.0pt; line-height: 150%;">O tempo passou e como era
de se esperar, o autor, lavrador idoso e pobre, não encontrou nenhum calendário
de 1938. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 11.0pt; line-height: 150%;">Hoje, 05 anos, 01 mês e
01 dia após a inicial, o kafkiano processo estancou no início, em uma surreal busca
da prova de que um ano não foi bissexto.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 11.0pt; line-height: 150%;">Em tempo, o autor nasceu
em 28 de fevereiro de 1938. Tinha, na época da propositura da ação, *** anos. Hoje, se estiver
vivo, possui *** anos. E todas as instituições estatais que participaram no
processo (Defensoria Pública, Judiciário e Ministério Público) serão
responsáveis, caso ele tenha falecido ou venha a falecer, sem ter o pleito
atendido.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<b><span style="font-size: 11.0pt; line-height: 150%;">3. Paralização do processo por 05 anos, para provar ano é
bissexto.<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 11.0pt; line-height: 150%;">É regra básica do nosso
sistema probatório que o fato notório não depende de prova.<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; line-height: 150%; margin-left: 4.0cm; text-align: justify;">
<b><i><span style="font-size: 11pt; line-height: 150%;">Art. 334.
Não dependem de prova os fatos:<o:p></o:p></span></i></b></div>
<div style="background: white; line-height: 150%; margin-left: 4.0cm; text-align: justify;">
<b><i><span style="font-size: 11pt; line-height: 150%;">I - notórios;<o:p></o:p></span></i></b></div>
<div style="background: white; line-height: 150%; margin-left: 4.0cm; text-align: justify;">
<i><span style="font-size: 11pt; line-height: 150%;">II - afirmados por uma parte e confessados pela
parte contrária;<o:p></o:p></span></i></div>
<div style="background: white; line-height: 150%; margin-left: 4.0cm; text-align: justify;">
<i><span style="font-size: 11pt; line-height: 150%;">III - admitidos, no processo, como
incontroversos;<o:p></o:p></span></i></div>
<div style="background: white; line-height: 150%; margin-left: 4.0cm; text-align: justify;">
<i><span style="font-size: 11pt; line-height: 150%;">IV - em cujo favor milita presunção legal de
existência ou de veracidade.<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-left: 4.0cm; text-align: justify;">
<i><span style="font-size: 11.0pt; line-height: 150%;">(Código de Processo Civil)<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 11.0pt; line-height: 150%;">Como todos nós aprendemos
no primário, só existe o dia 29 de fevereiro, nos anos bissextos. Ele é
consequência do fato de que um ciclo de translação (que marca o ano) dura, na
verdade, 365 dias e 06 horas. Para facilitar o calendário, convencionou-se, que
o ano terminaria em 365 dias, mas de 04 em 04 anos (04 x 06 = 24 horas) haveria
um dia extra, o 29 de fevereiro. Pode parecer que este parágrafo falou de
coisas óbvias, mas, na verdade, falou de coisas notórias.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 11.0pt; line-height: 150%;">Para saber se o ano de
1938 foi ou não bissexto, há várias formas, que prescindem do calendário. A
primeira delas, em tempos de <i>internet</i>,
é pesquisar no <i>Google</i> (sugiro como
chaves de pesquisa as expressões “como saber se um ano é bissexto” ou “1938 foi
bissexto”). Este site, por exemplo, tem um programa só para determinar se qualquer
ano foi bissexto: <a href="http://www.webcalc.com.br/frame.asp?pag=http://www.webcalc.com.br/datas/bissextos.html">http://www.webcalc.com.br/frame.asp?pag=http://www.webcalc.com.br/datas/bissextos.html</a>
<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 11.0pt; line-height: 150%;">Existe também uma fórmula, explicada no primário, que diz serem bissextos os anos divisíveis por 04
(por exemplo, 1936 ou 1940), exceto terminados em centenas, a não ser que
divisíveis por 400 ( por exemplo 2000). É notório que 1938 não é divisível por
04 e não termina em centena divisível por 400.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 11.0pt; line-height: 150%;">Por fim, um método
eficiente, para quem não lembrasse a lição da infância, seria pensar no ano
bissexto mais próximo e ir subtraindo quatro. A
sequência de anos bissextos regressivamente, então, é 2008, 2004, 2000, 1996,
1992, 1988, 1984, 1980, 1976, 1972, 1968, 1964, 1960, 1956, 1952, 1948, 1944,
1940, 1936. O ano de 1938 não está na lista, pelo fato notório de que não é
bissexto.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 11.0pt; line-height: 150%;">Se 1938 não é ano
bissexto, o que é notório, ele não pode ter o dia 29 de fevereiro. Isto também
é notório. Se o registro de nascimento do autor diz que ele nasceu em 29 de
fevereiro de 1938, é evidente que está errado e precisa ser retificado.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 11.0pt; line-height: 150%;">É hipótese, portanto, de
julgamento antecipado da lide, nos termos do artigo 330 do CPC.<o:p></o:p></span></div>
<div style="line-height: 150%; margin-left: 4.0cm; text-align: justify;">
<b><i><span style="background-color: white; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; font-size: 11pt; line-height: 150%;">Art.
330. O juiz conhecerá diretamente do pedido, proferindo sentença</span></i></b><i><span style="background-color: white; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; font-size: 11pt; line-height: 150%;">:<span class="apple-converted-space"> </span><a href="http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/1970-1979/L5925.htm#art330">(Redação
dada pela Lei nº 5.925, de 1º.10.1973)</a><o:p></o:p></span></i></div>
<div style="line-height: 150%; margin-left: 4.0cm; text-align: justify;">
<b><i><span style="background-color: white; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; font-size: 11pt; line-height: 150%;">I -
quando a questão de mérito for unicamente de direito, ou, sendo de direito e de
fato, não houver necessidade de produzir prova em audiência</span></i></b><i><span style="background-color: white; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; font-size: 11pt; line-height: 150%;">; <span class="apple-converted-space"> </span><a href="http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/1970-1979/L5925.htm#art330">(Redação
dada pela Lei nº 5.925, de 1º.10.1973)</a><o:p></o:p></span></i></div>
<div style="line-height: 150%; margin-left: 4.0cm; text-align: justify;">
<i><span style="background-color: white; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; font-size: 11pt; line-height: 150%;">II - quando ocorrer a revelia (art. 319).<span class="apple-converted-space"> </span><a href="http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/1970-1979/L5925.htm#art330">(Redação
dada pela Lei nº 5.925, de 1º.10.1973)</a><o:p></o:p></span></i></div>
<div style="line-height: 150%; margin-left: 4.0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<b><span style="font-size: 11.0pt; line-height: 150%;">4. Idoso. Prioridade
de Tramitação.<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 43.5pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 43.5pt;">
<span style="font-size: 11.0pt; line-height: 150%;">Por outro lado, é necessário
ressaltar que o autor é, se continuar vivo após esses 05 anos, pessoa de 74
anos, conforme comprova o seu documento de identidade acostado aos autos,
fazendo jus à prioridade do Estatuto do Idoso, nos termos abaixo colacionados:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 43.5pt;">
<br /></div>
<div class="MsoBodyTextIndent" style="line-height: 150%; margin-left: 113.25pt; text-align: justify; text-indent: -.75pt;">
<span style="font-size: 11.0pt; line-height: 150%;">“Art. 71 da Lei 10.741/2003: <i>É
assegurada prioridade de tramitação dos processos e procedimentos e na execução
de atos e diligências judiciais em que figure como parte ou interveniente
pessoa com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos, em qualquer
instância.”<o:p></o:p></i></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<b><span style="font-size: 11.0pt; line-height: 150%;">5. Pedidos.<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 11.0pt; line-height: 150%;">Diante do exposto, requer<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 11.0pt; line-height: 150%;">a) a prioridade de tramitação, nos termos do
art. 71 da Lei 10.741/2003;<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 11.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-weight: bold;">b)
o prosseguimento do feito;<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 11.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-weight: bold;">c)
seja o autor dispensado de trazer aos autos o calendário de 1938, pois o fato a
ser provado com ele é notório;<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 11.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-weight: bold;">d)
o julgamento antecipado da lide, nos termos do artigo 330, I, do CPC;<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 11.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-weight: bold;">e)
a retificação do registro do autor, nos termos pedidos na inicial. </span><span style="font-size: 11.0pt; line-height: 150%;"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-pagination: widow-orphan no-line-numbers; text-align: justify; text-autospace: ideograph-numeric; text-indent: 54.75pt;">
<br /></div>
<div class="Recuodecorpodetexto21">
<span lang="PT" style="font-size: 11.0pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT;">Neste Termos. Pede Deferimento.<o:p></o:p></span></div>
<div class="Recuodecorpodetexto21">
<br /></div>
<div class="Recuodecorpodetexto21">
<span lang="PT" style="font-size: 11.0pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT;">********************.<o:p></o:p></span></div>
<div class="Recuodecorpodetexto21" style="text-indent: 0cm;">
<br /></div>
<div class="Recuodecorpodetexto21">
<b><span lang="ES-TRAD" style="font-size: 11.0pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: ES-TRAD;">RAFSON XIMENES<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="Recuodecorpodetexto21">
<span lang="ES-TRAD" style="font-size: 11.0pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: ES-TRAD;">DEFENSOR PÚBLICO </span><span style="font-size: 11.0pt; line-height: 150%;"><o:p></o:p></span></div>
<iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="344" src="http://www.youtube.com/embed/2hr7Uqu6G80" width="459"></iframe>
Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/08737019399481701916noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-6996440552679845576.post-80236947301874694132013-03-04T17:00:00.001-03:002013-03-04T21:06:20.096-03:00O Inferno são os outros. Agora, em garrafas.<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-lbzu1N3UtU8/UTT46Bg0M7I/AAAAAAAAACk/WZCWTfOMvJk/s1600/pateta.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://1.bp.blogspot.com/-lbzu1N3UtU8/UTT46Bg0M7I/AAAAAAAAACk/WZCWTfOMvJk/s1600/pateta.jpg" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Varonil chegou apressado, mas se tranquilizou ao olhar o relógio. Embora o coro lá estivesse há um bom tempo, ensaiando para a abertura, cumpria o horário. Felizmente, o estacionamento era adequado para a grandiosidade da celebração. Existiam cerca de 400 automóveis no local, o que já era esperado, pois o público e os organizadores, juntos, somavam quase 500 pessoas.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Pensou na importância de se verificar antecipadamente o espaço destinado aos veículos. Hoje, qualquer empresa ou instituição que se preze precisa tomar certos cuidados. Na sua antiga faculdade, por exemplo, reinava o caos. Os estudantes eram obrigados a chegar bem mais cedo, ou a se arriscar, parando o carro muito longe. Imprudência da direção, afinal, onde existem 600 docentes, não podem haver apenas 300 vagas. Não é óbvio que 300 sempre sobrarão?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Nem tudo são flores, todavia. Se no estacionamento, os organizadores foram muito felizes, em outros aspectos foram deploráveis. O horário foi completamente inadequado. Plena hora do <i>rush</i>! É impossível chegar em qualquer lugar, sem se estressar. É até mais rápido ir a pé. O pior de tudo é olhar o velocímetro e notar que a máquina projetada para atingir 250 quilômetros por hora não consegue passar de 20! Pelo menos, não há risco de multas, que seriam inevitáveis, uma vez que, no país, não existe nenhuma via que admita aquela velocidade.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Mais sorte teve o Otávio. Pelo menos, desta frustração se livrou. Com o carro na revisão, saiu com o da esposa, que tem o motor 1.0. Porém, esta vantagem não é reconhecida por ele. Além de lamentar o preço cobrado, sente-se meio exposto e envergonhado, em um carro pequeno. Preferia pegar emprestado o que comprou para o filho, quando ele completou 18 anos. Mais potente, maior e mais másculo. O que se chama de "carro de patrão"! Contudo, o menino precisava dele para ir à academia. E, hoje, especificamente, não poderia pegar carona com a irmã, pois pretendia caminhar 30 minutos a mais, na esteira.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Durante a viagem, esforçava-se para esquecer o vexame. Era melhor se concentrar na estratégia de sobrevivência no asfalto que Carlos, outro colega, o ensinara. Consistia em pular de um caminho a outro e dançar entre as faixas, em busca de uma via menos lenta. Há algum tempo, desconfiava que não funcionava bem, quando praticada sem método. Corria o risco de somente aumentar as distâncias, trocando um congestionamento pelo outro. Por isto, ouvia sempre o rádio, à espera dos informes sobre o trânsito, para facilitar.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Érica não pensava do mesmo modo. De que adianta falarem do tráfego se sempre o conteúdo das notícias é o mesmo? Todas as vias estavam engarrafadas, em qualquer horário de qualquer dia. Optava por ouvir música. A mais tranquila possível, pois se escutasse algo agressivo, xingaria todos os outros que estivessem no caminho. Lamentavelmente, sua tática era tão ineficaz quanto a do amigo. Por mais que João Gilberto entrasse pelo seu ouvido, era Metallica o que saía pela sua boca. O barquinho pode até ir, mas quando a tardinha cai, o carrinho está parado. Matem eles todos, pensava.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Desconfiava da razão do problema: Hoje, todo mundo tem carro. O porteiro do prédio dela vai ao trabalho dirigindo. O mestre de obras tem carro. Quando o presidente reduziu o IPI, tudo se agravou. Além dos financiamentos já serem acessíveis, os preços ainda baixaram. Chegava a ser quase uma irresponsabilidade esta política que facilitava a aquisição de automóveis. Apenas não a odiava por completo, porque sem ela não conseguiria comprar o seu segundo veículo. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Lembrou, então, de culpar a faixa exclusiva para ônibus. Era inadmissível que as pistas, já estreitas, possuíssem um espaço reservado para o transporte coletivo. Para piorar, os motoristas invadiam as faixas restantes, tumultuando ainda mais a rua. Logo, devido a esta política, agora sim, sem dúvidas, irresponsável, os ônibus, espertinhos, andam depressa, enquanto os condutores, que pagavam os mesmos impostos, ou mais, são prejudicados. É o bolsa-buzu, puro populismo!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Assim como Érica, Solano também concluíra que o governo favorecia quem andava de ônibus. Ele mesmo, acharia melhor andar de coletivo, entretanto, todos sabem que isto é impossível nos dias de hoje! É verdade que a maior parte da população não possui carro, mas, convenhamos, não dá para comparar. Cada extrato social tem as suas peculiaridades e é capacitado para sobreviver a situações diversas. Pobre suporta ônibus. A classe média suporta os engarrafamentos. Assim como peixe nada, cachorro anda e ave voa. Sorte dos ricos, que usam helicópteros.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
E ainda tem a questão da segurança. Quem tem coragem de andar na rua? Vejam as calçadas, totalmente desertas! Como todos acompanham os jornais, todos sabem que, ao sair a pé, você corre o risco, aliás, quase uma certeza, de ser assaltado e sequestrado. Isto se não for estuprado e assassinado, em plena luz do dia. Os bandidos são muito ruins. Mesmo que a violência sexual e morte não ocorram, será muito difícil seguir a vida sem aquela nota de cinquenta que estava no bolso. Ou, pior ainda, sem o celular. São perdas irreparáveis. Como todos são prevenidos, todos ficam nos carros. Se todos estão nos carros, ninguém está na rua. Só caminham por aí o medo e os marginais.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Os amigos se encontram, felizes por terem comprado seus carros e mais ainda por serem visto com eles, mas infelizes sempre que os usam anonimamente. Contrariando as expectativas, ainda têm um tempinho para conversar, antes do início das atividades. Em frente ao espelho do saguão, apontavam, irritados, justificativas para os seus terríveis dramas existenciais. Após as reclamações de praxe, alguém pergunta como estava aquele rapaz que deixara a firma, há alguns anos. Solano rindo, comentou que ele, agora, usava uma bicicleta para ir ao trabalho.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Varonil estalou a língua, sucessivamente, no céu da boca. </div>
<div style="text-align: justify;">
Otávio balançou a cabeça, com desprezo. </div>
<div style="text-align: justify;">
Carlos mirou o céu, enfadado. </div>
<div style="text-align: justify;">
Érica se repreendeu, mentalmente, por ter se envolvido em um breve romance com ele.</div>
<div style="text-align: justify;">
Solano teve a honra de finalizar o assunto, com a unânime e entusiástica aprovação dos demais:</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Paciência, companheiros. A esta altura, o pé deve ter se transformado em um grande calo. E ele pensa, seguramente, que é um monarca, como Luis XVI, ou até Napoleão. Não percamos tempo com malucos.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="344" src="http://www.youtube.com/embed/fHUWzzYqTk8" width="459"></iframe>
<iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="344" src="http://www.youtube.com/embed/VmqmBj6DnOc" width="459"></iframe>Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/08737019399481701916noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6996440552679845576.post-29061288308168674672013-03-02T07:56:00.002-03:002013-03-02T07:56:57.244-03:00Ócio Criativo<br />
Há alguns anos, as mulheres não trabalhavam. Hoje, trabalham. O percentual da população economicamente ativa, então, dobrou, certo?<br />
<br />
Há alguns anos, não dispunhamos de muitas inovações tecnológicas que auxiliam o trabalho de hoje. A produtividade de cada pessoa economicamente ativa, então, expandiu-se, certo?<br />
<br />
Há alguns anos, a jornada de trabalho era de 08 horas diárias e as férias de 30 dias. Hoje, com maior proporção da população economicamente ativa e com maior produtividade por pessoa, todavia, nada mudou.<br />
<br />
Não dá para intuir que alguma coisa não fecha nesta equação?<br />
<br />
E apesar da contradição ser tão clara, vemos tantos empregados, quase que com fanatismo religioso, apontando como problemas sociais o "excesso de feriados", ou a "preguiça" (dos outros), que trabalhariam muito pouco.<br />
<br />
Acho que alguém ganha com isto.<b> E não é você.</b><br />
<br />
" A cultura americana usou os docentes de administração como a cultura cristã usou os pregadores, os missionários".<br />
<br />
<br />
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Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/08737019399481701916noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6996440552679845576.post-39275428919023244002013-01-02T16:26:00.000-03:002013-01-02T16:26:00.499-03:00João Grilo e as Simbologias dos Tribunais.<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-2YwN1FDGrlY/UNeGaeoxHII/AAAAAAAAACE/g6hwu4XYWVA/s1600/jo%C3%A3o+grilo.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://4.bp.blogspot.com/-2YwN1FDGrlY/UNeGaeoxHII/AAAAAAAAACE/g6hwu4XYWVA/s1600/jo%C3%A3o+grilo.jpg" /></a></div>
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Uma das maiores obras da literatura, O Auto da Compadecida, de Ariano Suassuna, escrito originalmente para o teatro, ganhou diversas versões, para o cinema e a televisão. É uma obra, muito engraçada, que aborda as peripécias de dois pobres sertanejos, João Grilo e Chicó, tentando sobreviver com esperteza, em meio à pobreza geral à sua volta. O clímax acontece quando alguns dos personagens são julgados, por Deus. Além de risos, pode provocar reflexões. </div>
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O filme, como de regra, faz com que nos identifiquemos e torçamos para os protagonistas. Assim, tudo é retratado pela ótica deles, inclusive o julgamento. E aí, começam os choques, para o público médio consumidor de cinema, literatura e até mesmo de seriados sobre crimes. Normalmente, a persecução penal é tratada com a visão da classe média ou da classe alta. No Auto, por sua vez, é imaginado um processo desejado pelo pobre, que, normalmente, é o réu.</div>
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Logo de início, a primeira diferença com o imaginário comum. O acusador é o diabo. A defesa é feita por Maria, a mãe de Jesus. Estamos acostumados a tratar os promotores como heróis, justos e corajosos e os advogados como corruptos, mentirosos. Mas, aqui, a lógica é invertida, brutalmente. Para não deixar dúvidas, João Grilo chega a constatar que o demônio é uma mistura de tudo o que ele não gosta: "promotor, sacristão, cachorro e soldado de polícia".</div>
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Evidentemente, a obra não afirma que promotores e policiais são o retrato do mal, nem que defensores são santos. Mas, diz, sim, que na perspectiva de uma parcela considerável da sociedade, os primeiros são temidos. Não há, no filme, ou no livro, nenhuma sugestão de que João Grilo seja um réu habitual, portanto, esta parcela não é composta apenas por "presos" ou "criminosos", mas, sim, pelos pobres. Quem se sente ameaçado pela justiça seletiva sabe que muitas prisões são violentas, abusivas e que os acusadores podem ser muito cruéis e insensíveis aos seus problemas. E todo o pobre sabe que é um potencial alvo.</div>
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O acusador também não parece nada imparcial. É nítido que ele faz o possível para obter a condenação, mesmo esquecendo alguns princípios básicos de direito penal. Por exemplo, o diabo tenta aplicar a sanção e levar os réus ao inferno, mesmo sem julgamento. Lembra muito a prisão provisória. Depois, não se incomoda com o fato de que eles não tiveram "defesa técnica", até quando João Grilo convoca Maria para falar por eles. Na ótica dos pobres, não existe a figura do "fiscal da lei", neutro, praticamente um segundo juiz, que filmes, matérias sobre o crime e juristas ingênuos ou cínicos atribuem ao Ministério Público.</div>
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Aí, entra uma outra inversão muito significativa. Ao contrário do que acontece nos nossos tribunais, é a advogada de defesa, ou Defensora Pública, Maria, quem se posta no alto, ao lado do julgador. O acusador está lá embaixo, afastado. A troca de posições é importante para entender a reclamação quanto a geografia das salas de audiência, com promotores coladinhos aos juízes. O magistrado mantém, na estrutura do filme, uma notória cumplicidade com a defesa, enquanto trata a acusação de modo irônico, depreciativo e desconfiado. Em diversos momentos, antes de decidir, pergunta se a solução satisfaz Maria. Não é preciso muita experiência forense, para notar como a nossa prática é exatamente oposta.</div>
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Há ainda outros sinais de como seria diferente um julgamento, construído pela perspectiva dos pobres: o juiz é negro, já condenado e pobre. É capaz de se por na posição dos réus. Assim, Suassuna demonstra como o sistema judicial é composto de vários elementos, que criam um ambiente hostil aos réus e à defesa. E mostra, principalmente, que esta hostilidade se esconde tão bem atrás de togas, paletós, costumes, tradições, palavreados vazios, que é, cotidianamente, ignorada e reproduzida. Mais que isto, aqueles que a denunciam são considerados chatos e impertinentes.<br />
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<iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="270" src="http://www.youtube.com/embed/y1MLp5s2Q_Q" width="480"></iframe>Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/08737019399481701916noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6996440552679845576.post-49604966034579177972013-01-01T11:03:00.001-03:002013-01-01T11:03:05.058-03:00Feliz Ano Novo!<iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="270" src="http://www.youtube.com/embed/0jTg-t2y21c" width="480"></iframe>Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/08737019399481701916noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6996440552679845576.post-89985500903511193122012-12-20T10:58:00.002-03:002015-02-23T09:24:22.142-03:00Interesse Público em Privar os Pobres<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-gEUW78dqmcM/UNMXLklqWAI/AAAAAAAAAB0/4i2SStiCa2c/s1600/pobreza.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://1.bp.blogspot.com/-gEUW78dqmcM/UNMXLklqWAI/AAAAAAAAAB0/4i2SStiCa2c/s1600/pobreza.jpg" /></a></div>
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Existe uma unanimidade entre os problemas relacionados à justiça, no Brasil: a precariedade das Defensorias Públicas, que não conseguem se espalhar por todo o território nacional. É indiscutível o fato de que a maioria da população pobre não possui, literalmente, defesa alguma. Não tem para quem recorrer, pois não existe nenhum defensor, na sua cidade. Na Bahia, por exemplo, 89% das comarcas estão nesta situação. Mesmo onde existem profissionais, o número é extremamente reduzido e o atendimento, por isto, de difícil acesso.</div>
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Defensores públicos, assim como juízes e promotores não nascem em árvores. São selecionados, através de concursos, que necessitam de previsão orçamentária. O pagamento dos seus salários também precisa estar definido no orçamento. É público e notório que os promotores e juízes são melhor remunerados que os defensores. Em alguns estados, recebem mais que o dobro. Entretanto, curiosamente, os mesmos recursos estaduais, quando divididos, permitem entupir as cidades de julgadores e acusadores, que custam mais caro. Só falta dinheiro para contratar quem vai ficar do lado dos pobres, que custa mais barato.</div>
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As oposições de momento, sejam de que partido forem, sempre bradam contra esse quadro e denunciam o abandono aos carentes. Os governistas de momento, sejam de que partido forem, lamentam bastante e explicam que não podem fazer nada, em virtude da lei de responsabilidade fiscal (LC 101). É que esta norma fixa o valor máximo que pode ser gasto com pessoal. O do judiciário é de 6%, o do Ministério Público é de 2%. O da defensoria não é especificado. Entra na conta do poder executivo. Na Bahia e na maioria dos estados, na prática, não chega a 0,5%. Assim, eles nunca podem dar mais dinheiro para contratar defensores, pois ultrapassariam o seu limite. <b>Eis o motivo declarado</b>.</div>
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Em 19 de novembro, o Congresso Nacional aprovou uma alteração na lei de responsabilidade fiscal, para acabar com esse quadro (PLP 114). Pela nova lei, o limite da defensoria seria de 2%, igual ao limite do Ministério Público. Deste modo, não haveria mais razão para os pobres continuarem sem defesa em quase todo o território nacional. Os governadores poderiam, sem receio, estruturar as defensorias públicas dos seus estados. O povo passaria a ter direito a ter direitos.<b> Seria o fim, definitivo desse mal, reconhecido por unanimidade, lembre-se.</b> O problema é que, mais cedo ou mais tarde, discursos hipócritas terminam sendo desmascarados.</div>
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Um projeto de lei, após ser aprovado, precisa da sanção do(a) presidente, para, finalmente, entrar em vigor. Enquanto defensores comemoravam a aprovação no congresso e davam como certa a sanção, fazendo planos de preenchimento dos os cargos, nos próximos anos, no planalto, o silêncio imperava. Silêncio para fora. Por dentro, governadores, aqueles que lamentavam que a lei de responsabilidade fiscal os impedia de estruturar as defensorias, algo tão necessário e tão aflitivo, falavam e pressionavam ministros e a presidente. Até que conseguiram o que sempre quiseram.<b> O projeto foi vetado</b> ( mensagem 581 de 19 de dezembro de 2012).</div>
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Assim, a presidente da república, atendendo a pedidos dos governadores, escancarou a realidade. <b>As defensorias públicas não são estruturadas única e exclusivamente porque os governantes não querem estruturá-las.</b> Não é falta de recursos, pois se fosse, Ministério Público e Judiciário sofreriam o mesmo. Não é impossibilidade por conta da responsabilidade fiscal, pois se fosse, o projeto de lei seria um bálsamo e não algo a ser vetado. A razão, pura e simples, é: <b>os governos não se importam nem um pouco com a população pobre, a não ser na hora das eleições</b>.</div>
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As habituais <b>palavras benevolentes de lamento pela situação</b> são mais falsas que notas de 3 reais. E partem do pressuposto de que todos são tão estúpidos para acreditar nelas, que <b>até no veto, a presidente as usa</b>. Nas palavras de Dilma Rousseff, na mensagem de veto 581: " Assim, ainda que meritória a intenção do projeto de valorizar as defensorias públicas, a restrição do limite de gasto do Poder Executivo Estadual ensejaria sérias dificuldades para as finanças subnacionais." Antes, disse que agia assim, porque o projeto de estruturar as defensorias contrariava o interesse público. Faltou apenas esclarecer a que público se referia.</div>
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<a href="http://www.avaaz.org/po/petition/Derrubar_o_veto_de_Dilma_a_regulamentacao_da_autonomia_da_Defensoria_Publica_2/?feBqOdb&pv=9">PARA ASSINAR PETIÇÃO ONLINE E AJUDAR A DERRUBAR O VETO, CLIQUE AQUI.</a><br />
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